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terça-feira, 20 de maio de 2014

OS PRINCÍPIOS DA PSICOLOGIA HUMANISTA


A abordagem humanista existencial não é apenas uma teoria psicológica, mas uma filosofia de vida, uma forma particular de compreender a existência humana.
A psicologia humanista é um ramo da psicologia em geral, e da psicoterapia em particular, considerada como a terceira via, ao lado da psicanálise e da terapia comportamental. A psicologia humanista surgiu como uma reação ao determinismo dominante nas outras práticas psicoterapêuticas, ensinando que o ser humano possui em si uma força de autorrealização, que conduz o indivíduo ao desenvolvimento de uma personalidade criativa e saudável. Essa força inerente a todo ser humano é muitas vezes, no entanto, impedida por fatores externos de se desenvolver plenamente. A psicologia humanista busca, assim, uma humanização da psique, considerando o homem como um processo em construção, detentor de liberdade e poder de escolha.
Em 1962 foi fundada a AHP (American Association for Humanistic Psychology), Associação Americana de Psicologia Humanista, que se tornou a força impulsionadora do movimento. Filosoficamente baseia-se a psicologia humanista, sobretudo no humanismo, no existencialismo (Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger) bem como na fenomenologia (Edmund Husserl) e na autonomia funcional (Gordon Allport).
O primeiro teórico a desenvolver uma teoria humanista na psicologia foi Abraham Maslow, com sua pirâmide das necessidades. Suas ideias foram recebidas, mais tarde, por Carl Rogers na sua terapia centrada no cliente, assumindo assim um significado prático.
A tese central de Carl Rogers é:
O indivíduo possui possibilidades inimagináveis de compreender-se de modificar os conceitos que tem de si mesmo, suas posturas e seu comportamento; esse potencial pode ser liberado se a pessoa puder ser trazida a uma situação caracterizada por um clima favorável para o desenvolvimento psíquico.
Os transtornos mentais originam-se, assim, através do bloqueamento do desenvolvimento natural do ser humano por fatores externos.
Uma série de autores, que originalmente não pertenciam à psicologia humanista, desenvolveram abordagens que lhe são muito próximas. Entre eles o fundador da logoterapia Viktor E. Frankl, o psicanalista humanista Erich Fromm, e Fritz Perls, fundador da gestaltoterapia.
Pressupostos básicos de todas essas linhas são:
-O ser humano é mais do que a soma de suas partes tomadas individualmente;
-Ele vive em relações interpessoais;
-Ele é um ser consciente e pode desenvolver sua percepção;
-Ele pode decidir-se;
-Ele comporta-se de maneira intencional.
Esta abordagem segue como premissas às ideias de:
1- Consciência: A auto consciência é uma capacidade humana. Quanto mais consciente o sujeito é a respeito de si e do mundo que o cerca, maior liberdade de escolha ele tem. A terapia que se baseia nos preceitos humanistas existenciais prima pela expansão da autoconsciência do cliente, pois isto lhe confere maior liberdade e aumenta suas possibilidades de escolha na vida.
O processo de consciência revela:
- Somos finitos e o tempo para nossa autorrealização é limitado.
- Temos o potencial para nos desenvolver ou escolher não fazê-lo.
- Podemos ver as possibilidades que temos e assim criar nossa vida.
- Reconhecemo-nos como seres distintos dos demais. Estamos basicamente sozinhos, mas precisamos de relações significativas com outros.
- O sentido da vida é uma criação individual.
-A ansiedade é inerente a vida, pois com o aumento de nossas possibilidades de escolha, aumentam também nossas responsabilidades. Além disso, a ansiedade vem em decorrência da incerteza de nosso futuro.
- A consciência também pode nos fazer sentir mais intensamente solidão, ausência de sentido, esvaziamento, culpa e isolamento.
