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sábado, 5 de julho de 2014

A PSICOLOGIA CORPORAL DO DR. WILHELM REICH

SÍNTESE BIOGRÁFICA DO DR. WILHELM REICH

“O organismo pode sentir somente o que ele por si mesmo expressa.”

Nasceu em 24 de março de 1897, em Dobrzanica, uma pequena aldeia do distrito de Peremyshliany, no noroeste da Ucrânia (na época o território pertencia ao Império Austro-Húngaro), no seio de uma família abastada de proprietários judeus germanizados. Era filho de Leon e Cäcylie (Roniger) Reich. Pouco depois, a família mudou-se para sul, para a região da Bukovina, onde o pai foi gerir uma grande fazenda em Jujinetz. O jovem Reich foi educado estritamente segundo a cultura alemã e os pais mantiveram-no sempre afastado da população judaica de cultura iídiche. Até aos 13 anos teve sempre professores particulares e depois estudaria no liceu de Czernowitz.
Desde cedo, vivendo na fazenda e em contato direto com a natureza, se interessou pelos fenômenos e funções naturais. Na sua autobiografia de juventude, Passion of Youth, Reich conta que aos quatro anos já sabia o essencial sobre a sexualidade animal e humana, e que nessa tenra idade tentou intimidade erótica com uma criada. Aos onze anos e meio teve a sua primeira cópula, com a cozinheira da casa, que lhe ensinou os movimentos de vaivém do coito.
Em 1909, Cäcylie, durante as frequentes viagens e ausências do seu ciumento e colérico marido, foi seduzida pelo preceptor dos filhos. À noite, o jovem Wilhelm espiava os amantes, chegando mesmo a sentir desejo pela própria mãe. No início de 1910, Leon acabaria por descobrir o adultério, com o involuntário testemunho do aterrado Wilhelm. A partir de então, Leon passou a atormentar e a humilhar impiedosa e diariamente a sua mulher, de tal forma que Cäcylie acabou por se suicidar com veneno, morrendo em 1 de Outubro de 1910, no culminar de uma tragédia familiar de contornos edipianos, que muito traumatizaria Reich e lhe definiria o rumo da sua vida.
Em 1914, cheio de remorsos, o pai contraiu voluntariamente uma pneumonia que degenerou em tuberculose e morreu, deixando o jovem Reich e seu irmão Robert (nascido em 1900), desamparados e a braços com a gestão da fazenda em circunstâncias muito difíceis. Apesar de tudo, Reich prossegue os seus estudos, mas no ano seguinte, no decurso da I Guerra Mundial, a região é invadida pelos Russos e a fazenda é destruída. Reich teve de fugir para Viena, completamente arruinado, onde foi incorporado no exército austríaco, graduando-se como oficial e servindo na frente italiana.
Em 1918, com o final da guerra, Reich regressou a Viena e à vida civil e, ansioso de aprender rapidamente uma profissão que lhe permitisse subsistir, ingressou no curso de Direito, o mais breve de todos, mas depressa se aborreceu e logo se transferiu para a Faculdade de Medicina, onde, aluno sobredotado, e valendo-se do seu estatuto especial de veterano de guerra, completou o curso de seis anos em apenas quatro. Sobrevivia dando explicações aos seus colegas. Em 1919, ao preparar um seminário sobre sexologia conhece Freud e fica bastante impressionado com o seu mestre: "Ao contrário dos outros psicanalistas, Freud não se dava ares e comportava-se com a maior das naturalidades. Os seus movimentos eram ágeis e descontraídos.”.
Formando-se em 1922, inicia seus trabalhos com o tratamento de pacientes com distúrbios mentais, na Universidade Neurológica e Psiquiátrica, junto a Paul Schilder. Inclui no tratamento técnicas de hipnose e de psicoterapia.
Em 1924, faz sua pós-graduação, sendo membro integrante da sociedade psicanalítica de Viena, até 1930.
Foi casado com a sua paciente Annie Reich (que se tornaria psicanalista), de quem se divorciou em 1932, e de quem teve duas filhas, Eva e Lore. Viveu mais tarde com a bailarina Elsa Lindenberg, de quem se separaria ao partir para os E.U.A.. Pouco depois de lá chegar, viveria com a sua assistente Ilse Ollendorf, com quem se casaria e com quem teve um filho, Peter. Mais tarde, divorciar-se-ia de Ilse e teria uma ligação com a bióloga e sua colaboradora, Aurora Karrer, sua última companheira.
Em 1933 é forçado pelo nazismo a sair da Alemanha, mudando-se para Oslo, na Noruega, laborando no Instituto de Psicologia da universidade local. Ali vive até 1939, quando muda-se para Nova Iorque, cuidando de divulgar suas ideias, agora na língua inglesa, tendo seu "A função do orgasmo" sido neste idioma publicado a primeira vez em 1942.
Nos Estados Unidos Reich cria um instituto para o estudo do "orgónio", passando a fazer muitas pesquisas, inclusive para tratamento do câncer, pesquisas essas publicadas em seu livro "A Biopatia do Câncer". Em 1954 passa a ser investigado pela FDA (Federal Food and Drug Administration), que lhe rende um processo e posterior aprisionamento, após infrutíferas tentativas de apelação. Reich não reconhecia outra pessoa na defesa de sua ciência para si.
Encarcerado desde 12 de março de 1957, morre de ataque cardíaco em 3 de novembro.