2- Liberdade: O homem é essencialmente livre para fazer as escolhas que quiser na vida. Contudo, com a liberdade de escolha, vem a responsabilidade pelo caminho tomado. “O homem é autodeterminado porque tem a liberdade de escolher entre alternativas. (…) A abordagem existencial coloca, no centro da existência humana, a liberdade, a autodeterminação, a vontade e a decisão.” (Corey, 1986, p.61)
“Não importando a grandeza das forças que fazem dos seres humanos suas vítimas, o homem tem a capacidade de conhecer sua condição de vítima e, assim, de exercer alguma influência sobre o modo pelo qual se relacionará com sua sorte.” (Rollo May, 1961 apud Corey, 1986).
3- Responsabilidade: O existencialismo preconiza que o homem é responsável por sua existência e destino. O sujeito é essencialmente livre e não determinado. Por isso, quando tem determinada atitude não é porque Deus ou o Destino o quis, mas porque ele próprio fez uma escolha e deve arcar com as consequências disto; é sua responsabilidade, não de outrem.
É comum que em terapia os clientes perguntem aos terapeutas o que devem fazer diante de determinadas situações, não é função do terapeuta responder a tais questões; se assim o fizesse, estaria tirando a oportunidade do cliente de fazer suas próprias escolhas e praticar a inevitável responsabilidade por sua vida.
A maior conscientização traz maior liberdade; e a liberdade pressupõe responsabilidades.
4- Autenticidade: Viver autenticamente é estar plenamente consciente do momento presente, escolher a maneira de viver o momento e assumir a responsabilidade da escolha feita. É escolher baseado em si mesmo e não em referenciais externos.
“Nós nos traímos, tornando-nos o que os outros esperam de nós, em vez de confiarmos em nós mesmos, em nossa busca interior, em obter nossas próprias respostas para os conflitos que vivemos. Nosso ser cria raízes no ser dos outros e chegamos a ser estranhos para nós mesmos.” (Corey, 1986, p.63)
5- Fazer escolhas conscientes: A grande dificuldade da escolha é que ela necessariamente implicará numa perda. Quando se opta por X, ao mesmo tempo abre-se mão de R, Y, Z, etc.
Mas aceitar a responsabilidade por nossas escolhas é tomar a rédea da nossa vida nas mãos. Segundo Sartre: “Nós somos nossas escolhas.”
6- Crença no potencial humano: O homem está em constante busca da realização de seu potencial pleno, está o tempo todo se modificando, se atualizando. Para a abordagem humanista existencial, a patologia acontece quando a pessoa fracassa no uso de sua liberdade para atualização de seu potencial individual.
7- Morte como algo positivo: Para os existencialistas, é a consciência da morte que dá sentido à vida. “Se nos fosse dada a eternidade para atualizar nossas potencialidades, não haveria urgência.”
Para os existencialistas o medo da morte e o medo da vida tem total relação. Ou seja, alguém que diz temer a morte na verdade teme a vida, pois pensa: “Não quero morrer, pois não vivi tudo o que poderia ter vivido de forma plena.”
8- Ansiedade (ou angústia) existencial: O ser humano tem que conviver com uma espécie de ansiedade existencial que o afeta em decorrência de sua consciência de liberdade e responsabilidade na vida e também é fruto do saber-se finito, ou seja, da consciência da própria morte.
A ansiedade nem sempre é patológica, pelo contrário, é até muito positiva quando nos ajuda a vislumbrar o futuro e nos impulsiona para a ação.
Além disso, a ansiedade é consequência certa em todas as mudanças. Logo, é inevitável que a pessoa sinta ansiedade quando em processo de terapia. Na terapia, é preciso suportar a ansiedade e não tentar erradicá-la como se fosse algo nocivo, os que assim procedem tem seus benefícios.
Como não existem certezas na vida, a ansiedade estará sempre presente.
9- Culpa existencial: Aparece em decorrência do fracasso do homem em realizar plenamente aquilo que poderia ter sido. Se considerarmos que o homem é fruto de suas escolhas, se este não é tudo aquilo que poderia ser, então é o único responsável por isto, daí advém o sentimento de culpa. E, “na medida em que alguém limita seu vir a ser, torna-se doente.” (Corey, 1986, p.66) Para os existencialistas, a doença ocorreria por conta de uma frustação por um potencial não desenvolvido.
10- Busca de sentido: É inerente a condição humana a busca por um sentido na vida e por valores que a tornem consistente. O sentido da vida deve ser uma criação particular a cada sujeito e não baseado em crenças aprendidas por meio de outros. Todo ser humano busca um sentido na vida e a falta de sentido gera o que os existencialistas denominam de “vazio existencial.” Para os existencialistas a neurose é a perda do sentido do ser.
11- Autorrealização: Para os existencialistas, o homem luta pela auto realização, que é vir a ser tudo o que é capaz. Toda pessoa tem o desejo de tornar-se tudo o que é em potencial, mas para tanto é preciso coragem, determinação, consciência e responsabilidade.
12- Solidão: O homem é essencialmente só (nasce e morre só), mas precisa dos outros, pois é também um ser de relação. Para o existencialismo, a solidão faz parte da condição humana e, para vivenciar com o outro uma relação saudável, só é possível se formos capazes de ficar, antes de tudo, bem conosco mesmos. Uma relação saudável é aquela que une duas pessoas autônomas numa relação de troca e não de dependência ou simbiose.
13- A relação do tipo humanista: Os psicólogos humanistas aceitam a importância da abordagem “pessoa-a-pessoa”, participando ativamente das sessões como pessoas implicadas na relação.
Estes se veem como modelos aos clientes, através de seu estilo de vida e imagem humanista, podem incentivá-los a buscarem toda a expressão de seu próprio potencial.
Nesse tipo de relação o cliente tem voz, podendo expressar livremente suas opiniões e criar seus próprios valores e objetivos.
O trabalho de psicoterapia deve ser dirigido para uma maior liberdade e autonomia do cliente, que não deve ser dependente do terapeuta.
Numa relação humanista, o terapeuta pode atuar da seguinte forma:
- Comunicar ao cliente como este o afeta com sua fala.
- Revelar uma história pessoal sua que tenha a ver com o tema do cliente a fim de ajudá-lo.
- Pedir ao cliente que expresse suas angústias.
- Desafiar o cliente a que perceba como evita a tomada de decisão.
- Pedir para que ele avalie sua evolução na terapia. Por ex: “Se pudesse voltar no tempo e lembrar de si mesmo antes da terapia, o que você fazia antes que faz diferente agora?
É preciso considerar que nessa relação terapeuta-cliente não é apenas o cliente quem muda, mas também o terapeuta!
O diagnóstico não é importante: “O cliente é um companheiro existencial, não um objeto a ser diagnosticado e analisado.”
Numa relação humanista existencial não cabe diagnosticar o cliente, pois não existe a pretensão de ajustar o sujeito à sociedade, muito pelo contrário, o que se quer é que este viva sua autenticidade plenamente.
A psicologia humanista surgiu na década de 50, ganhando força nos anos 60 e 70, como uma reação às ideias psicológicas pré-existentes, o Behaviorismo e a Psicanálise, embora não quisesse revisá-las ou adaptá-las, mas dar uma nova contribuição à psicologia.
As críticas ao comportamentalismo giravam em torno de sua abordagem estreita, artificial e estéril da natureza humana, que reduzia o homem à máquinas e animais propensos ao condicionamento. A divergência à psicanálise se mostrava no questionamento à ênfase no inconsciente, nas questões biológicas e eventos passados, no estudo de pessoas neuróticas e psicóticas e na compartimentalização do indivíduo.
O movimento humanista teve forte influência das filosofias existenciais e da fenomenologia. As convicções e as certezas começam a ruir no século XX, quando a razão começa a entrar em crise devido à existência da corrida armamentista e à pouca contribuição dos avanços tecnológicos na diminuição da desigualdade social no mundo. O existencialismo tem o homem como ponto de partida nos processos de reflexão e a fenomenologia, a consciência do ser sobre algo, a investigação da experiência consciente: o fenômeno. Com Heidegger, filósofo fenomenológico, há um retorno à teoria do conhecimento e das questões ontológicas. O ser e a existência do todo passa a ser a questão central.