Foi um discípulo dissidente de Sigmund Freud, propôs a gênese da neurose como consequência dos conflitos de poder que se estabelecem nas relações sociais e suas implicações emocionais e psicológicas.
Reich dava grande ênfase à importância de desenvolver uma livre expressão dos sentimentos sexuais e emocionais dentro do relacionamento amoroso maduro. Reich enfatizou a natureza essencialmente sexual das energias com as quais lidava e descobriu que a energia orgone era bloqueada de forma mais intensa na pélvis.
Embora divergindo de Freud, Reich deste não se apartou, na compreensão de que toda a psique humana deriva da compreensão das funções sexuais.
Suas opiniões radicais a respeito da sexualidade resultaram em consideráveis equívocos e distorções de seu trabalho por autores futuros e, consequentemente, despertaram muitos ataques difamatórios e infundados.
Reich morreu na cadeia totalmente à parte de amigos e familiares e provavelmente enlouquecido. Uma amiga que afirma que conhece a irmã de Wilhelm, e esta afirma que se tornou absolutamente impossível realizar-se uma autópsia no corpo de W. Reich, dadas as condições encontradas. Afirma a irmã de Reich que os "intestinos estavam fora do corpo". Existe a suspeita de envenenamento, o que coloca em discussão a formulação no texto de que ele tenha morrido de ataque cardíaco. Até a mulher dele o abandonou, todos os amigos pessoais chegados dele o abandonaram, dadas as circunstâncias políticas da época, até ser amigo de um "comunista" era perigoso... Segregar alguém a tal ponto numa cadeia é enlouquecê-lo, quase uma sentença de morte.
SUA OBRA MAIS CONHECIDA
A Função do Orgasmo este é o título sua obra mais conhecida expõe conceitos para os quais a psicanálise freudiana não estava preparada.
Nesta obra, Reich aproxima-se, por meio transverso, de ideias menosprezadas pelo meio científico tradicional, falando da existência de uma substância intangível, vital, que batizara de orgone cósmico.
Analisando os efeitos da respiração no ato sexual sobre o indivíduo, Reich chegou à conclusão que seu uso harmonizaria o corpo físico, com implicações na própria mente, normalizando o fluxo de trocas com o meio, pela correta absorção do orgônio.
Reich condenava frontalmente a prática de Yoga, que via como uma tentativa de reprimir os impulsos vitais por meio de técnicas respiratórias, o que impediria a liberação da energia vital e, portanto, a manutenção dos bloqueios psíquicos (causadores das neuroses) e musculares (causadores concorrentes de doenças somáticas).
A Psicanálise, tal como construída pelo seu criador, impunha um quase total engessamento das ideias em torno daquilo que dissera Freud.
Embora acreditasse estar contribuindo para o avanço da teoria psicanalítica (conforme ele aponta em A Função do Orgasmo), as teorizações de Reich a respeito do corpo que culminaram na Vegeto-Terapia e depois sua forte oposição à noção da "Pulsão de Morte" Freudiana gradativamente tiveram o efeito de torná-lo um rebelde dentro do movimento. Como Reich também se envolvia ativamente com a política, e a ordem geral era de que a psicanálise deveria ser uma ciência acima de disputas políticas, Reich acabou sendo finalmente expulso com base nesse argumento. Seus métodos revolucionários não geraram apenas o desconforto da sociedade psicanalítica, mas de diversos lugares por onde passou. Nos Estados Unidos, foi sistematicamente perseguido pelas técnicas e instrumentos de saúde nos quais vinha trabalhando, sendo taxado de "charlatão" e sendo eventualmente preso por conta de acusações da FDA (Food and Drugs Association).

PRINCIPAIS IDEIAS DOS SEUS ESTUDOS
“O homem precisa,primeiro e acima de tudo,matar sua fome e satisfazer seus desejos sexuais.A sociedade moderna torna difícil a primeira e frustra a segunda.”
Reich dava ênfase a importância de desenvolver uma livre expressão dos sentimentos sexuais e emocionais dentro do relacionamento amoroso e maduro. Reich enfatizou a natureza essencialmente sexual das energias com as quais lidava e descobriu que a energia orgone era bloqueada de forma mais intensa na pélvis.
Embora Reich admirasse o trabalho de Freud, se divergiu em alguns fatores e se derivou da psique humana e da compreensão das funções sexuais. Um mestre iluminado, Osho e o irmão de Reich afirmam que Reich morreu na cadeia totalmente a parte de amigos e familiares e provavelmente enlouquecida.
Em seu trabalho sobre Couraça Muscular, Reich descobriu que: A perda da rigidez crônica dos músculos resultava frequentemente em sensações físicas particulares, em sentimentos de calor e frio, formigamento, coceira e uma espécie de despertar emocional.
A mobilização e a descarga de bioenergia são estágios essenciais no processo de excitação sexual e orgasmo.
Reich julgava ser característico de todos os organismos vivos: TENSÃO MECÂNICA: Órgãos sexuais se intumescem de fluido. CARGA BIOENERGÉTICA: Resulta uma intensa excitação. DESCARGA BIOENERGÉTICA: Excitação sexual descarregada em contrações musculares. RELAXAMENTO MECÂNICO: Segue-se um relaxamento físico. Depois do contato físico, a energia se acumula em ambos os corpos e, por fim, é descarregada no orgasmo, o qual se constitui essencialmente num fenômeno de descarga da bioenergia.