O existencialismo fenomenológico, enquanto método apreendido pelo movimento humanista se pauta em três questões:
REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA
Recurso para se chegar ao fenômeno em sua essência, considerando a sua totalidade e visando, deste modo, a incorporação de uma atitude crítica perante o cotidiano. A concordância entre a intuição, que ocorre na imediatez da vivência, e a significação se faz essencial para a aproximação da realidade observada. A busca pela essência do sintoma permite a recapitulação da realidade total, pois somente ela consente o conhecimento dos fatos.
INTENCIONALIDADE
Atribuição de sentido do fenômeno, onde a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo estão unificados. Quando esta fusão ocorre, a totalidade é apreendida e a decisão torna-se um processo consciente e libertador. O sujeito pensante e o objeto pensado tornam-se uno. A intencionalidade só surge após a compreensão da realidade, obtida, por sua vez, pela redução fenomenológica.
SUBJETIVIDADE E INTERSUBJETIVIDADE
O encontro entre a própria subjetividade e a do outro é chamado de intersubjetividade. É ela que, através da pluralidade de constituições de vários sujeitos, dá sentido ao mundo. O acoplamento entre a intra subjetividade e a intersubjetividade é a única forma de efetivação de uma comunicação verdadeira, que faculta a chegada à essência.
É importante frisar que a fenomenologia não visa a explicação do objeto; as coisas, sim, que quando apreendidas, se tornam um momento fenomenológico. A função de sua abordagem é permitir a elaboração de conceitos que expressem adequadamente o fenômeno que se pretende estudar. São estes conceitos que auxiliam a pessoa a como proceder no dia-a-dia, uma vez que a história só é construída à medida que as coisas recebem significados. Logo, embora a realidade exista per si, sofre resignificação no encontro com a realidade íntima de cada um, o que a torna fluída. O processo terapêutico deve, portanto, conectar a experiência interior ao mundo da objetividade.
A grande contribuição desta nova escola pode ser vista na ênfase da experiência consciente, na crença na integralidade entre natureza e a conduta do ser humano, no livre-arbítrio, espontaneidade e poder de criação do indivíduo, e no estudo de tudo que tenha relevância para a condição humana. Somente mediante a perspectiva da totalidade, que a consciência é entendida. Esta, por sua vez, deve ser submetida à temporalidade, impedindo-a de ficar estática e desmistificando a existência de uma realidade pura. Seu valor reside na relação que estabelece entre as realidades. Experienciar o tempo presente como uma totalidade que sinaliza a integração eu-mundo é fundamental para a libertação das exigências compulsivas do passado e futuro.
A aplicação prática dos conceitos da fenomenologia existencial revelará a direção na formulação de uma nova percepção e na solução de problemas por meio de uma mudança consistente. A lógica da mudança passa por passos, partes, totalidade, consciência, intencionalidade e ação - que devem ser trabalhados na terapia.
O otimismo acerca da liberdade e do potencial humano é bastante revelador das crenças do movimento. Para atingi-los, a terapia faz uso da mais alta gama de instrumentos, desde a validação da introspecção e da intuição como fonte preciosa de informação, até a análise da literatura.
A teoria humanista tem como principais teóricos Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers (1902-1987), os maiores responsáveis pela projeção dos seus postulados no mundo. O primeiro, americano, foi considerado o pai espiritual do movimento humanista. Maslow abandona o comportamentalismo, abraçado no início de sua carreira, por passar a acreditar na tendência inata que cada pessoa traz em si para se tornar autorrealizadora. Este seria o nível mais alto da existência humana, onde a realização do potencial de cada indivíduo seria conquistada. A existência de níveis a serem satisfeitos foi proposta por ele através da hierarquia das necessidades. De acordo com Maslow, estas necessidades seriam inatas e deveriam obedecer a uma ordem de saciação, que se encontra representada na pirâmide abaixo. A grande novidade trazida por Maslow, para a psicologia, foram os estudos de pessoas, consideradas por ele, saudáveis, através dos quais formulou suas teorias.