Ele derivou o termo energia "orgônica" a partir de organismo e orgasmo. Dizia que a Energia Orgônica cósmica funciona no organismo vivo como energia biológica específica. Assim sendo, governa o organismo total e se expressa nas emoções e nos movimentos puramente biofísicos dos órgãos.
A Energia Orgônica é livre de massa; não tem inércia nem peso. Está presente em qualquer parte, embora em concentrações diferentes, até mesmo num vácuo. É o meio para a atividade eletromagnética e gravitacional, o substrato da maioria dos fenômenos naturais básicos.
A Energia Orgônica está em constante movimento e pode ser observada sob condições apropriadas. Altas concentrações de Energia Orgônica atraem a Energia Orgônica de ambientes menos concentrados (o que contradiz a lei da entropia).
A Energia Orgônica forma unidades que se tornam o centro da atividade criativa. Estas incluem células, plantas e animais, e também nuvens, planetas, estrelas e galáxias.
Desde que Reich anunciou a descoberta da Energia Orgônica até hoje, nenhuma repetição bem intencionada de qualquer experimento crítico em Energia Orgônica foi divulgada, confirmando ou refutando seus resultados. Apesar do ridículo, da difamação e das tentativas de se repudiar Reich e sua orgonomia, não existe nenhuma contraevidência de seus experimentos em qualquer publicação científica, muito menos uma refutação sistemática dos trabalhos científicos que sustentam sua posição.
Três instrumentos principais para dissolver a couraça: Armazenamento de energia no corpo por meio de respiração profunda. Ataque direto dos músculos cronicamente tensos (por meio de pressão, beliscões e assim por diante) a fim de soltá-los. Manutenção da cooperação do paciente lidando abertamente com quaisquer resistências ou restrições que emergem.
OLHOS, BOCA, PESCOÇO, TÓRAX, DIAFRAGMA, ABDOMEM, PELVE
A couraça dos olhos é expressa por uma imobilidade da testa e uma expressão "vazia" dos olhos, que nos veem por detrás de uma rígida máscara. A couraça é dissolvida fazendo-se com que os pacientes abram bem seus olhos, como se estivessem com medo, a fim de mobilizar as pálpebras e a testa, forçando uma expressão emocional e encorajando o movimento livre dos olhos, fazer movimentos circulares com os olhos e olhar de lado a lado. O segmento oral inclui os músculos do queixo, garganta e a parte de trás da cabeça. O maxilar pode ser excessivamente preso ou frouxo de forma antinatural. As expressões emocionais relativas ao ato de chorar, morder com raiva, gritar, sugar e fazer caretas são todas inibidas por este segmento. A couraça pode ser solta encorajando-se o paciente a imitar o choro, a produzir sons que mobilizem os lábios, a morder e a vomitar e pelo trabalho direto com os músculos envolvidos. Este segmento inclui os músculos profundos do pescoço e também a língua. A couraça funciona principalmente para segurar a raiva ou o choro. Pressão direta sobre os músculos profundos do pescoço não é possível, portanto, gritar, berrar e vomitar são meios importantes para soltar este segmento. Este segmento inclui os músculos longos do tórax, os músculos dos ombros e da omoplata, toda a caixa torácica, as mãos e os braços. Ele serve para inibir o riso, a raiva, a tristeza e o desejo. A inibição da respiração, que é um meio importante de suprimir toda emoção, ocorre em grande parte no tórax. A couraça pode ser solta através do trabalho com respiração, especialmente o desenvolvimento da expiração completa. Os braços e as mãos são dos para bater, rasgar, sufocar, triturar e entrar em contato com o desejo.
Este segmento contém todos os músculos da pelve e membros inferiores. Quanto mais intensa a couraça, mais a pelve é puxada para trás e saliente nesta parte. Os músculos glúteos são tesos e doloridos, a pelve é rígida, "morta" e assexual. A couraça pélvica serve para inibir a ansiedade e a raiva, bem como o prazer. Este segmento inclui o diafragma, estômago, plexo solar, vários órgãos internos e músculos ao longo das vértebras torácicas baixas. A couraça é expressa por uma curvatura da espinha para frente, de modo que há um espaço considerável entre a parte de baixo das costas do paciente e o colchão. É muito mais difícil expirar do que inspirar. A couraça inibe principalmente a raiva extremada. Os quatro primeiros segmentos devem estar mais ou menos livres antes que o diafragma possa ser solto através do trabalho repetido com respiração e reflexo do vômito (pessoas com bloqueio intenso neste segmento acham virtualmente impossível vomitar). O segmento abdominal inclui os músculos abdominais longos e os músculos das costas. Tensão nos músculos lombares está ligada ao medo de ataque. A couraça nos flancos de uma pessoa produz instabilidade e relaciona-se com a inibição do rancor. A dissolução da couraça, neste segmento, é relativamente simples, desde que os segmentos mais altos estejam abertos.
A COURAÇA
O indivíduo encouraçado seria incapaz de: Conhecer sensação de prazer orgônico, emitir um suspiro de prazer, deixar sair um grito de raiva, e imitir um punho atingindo o colchão com raiva.
Só seria capaz de conhecer a sensação de agrado. Produzirá um gemido ou um impulso de vomitar ao invés de suspiro.