O segundo, também americano, teve o seu trabalho pautado no valor do indivíduo desde o início. Diferentemente do seu contemporâneo, suas visões advieram do tratamento de indivíduos emocionalmente perturbados. Rogers trabalhou com um conceito semelhante ao da autorrealização de Maslow: a existência de uma única motivação avassaladora que se configura na tendência inata que cada pessoa tem de atualizar as capacidades e potenciais do eu, a tendência atualizante. Ele também defendeu a ideia de autoconceito como sendo um padrão organizado e consistente de características percebidas em cada um desde a infância. Na medida em que se acumulam novas experiências, este conceito pode ser reforçado ou ser substituído por novos. Experiências infantis podem ajudar ou prejudicar a auto-atualização, ainda que esta seja inerente ao homem, mas, de forma alguma, são podem ser consideradas determinantes. A capacidade do homem de poder alterar consciente e racionalmente seus pensamentos e comportamentos indesejáveis fornece ao presente um grande peso na formação da personalidade do indivíduo. Para ele, os indivíduos bem ajustados psicologicamente têm autoconceitos realistas, sendo a angústia psicológica advinda do impasse ou desarmonia entre o autoconceito real (o que se é de fato) e o ideal para si (o que se deseja ser). Por isso, Rogers defendia que o cliente deveria determinar o conteúdo e a direção do tratamento, uma vez que este tem dentro de si vastos recursos para o auto entendimento e para alterar o autoconceito. O termo terapia centrada no cliente deriva desta idéia e esta é encarada apenas como um facilitador.
As principais críticas ao movimento são atribuídas ao seu escopo vago e à sua falta de cientificidade, tendo seus próprios expoentes reconhecido a sua não aceitação na filosofia da ciência. Tal fato é notado na pouca porcentagem (1%) destinada à psicologia humanista nos livros da área e, ainda assim, fazendo menção apenas à hierarquia das necessidades de Maslow e à terapia centrada na pessoa de Rogers, embora 15 % dos psicólogos atuantes no mundo tenham adotado tal linha. Outros pontos questionáveis desta teoria são a crença de que sua prática não daria suporte necessário às pessoas com distúrbios mais graves, e a confiança na formulação do autoconceito do cliente durante o seu tratamento. Muitos estudiosos, ainda, não a consideram diferenciada suficientemente da gestalt a ponto de justificar a existência de um nome próprio.
Tudo isso fez com que a psicologia humanista tenha sido considerada pelos seus próprios formuladores apenas uma experiência. Não obstante as críticas, a promoção de métodos terapêuticos que acentuam a autorrealização, a responsabilidade pessoal e a liberdade de escolha, além da consideração do contexto familiar, social e de trabalho em que a pessoa se insere, foram de suma importância na ratificação de mudanças já em curso.
No Brasil, a ditadura era uma realidade, ainda que, no mundo, houvesse grande incentivo à liberdade de escolha. Apesar dos entraves políticos, a influência humanista é sentida aqui quando há, finalmente, o processo de regulamentação da profissão e estabelecimento do curso com a lei 4119 de 27 de agosto de 1962. Neste currículo, já aparece de forma seminal a psicologia humanista.
O psicólogo Carl Rogers, conhecido internacionalmente, veio ao país, mais precisamente ao Rio de Janeiro e Recife, para realizar workshops e difundir suas ideias. Em entrevista à revista Veja em 1977, Rogers cita os principais pontos de sua teoria e afirma, categoricamente, que a abordagem centrada na pessoa é de fácil convivência na democracia.
A grande aceitação da abordagem de Rogers, no Brasil, aconteceu principalmente nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e na Capital Federal, onde vários centros divulgam e formam psicólogos especialistas na abordagem centrada na pessoa.