No processo de encouraçamento havia criado duas tradições intelectuais distorcidas, as quais formaram a base da civilização: TRADIÇÃO MECANICISTA, e TRADIÇÃO DE UMA RELIGIÃO MÍSTICA.
O SER HUMANO LIVRE DA COURAÇA
-Desenvolve plena atividade Sexual. -Identifica-se com a natureza e com tudo que a rodeia, assim passa a sentir-se vivo novamente. -Deixa o trabalho que é executado de forma mecânica e procura um que lhe de prazer, que preenche suas necessidades e desejos internos.
-Vai expressar suas emoções biológicas primitivas, vivenciar o prazer da vida, berrar quando tem vontade e chorar também quando tiver vontade. Exprimir suas emoções de agrado.
É em torno do “ego" que a couraça se forma e a descreve como resultado do conflito entre as exigências e um mundo externo que frustra essas exigências.
Reich descobriu que cada atitude de caráter tem uma atitude física correspondente e que o caráter do individuo é expresso corporalmente sob a forma de rigidez muscular ou COURAÇA muscular.
Reich então começou a trabalhar no relaxamento da couraça muscular. Eles descobriu que a perda da mesma libertava energia libidinal. O trabalho de Reich lidava com a libertação e emoções (prazer, raiva, ansiedade) através do trabalho com o corpo.
Ele analisava em detalhes a postura de seus pacientes e seus hábitos físicos a fim de conscientizá-los de como reprimiam sentimentos vitais em diferentes partes do corpo.
Reich fazia os pacientes intensificarem uma tensão particular a fim de tornarem-se mais conscientes dela e de aliviar a emoção que havia sido presa naquela parte do corpo. Só depois que a emoção assim “engarrafada” fosse expressa, é que a tensão crônica poderia ser aliviada por completo.
As tensões musculares crônicas servem para bloquear uma das três excitações biológicas: Ansiedade, raiva ou excitação sexual. Ele concluiu que a couraça física e psicológica eram essencialmente a mesma coisa.
O Caráter Genital foi usado por Freud para indicar o ultimo estágio do desenvolvimento psicossexual. Reich adotou este termo para se referir à pessoa que adquiriu potencia orgástica. Para ele a potencia orgástica era a capacidade de descarregar completamente a excitação sexual reprimida por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo.
Reich descobriu que assim que seus pacientes renunciavam á sua couraça e desenvolviam potencia orgástica, muitas áreas de funcionamento neurótico mudavam de forma espontânea. No lugar de rígidos controles neuróticos, os indivíduos desenvolviam uma capacidade para autorregulação.
Após a terapia, muitos pacientes de Reich desenvolviam grande ternura e sensibilidade procuravam relacionamentos mais duráveis e realizados. Os (as) pacientes cujos casamentos eram estéreis e sem amor, descobriram na terapia reichiana que já não poderiam mais ter relações sexuais por um mero senso de obrigação.
Reich sentia que indivíduos criados numa atmosfera que nega a vida e o sexo desenvolvem um medo do prazer, o qual é representado por sua Couraça Muscular. Essa Couraça do Caráter é a base do isolamento, da indigência, do desejo de autoridade, do medo da responsabilidade, do anseio místico, da miséria sexual e da revolta neurótica, assim como de uma condescendência patológica.
Reich não era otimista demais no que dizia respeito aos possíveis efeitos de suas descobertas. Ele acreditava que a maioria das pessoas, por causa de sua intensa couraça, seria incapaz de compreender suas teorias e distorceria suas ideias.
Para ele, um ensino sobre a vida, dirigido e distorcido por indivíduos encouraçados, irá acarretar um desastre final a toda a humanidade e às suas instituições. O resultado mais provável do princípio da potência orgástica será uma perniciosa filosofia de bolso, espalhada por todos os cantos. Tal como uma flecha que, ao desprender-se do arco, salta firmemente retesada, a procura de um prazer genital rápido, fácil e deletério devastará a comunidade humana.
Por fim, na idade adulta, a maioria das pessoas se vê envolvida na armadilha de um casamento compulsivo, para o qual estão sexualmente despreparadas.
Reich também salienta que os casamentos desmoronam em consequência das discrepâncias sempre intensificadas entre as necessidades sexuais e as condições econômicas.
As necessidades sexuais podem ser satisfeitas com um e o mesmo companheiro durante algum tempo. Também o vínculo econômico, a exigência moralista e o hábito humano favorecem a permanência da relação matrimonial. Isso acaba resultando na infelicidade do casamento. A situação familiar que se desenvolve segue de forma a recriar a mesma atmosfera neurótica para a próxima geração de crianças.
Outro obstáculo ao crescimento é a repressão social e cultural dos instintos naturais e da sexualidade do indivíduo. Reich sentia que esta era a maior fonte de neuroses e que ela ocorre durante as três principais fases da vida, ou seja, durante a primeira infância, puberdade e idade adulta.
Os bebês e as crianças pequenas são confrontados com uma atmosfera familiar neurótica, autoritária e repressora do ponto de vista sexual. Em relação a este período de vida, Reich basicamente reafirma as observações de Freud a respeito dos efeitos negativos das exigências dos pais, relativas ao treinamento da toalete, às autorrestrições e ao bom comportamento por parte das crianças pequenas.
Durante a puberdade, os jovens são impedidos de atingir uma vida sexual real e a masturbação é proibida. Talvez até mais importantes que isto, a sociedade em geral torna impossível, aos adolescentes, lograr uma vida de trabalho significativa. Por causa deste estilo de vida antinatural, torna-se especialmente difícil aos adolescentes ultrapassar sua ligação infantil com os pais.
O Terapeuta deve ter superado todos os medos de sons sexuais abertamente emitidos e do "ondular orgástico“. Baker, recomenda que nenhum terapeuta deveria tentar tratar pacientes que tenham problemas que ele não foi capaz de solucionar em si mesmo. O pré-requisito indispensável em qualquer método usado pelo terapeuta para libertar as emoções contidas na musculatura é que ele esteja em contato com suas próprias sensações.
A terapia de Reich tem o objetivo de dissolver as couraças. Para isso utiliza as ferramentas: Aumento da energia do corpo através de respiração profunda. Atacar diretamente os músculos cronicamente tensos através de pressão, compressão para afrouxa-los. Manter a cooperação do paciente lidando abertamente com todas as resistências ou restrições emocionais que surgirem.
Expressão sonora; movimentos expressivos dos membros; visualização; expressões faciais; técnicas posturais e de equilíbrio; alongamento; vivenciais envolvendo a dinâmica dos relacionamentos humanos, relação paciente-terapeuta.
OUTRAS TECNICAS TERAPÊUTICAS
A massagem reichiana utiliza tipos específicos de toque aplicados sobre a musculatura e sobre pontos da superfície do corpo. A visão é o sentido mais importante na estruturação do psiquismo humano.
OS MOVIMENTOS OCULARES, A FOTOESTIMULAÇÃO, E A RESPIRAÇÃO
A contenção das emoções sempre envolve a contenção dos movimentos respiratórios. Também chamados de movimentos desbloqueantes ou de movimentos ontogeneticamente significativos.
O osteopata Dr. Morton Herskowitz , que agora vive na Filadélfia, foi o último terapeuta treinado pelo próprio Wilhelm Reich.
“Eu era capaz de suportar ser subjugado por Reich porque eu gostava da verdade. E, coisa bastante estranha, eu não era subjugado por isto. No decorrer de toda esta atitude terapêutica em relação a mim, sua voz era amorosa e ele sentava-se a meu lado e fazia-me olhar para ele. Reich me aceitava e subjugava apenas minha vaidade e minha falsidade. Mas eu entendi, naquele momento, que a honestidade e o amor verdadeiros, tanto de um terapeuta quanto dos pais, por vezes é a coragem de ser aparentemente cruel sempre que necessário. Entretanto, isto exige muito do terapeuta, de seu treinamento e de seu diagnóstico."
Reich morreu em 1957, numa prisão americana. Sua trajetória de vida, fugindo do nazismo e da difamação tanto pessoal quanto de suas ideias, é trágica, mas também imensamente rica na produção de trabalhos polêmicos, mas nunca facilmente descartáveis. Embora mais conhecido pelas suas ideias libertárias na política e na sexualidade no auge da contracultura, movimento que teve seu marco no ano de 1968, suas ideias foram apropriadas e distorcidas, fazendo com que seu nome ficasse associado ao movimento hippie e ganhasse contornos meramente ideológicos.
Reich, na verdade, produziu um corpo teórico ímpar, com milhares de páginas escritas e pouco lidas, principalmente pelos seus críticos, passando pela psicologia profunda, psicanálise, biologia, física, protocolos científicos, filosofia, sociologia e epistemologia.
O artigo “Mesmer, Reichembach e Reich: O insólito e o conhecimento científico”, fornece uma ideia geral do desenvolvimento de suas ideias e trabalhos, no ítem que trata especificamente de Reich. Portanto, nesta apresentação, irei me dedicar mais especificamente, embora de forma sucinta, a abordar o cerne do seu pensamento, naquilo em que este se diferencia da psicanálise, na qual teve início, em direção à uma compreensão sui generis do problema do corpo e mente.
Os clínicos e estudantes minimamente familiarizados como obra de Reich sabem que alguns conceitos, como os de defesa de caráter e couraça muscular são centrais. Sabem também da atenção com os funcionamentos corporais e da importância presente em sua obra de um referencial energético. Nunca é demasiado lembrar como esse referencial energético – a libido, o pulsional – é componente indispensável da metapsicologia freudiana. A maneira como o corpo real entra na clínica “psicanalítica” será aqui apresentada.
DEFESA PSÍQUICA E RESISTÊNCIA DE CARÁTER
No inconsciente está a representação da pulsão, não sua energia” Freud.
Qual deve ser o objetivo da análise, tornar consciente o inconsciente, ou modificar a estrutura libidinal? Por que algumas análises, apesar de conduzidas a contento, geram resultados insatisfatórios, enquanto outras têm sucesso? Estas são questões que cedo se apresentam ao então jovem Reich, na sua prática clínica. O fator estrutural é incompatível com o tópico, o percebe, em função de uma dinâmica defensiva com características sistêmicas que receberá o nome de resistência de caráter.
O conceito de resistência não era estranho ao pensamento psicanalítico; ao contrário, logo foi percebido que determinados conteúdos só se tornam acessíveis à consciência quando as resistências quanto a isso são interpretadas e eliminadas.
Mas há algo mais. Toda neurose se deve ao conflito entre demandas “instintivas”, principalmente demandas sexuais infantis e as forças repressivas do ego. Como essas demandas buscam satisfação, procuram um objeto: daí a transferência. Todo processo analítico deve ser feito eliminando-se as resistências quanto ao reconhecimento da existência destas demandas e, feito isso, estas seriam sublimadas.