Através do entendimento dos conceitos primordiais da Psicologia Humanista encontramos os seguintes questionamentos:
Na perspectiva humanista, qual é a visão de sujeito, mundo e suas relações?
Qual é a contribuição da psicologia humanista à psicologia enquanto ciência?
Qual é origem do conhecimento humanista e como ele é produzido?
Como a psicologia humanista percebe o contexto cultural em que o indivíduo se encontra?
Frente à cultura de massa, como fica o poder de escolha do homem?
A autorrealização e auto atualização são uma utopia?
De acordo com alguns autores, a Psicologia Humanista se assemelha muito à Gestalt, não devendo, até mesmo, ser considerada uma escola a parte. Como a comparação entre o Humanismo e a Gestalt é percebida?
Muitos teóricos afirmam que a psicologia humanista não vingou devido à má apropriação de sua teoria por alguns. Como o público leigo pode diferenciar os charlatões dos profissionais sérios?
Os livros de autoajuda teriam alguma relevância no crescimento pessoal para a psicologia humanista ou seria apenas uma manifestação não legitimada por ela?
Como o poder centrado na figura do cliente é em geral visto?
Existe um método específico para cada nível da hierarquia das necessidades alcançado?
Como a saúde é vista pela teoria humanista e que características teria uma pessoa considerada mentalmente saudável de acordo com a visão de Maslow (autorrealizadora) e de Rogers (auto-atualizante)?
Como é o ser terapêutico e como o ambiente é organizado?
A prática é feita com quantos indivíduos?
Qual é a diferença metodológica adotada em práticas individuais e em grupo?
Como as relações éticas são tratadas entre os grupos terapêuticos?
Quais os métodos e técnicas específicas e suas inovações?
Como o humanismo pode se utilizar da terapia online?
Como a ideia de patologia é tratada?
Como alterações bioquímicas são vistas e quais os seus reflexos no consciente humano?
Além da consciência, que outras características são consideradas inatas e/ou específicas da natureza humana (Etologia)?
No Brasil, onde esta teoria é mais bem aceita. Por quê?
Em que segmento (hospitalar, organizacional, educacional, clínica, etc) a teoria humanista é mais aplicada?
Como o humanismo vê o processo de internamento hospitalar?
Como as questões emergenciais (emergências psicológicas) são tratadas?
Como a prática lida com clientes suicidas e homicidas?
Drogas psicodélicas ou medicamentos são encarados como aliados no processo terapêutico?
Qual é a principal limitação na prática da psicologia humanista?
Qual é a duração média do tratamento. Como justifica?
Como o humanismo vê a influência do meio e da hereditariedade?
Qual a concepção de desenvolvimento para o humanismo?
Como a prática é feita nas diferentes fases de desenvolvimento do indivíduo (etapa de vida)? Existe um estágio a se atingir em cada etapa de vida?
A Psicologia Humanista representa a terceira força em psicologia. Surgiu entre as décadas de 1950 e 1960, como reação e crítica às duas forças anteriores, que na época dominavam o cenário. Não há um fundador ou teórico que iniciou essa abordagem, mas normalmente considera-se Abraham Maslow o pai da Psicologia Humanista, principalmente pelo seu papel como articulador e organizador do movimento. Maslow, junto com Anthony Sutich, foram os principais responsáveis pelo lançamento, nos Estados Unidos, da Revista de Psicologia Humanista em 1961, e pela fundação da Association for Humanistic Psychology, em 1962. Maslow dizia que o Behaviorismo e Psicanálise não se preocupavam com o tema da saúde psicológica e propôs-se a trabalhar nesse sentido. Suas teorias foram construídas pela observação não de pessoas doentes, mas de pessoas com saúde mental acima da média, ou pessoas autorrealizadoras, como ele as denominou. Deve-se destacar ainda o nome de Carl Rogers, com sua Terapia Centrada na Pessoa, um dos grandes colaboradores do movimento humanista, principalmente na fundamentação teórica dessa nova forma de psicologia.
O movimento humanista teve apoio e influência de psicólogos e teóricos de diversas áreas, incluindo as teorias de discípulos dissidentes de Freud, como Adler, Jung, Otto Rank, William Reich e Ferenczi. Teve forte influência da Psicologia da Gestalt alemã, com sua visão holística e organísmica, a ainda das Psicologias Existenciais e da Fenomenologia.
A Psicologia Humanista vê o processo psicoterapêutico como uma técnica de crescimento pessoal ou de desenvolvimento do potencial humano, e não como técnica de tratamento de doenças mentais. Portanto, se você ainda achava que psicólogo é coisa pra louco, saiba que foi o movimento humanista que mudou essa história. Eles passaram a defender a idéia de que a psicoterapia era um processo de autoconhecimento, útil a qualquer pessoa. Deixaram de chamar o paciente de “paciente”, passando a chamá-lo “cliente”. Os humanistas afirmam que as pessoas só podem ser compreendidas como indivíduos. Não se pode conhecer uma pessoa a partir de dados estatísticos da população ou a partir de estudos com animais, uma crítica aos métodos do behaviorismo e da ciência tradicional. E ainda, as pessoas precisam ser compreendidas de forma completa e dentro de seu ambiente natural, e não através de análise de partes do comportamento ou através de experiências em laboratório.
Tom Greening é psicoterapeuta humanista e foi editor da Revista de Psicologia Humanista de 1971 a 2005. Ele descreve os cinco postulados básicos da Psicologia Humanista desta forma:
1) Seres humanos são mais do que a soma de suas partes. Não podem ser reduzidos a partes ou funções que os compõem.
2) Seres humanos só podem ser compreendidos no contexto humano.
3) Seres humanos são conscientes e conscientes de si mesmos.
4) Seres humanos têm livre-arbítrio e responsabilidade por suas escolhas.
5) Seres humanos são intencionais, perseguem objetivos, sabem que podem alterar eventos futuros e estão em busca de sentido, valor e criatividade.
O movimento humanista, em seu início, atraiu todo tipo de contestadores do sistema e logo sofreu críticas de quem o acusava de ser um movimento pouco sério. Também recebe críticas por não se adequar totalmente ao modelo tradicional de ciência, e por seu amplo escopo, que por reunir interesses de diversas correntes de pensamento, pode parecer um pouco mal definido para quem não segue essa abordagem.

A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
Se a terceira força já é criticada pelo seu escopo muito abrangente, aqui ele se torna ainda mais amplo. A quarta força da psicologia é a Psicologia Transpessoal. De modo diferente das outras três, a abordagem transpessoal surgiu como conseqüência da terceira força. É uma ampliação de Psicologia Humanista e não uma crítica a ela. Foram os mesmos Abraham Maslow e Anthony Sutich, articuladores do movimento humanista, os responsáveis por organizar e dar corpo ao movimento transpessoal. O movimento inicia-se em meados da década de 1960. Em 1969 foi criada a Revista de Psicologia Transpessoal e em 1972 funda-se a Association for Transpersonal Psychology.