Isso traz um problema, percebeu Reich: a sublimação só poderia mesmo se dar quando existe acesso à expressão genital. Há uma gratificação sexual que necessita existir de fato. Existe um fator quantitativo presente: o orgasmo não é um fenômeno psíquico; refere-se a uma redução de toda atividade psíquica dando lugar a uma biológica. Demanda atividade motora de fato. Se se considera a neurose como tendo etiologia sexual, então se deve levar também em questão o orgasmo.
Freud havia dito antes que sem conflito sexual, não haveria neurose. Reich especifica: não há neurose sem perturbação orgástica, o que inclui, justamente, a dimensão econômico energética na sua perspectiva quantitativa de fato. Isso leva-o a postular sobre a potência orgástica, diferenciando-a de potência eretiva e ejaculativa. Sobre essa diferenciação e sua importância para o nosso tema de estudo, iremos nos deter mais detalhadamente adiante.
Sobre a resistência de caráter: Reich descreve como uma vez instaurado um conflito psíquico, este determina uma alteração na fisiologia da vida emocional, e esta, por sua vez, passa a alimentar e fornecer a energia do próprio “conflito”, numa espécie de circuito retro-alimentado. Há aqui uma dimensão sistêmica e dialógica que iremos agora descrever.
O caráter, contrapartida psíquica da couraça muscular, é basicamente um mecanismo de defesa, de proteção narcísica, os vários traços individuais e isolados funcionando de forma compacta, unitária, assim como as contrações crônicas de determinados grupos musculares se expressam funcionalmente na couraça muscular. Também como a couraça, o caráter é histórico, pode ser remontado à experiências infantis e demandas sexuais e afetivas frustadas e recalcadas. Em ambos (caráter e couraça muscular), sua função econômica é servir de proteção contra os estímulos do mundo externo e, ao mesmo tempo, manter sob jugo estas demandas, utilizando a energia em formações reativas, modos típicos e rígidos de reação e contrações musculares crônicas, evitando, com isso, o surgimento da ansiedade (ansiedade flutuante). A definição do caráter de cada um guarda a relação com o momento, do ponto de vista do desenvolvimento psicossexual, em que os principais conflitos se deram e foram resolvidos. O caráter, por sua vez, determina o quanto de gratificação sexual genital se torna possível.
Uma vez estabelecido um traço de caráter, isto torna desnecessária uma grande parte da repressão, já que o traço é aceito pelo ego, é egosintônico, passa a fazer parte do mesmo. Por isso, é mais difícil eliminar os recalcamentos que deram origem ao traço de caráter, do que eliminar os que conduziram ao sintoma.
A dimensão dialógica do caráter, por sua vez, se revela na sua função (do caráter) de evitar, ao mesmo tempo, a angústia “real” (perigos do mundo, castigo, etc.) e a angústia estásica (princípio econômico da formação do caráter) enquanto serve, concomitantemente, de modo secundário de obtenção de satisfação.
Levando-se em conta isso, de nada valeria interpretar a existência de um dado impulso, desejo, ou afeto recalcados, se não se leva em consideração a função defensiva (econômica-energética) do caráter. A interpretação “resvala” na função defesa do mesmo, e há ali somente a produção de um saber intelectualizado, racionalizado, que não produz transformações na personalidade.
Os então recém-surgidos conceitos de resistência de caráter, estase libidinal e potência orgástica são interconectados e apoiam-se mutuamente na compreensão do fenômeno.
A estase define a condição de acúmulo, de libido insatisfeita, resultante da existência do conflito sexual, na maneira em que este afeta a capacidade orgástica (o conflito psíquico alterando a fisiologia da vida emocional). Tentando explicitar ainda mais a dinâmica envolvida: se para Freud (num segundo momento) a ansiedade é postulada como sendo sinal do ego, e causa da repressão, Reich entende de outra forma, distinguindo ansiedade que é produto do sinal do ego, daquela que é fruto da estase, vendo que o medo do ego depende da estase libidinal. Num círculo vicioso, o conflito estabelecido impede satisfação orgástica plena, fantasias de castração causando repressão da libido genital, ansiedade atual resultando dessa repressão, e fornecendo o afeto para a ansiedade de castração. Somente via excitação somática uma ideia psicológica pode causar um afeto. Toda neurose de caráter tem um núcleo atual neurótico que ativa as fantasias patogênicas. Por sua vez, essa estase se expressa diretamente em alterações tais como: pressão alta, vaso constrição, pupilas dilatadas, diarreia, tontura, boca seca, suor frio, etc. (equivalentes somáticos), quando o equilíbrio neurótico se encontra ameaçado, quando falha a função defesa do caráter.
A perspectiva econômico-sexual, como Reich a definiu, surgiu de limitações do instrumental clínico então vigente, que geraram questões e alterações nos meios de abordagem clínica, e isto, novas teorizações. E nestas, surge de forma incoercível a necessidade de se observar o lugar central que o referencial estrutural, econômico-energético, ocupava no entendimento dos fenômenos da vida emocional. Mas devemos salientar mais uma vez: o fator quantitativo, na ótica da economia libidinal, levava a uma concepção da existência de uma questão energética de fato, não metafórica, na composição do acontecimento neurótico.
E esse fator quantitativo, assim considerado, gera também uma consequência radical: o somático, o corporal, entra em cena de forma literal. Vejamos o que definimos como corporal aqui: o fator econômico esteve inicialmente, no pensamento freudiano, ligado à ideia de aparelho neuronal, e depois, aparelho psíquico. É neste(s) que se daria a circulação e outros processos energéticos.
“Refiro-me ao conceito de que, nas funções mentais, deve-se distinguir algo, uma carga de afeto ou soma de excitação que possui todas as características de uma quantidade (embora não tenhamos meios de medi-la) passível de aumento, diminuição, deslocamento e descarga, e que se espalha sobre os traços mnêmicos das representações como uma carga elétrica espalhada pela superfície de um corpo.” (Freud).
Nas funções mentais… que se espalha sobre os traços mnêmicos“.
O recorte da citação freudiana deixa em evidência uma concepção que implicitamente equivale psíquico à cerebral, este sim o “o local” onde os processos econômicos estariam se dando.
Mas a observação clínica traduz um corporal que, fenomenologicamente, refere-se à totalidade do organismo: fenômenos como suor frio, boca seca, mas também respiração curta, tensões crônicas em grupos musculares específicos e, principalmente as fortes reações corporais que acompanham vivências afetivas intensas. Clonismos musculares, movimentos involuntários que se dão quando as resistências caracteriológicas e ou musculares sofrem intervenção clínica são também elementos importantes. É possível reconhecer, nestes acontecimentos, tanto a existência de uma corporeidade expressa num funcionamento unitário irredutível, quanto a presença de uma descarga, em termos de atividade motora; um fator quantitativo que envolve forças muito além da escala que seria esperada para uma dimensão psíquica, cerebral.
Pode-se entender que estes fenômenos corporais, incluindo as intensidades presentes, apenas expressam a atividade cerebral específica, atividade do sistema nervoso, onde a ação motora seria expressão desta atividade. Esse seria um viés neurofisiológico clássico, que situa o cérebro como causador destas atividades corporais.
Mas as dificuldades clínicas que levaram ao desenvolvimento da análise do caráter, já haviam assinalado a importância do reconhecimento da existência de uma dimensão sistêmica, que como uma superestrutura, se sobrepunha aos funcionamentos mais simples da dinâmica da vida emocional. Essa dimensão sistêmica implicava que, tanto do ponto de vista da intervenção clínica, quanto do da teorização sobre a mesma, houvesse um olhar que muitas vezes modificava o entendimento vigente sobre os modos, graus e tipos de relações existentes entre os componentes da teoria em questão, o que por sua vez evocava novos modos práticos de intervenções clínicas, e em seguida, novas teorizações.
Essa dimensão sistêmica não implica na negação da especificidade da atividade do sistema nervoso central, mas sim em relativizar a suficiência da “causalidade” das explicações surgidas a partir do referencial neurofisiológico, cerebral.
Vejamos um exemplo concreto no território dos mecanismos de defesa: o conceito de mecanismos de defesa do ego traz a ideia de uma mecânica onde um determinado impulso recalcado sofre a ação de um dado procedimento psíquico, um modo operante como, por exemplo, deslocamento, negação, etc. A tarefa clínica consistiria em localizar o impulso, e o procedimento de defesa para abordá-lo em primeiro lugar. Feito isto, tornar-se-ia possível o reconhecimento consciente do impulso mencionado.
Ora, a experiência clínica demonstra que, caso não se tenha feito anteriormente o “desmonte” da função defesa do caráter, mesmo quando se localiza corretamente tanto o impulso em questão, quanto sua defesa específica, isto é inoperante. Eis aqui materializada a questão do “convencimento” por parte do paciente, da correção da interpretação. Prevalece a potência do conjunto, a somatória organizada dos modos de defesa chamada caráter. Reich postulou que a principal resistência, na análise, era sempre a resistência de caráter. Este como superestrutura, se sobrepõe ao efeito que produziria a intervenção clínica voltada para a defesa específica relativa àquele impulso específico. O caráter revela uma qualidade de “teia”, “rede”, e utilizando uma analogia hidráulica, nele a energia flui deslocando-se de defesas principais para secundárias e vice versa, mantendo a integridade da função defesa intacta. A dinâmica do conjunto anula a linearidade causa-efeito presente na postura de se analizar o emergente (no sentido psicanalítico do termo).
CORPO E COURAÇA MUSCULAR
O conceito de “acting-out”, no pensamento psicanalítico, designa um acontecimento onde, num processo analítico, um paciente traduz em um ato, ou uma atividade motora, um determinado conteúdo que poderia ser psiquicamente elaborado.
Uma atividade defensiva, portanto. Assim, dentro deste referencial, tudo aquilo que encaminha à corporeidade fica associado a uma “negatividade” (atuações, conversões histéricas, somatizações).