O movimento transpessoal inicia seu surgimento quando os psicólogos humanistas começaram a observar, em atendimentos clínicos e em trabalhos com grupos, fenômenos que atestavam que o potencial humano era muito maior do que eles inicialmente imaginavam. Havia fenômenos e percepções que as pessoas tinham que não podiam ser explicados pela percepção dos cinco sentidos, pois pareciam estar, além disso. Estranhas sensações de poder e de bem-estar surgiam repentinamente, tanto para o terapeuta quanto para o cliente, quando ambos entravam em contato profundo durante uma sessão de terapia. Nesses momentos, os terapeutas relatavam que de repente não percebiam a barreira entre si e o cliente. Era como se eles fossem apenas um. Nos experimentos com grupos, duas ou mais pessoas sonhavam o mesmo sonho, ou compartilhavam imagens, ou tinham repentinas e profundas experiências interiores que mudavam radicalmente seu modo de ser. Um dos que relataram esses momentos durante a o atendimento terapêutico foi Carl Rogers, o psicólogo humanista, na última fase de seu trabalho, a partir de meados de 1970. Ele descreve esses momentos assim:
Sinto que nos melhores momentos da terapia há um mútuo estado alterado de consciência. Que ambos, de alguma forma, transcendemos um pouquinho o que somos ordinariamente, e que há uma comunicação acontecendo, que nenhum de nós compreende, mas que é muito reflexiva. (Rogers, citado por Wood, 1991, p. 71)
Na tentativa de compreender esses fenômenos da psicoterapia, em que a consciência parece avançar além dos limites do próprio corpo para se harmonizar com a consciência do cliente, alguns psicólogos começaram a encontrar descrições de estados semelhantes em tradições filosóficas orientais, que coincidiam com aquelas experiências de grupos em que pessoas passavam por repentinas e profundas transformações de seu modo de ser.
Começou então a surgir uma nova proposta de psicologia, que incorporava a dimensão espiritual do ser humano, e considerava a existência de níveis de consciência superiores ao nosso nível da normalidade. A Psicologia Transpessoal contou ainda com os pesquisadores que faziam experimentos com drogas psicodélicas (Stanislav Grof, Aldous Huxley), incorporou a nova visão de mundo trazida pela Física Quântica, afirmando que a consciência pode interferir diretamente na realidade, reafirmaram a autorrealização dos humanistas e estes incluíram a noção de auto transcedência, a necessidade de superar a si mesmo enquanto pessoa, para atingir níveis mais elevados de consciência, e daí o nome transpessoal (além do pessoal). Ken Wilber, um dos grandes teóricos da linha transpessoal, em 1977, propôs o modelo que chamou de Espectro da Consciência, em que aponta a existência de diversos níveis de consciência, afirmando que cada abordagem psicológica especializou-se em trabalhar em determinado nível, mas que uma abordagem completa deve considerar todos os níveis. Fundou então a linha que ele denominou Psicologia Integral, talvez a primeira tentativa de fornecer uma compreensão global e não-excludente de todas as abordagens em Psicologia.
A abordagem transpessoal recebe severas críticas dos que a consideram mística, não científica. Há, entretanto, um número crescente de trabalhos, teóricos e práticos, publicados dentro dessa abordagem. A visão transpessoal critica a atitude das três outras forças, que tentam defender a sua visão como única e procura trabalhar de forma a integrar todas as abordagens.
Uma ciência onde o homem busca a compreensão de si mesmo não tem como ter uma definição simples.
Como você pôde perceber, cada corrente de pensamento acaba apresentando sua própria visão de homem e sua própria definição de qual é o objeto de estudo de psicologia.
Pode-se pensar em muitas outras definições, dependendo da abordagem. Os transpessoais poderiam dizer “estudo da consciência em seus diversos níveis”, os humanistas poderiam dizer “estudo do potencial humano” e os psicanalistas poderiam criar algo como “estudo dos mecanismos psíquicos conscientes e inconscientes”. Todos eles dizem algo sobre a psicologia, mas cada um diz apenas uma parte. A definição que encontramos no dicionário, “estudo do comportamento humano ou animal”, cabe perfeitamente para a primeira força, o behaviorismo, mas seria prontamente rejeitada pelos humanistas, que não admitem as experiências em laboratório com animais. Devo dizer também que a outra definição do dicionário, “ciência que trata dos estados e processos mentais”, é a definição geralmente usada pela Psicologia Cognitiva, que é em muitos aspectos uma extensão da Psicologia Comportamental, tanto que atualmente estão em alta as Terapias Cognitivo Comportamentais.
Porém, alguns psicólogos humanistas acabaram de forma inesperada esbarrando em alguns fenômenos anteriormente estudados pela parapsicologia, o que os levou a fundar a Psicologia Transpessoal.
Pesquisa realizada pelo Dr. Josué Campos Macedo