Mas a experiência clínica na abordagem do tipo “análise do caráter”, gera outras conclusões, onde as atividades corporais relativas à vida emocional são percebidas não unicamente como modos típicos de defesa, mas como registros de algo que pode também ser de outra ordem conceitual, outro olhar epistemológico: a dimensão somática da vida emocional, sua contrapartida, o somático entendido como elemento antagônico-complementar da vida psíquica. Como mencionamos acima, a abordagem caráter analítica gerava não somente fortes reações emocionais, mas também atividade motora e neurovegetativa. Relatos de pacientes descreviam a existência, imediatamente antes e durante as reações emocionais, de sensações como se algo “corresse” por debaixo da pele, espalhando-se pelo corpo. A existência dessas sensações contumava preceder a manifestação de uma movimentação involuntária, clonismos musculares, em parte localizadas ou que se estendia pelo corpo todo, produzindo um movimento ondulatório característico que, pela obviedade do mesmo, Reich denominou “reflexo orgástico”. Dependendo do paciente em questão, essa atividade involuntária surgia com uma qualidade unitária íntegra, ou então, evidenciava-se uma “quebra” da qualidade unitária, aqui e ali no corpo, quebra essa localizada em “anéis” perpendiculares ao eixo do corpo. Estes anéis, por sua vez, portavam imobilidade muscular crônica, tensões que eram de natureza diferente das tensões do dia a dia. Quando estas tensões, em conjunto com outras técnicas analíticas, eram abordadas na clínica, toda uma organização corporal, com um sentido emocional específico, evidenciava-se, assim como o seu alívio (das tensões) era acompanhado de reações emocionais, atividade muscular involuntária, insights significativos e rememorizações.
Uma estrutura psíquica é ao mesmo tempo uma estrutura biofísica, que apresenta uma indicação do estado específico de interação das forças vegetativas de uma pessoa (Reich).
Logo se tornou evidente que a corporeidade, nos seus arranjos típicos para cada indivíduo, era a contrapartida somática da vida emocional e psíquica, formando ambas uma unidade irredutível. A neurose tem uma contrapartida corporal, o recalque no psiquismo tem sua antítese em mecanismos corporais de contenção e detenção de impulsos e atividade motora, a couraça muscular, como definiu Reich. Arranjos de grupos musculares e ritmos corporais passam a informar sobre a personalidade, e técnicas e manobras visando uma intervenção desta ordem são desenvolvidas e passam a fazer parte dos instrumentais da clínica.
EPISTEMOLOGIA E CIÊNCIA
As investigações psicanaliticas resultam de fato não em explicar o homem pela sua infra extrutura sexual, mas em reencontrar na sexualidade as relações e atitudes que anteriormente passavam por ações e atitudes de consciência, e o significado da psicanálise não é tanto o de tornar biológica a psicologia, quanto a de descobrir um movimento dialético em funções que se acreditavam puramente corporais (M. Ponty).
Mais que uma dialética, entendemos que lidamos aqui, concomitantemente, com um referencial energético, um princípio dialógico e uma noção sistêmica, intrinsecamente interligados, no pensamento reichiano. É uma perspectiva crítica ao referencial mecanicista, reducionista que, dado o sucesso do empreendimento científico, passou a ser considerado o único referencial que pode de fato dar conta de se conhecer o mundo a nossa volta.
Essa expressão tão comumente empregada, “o mundo a nossa volta”, implicitamente deixa de fora da definição de “mundo” a nós, os seres que habitamos e somos deste mundo. Ao produzir soluções tão significativas para a nossa existência emocional, o pensamento reichiano apresenta um modelo que reintroduz o vivente no mundo (conceitualmente), e assim também aponta para uma direção complementar, o funcionalismo orgonômico, denominação dada por Reich ao método experimental e de pensamento desenvolvido por ele contribuir de forma importante para o conhecimento do mundo não orgânico, de uma maneira não conseguida pelo referencial mecanicista reducionista.
Ainda no outro artigo citado (Mesmer, Reichembach e Reich: O insólito e o conhecimento científico), quando da apresentação superficial que faço dos seus trabalhos científicos (Reich), no caso dos bíons e dos experimentos com a energia “orgone”, evidencia-se uma lógica onde é feita a abstração de certas regras gerais presentes em diferentes fenômenos, que lembra bastante a “importação de conceitos” presente no chamado “pensamento complexo”, bem posterior ao tempo reichiano. Essa abstração, por sua vez, longe de permanener unicamente como especulação filosófica, deu ensejo a verificações experimentais que validam fortemente o modêlo reichiano ( para saber mais sobre o tema, e acompanhar algumas destas verificações experimentais, o leitor deve procurar as obras “The Cancer Biopathy”, “Selected Writings” e “Cosmic Superimposition”, entre outras).
Um consequência lógica dos trabalhos reichianos é a relocação, num campo conceitual mais amplo, dos conteúdos da psicologia e psicanálise. Não no sentido de reduzir estes últimos à biologia ou à física, mas sim, no de um salto conceitual, reorganizador, que pode ter consequências tão marcantes para a nossa visão de mundo, como tiveram a teoria da relatividade e a mecânica quântica, no início do século XX.
Reich dava grande ênfase à importância de desenvolver uma livre expressão de sentimentos sexuais e emocionais dentro do relacionamento amoroso maduro. Reich enfatizou a natureza essencialmente sexual das energias com as quais lidava e descobriu que a bioenergia era bloqueada de forma mais intensa na área pélvica de seus pacientes.
Ele chegou a acreditar que a meta da terapia deveria ser a libertação dos bloqueios do corpo e a obtenção de plena capacidade para o orgasmo sexual, o qual sentia estar bloqueado na maioria dos homens e das mulheres.
As opiniões radicais de Reich a respeito de sexualidade resultaram em consideráveis equívocos e distorções de seu trabalho por autores futuros e, consequentemente, despertaram muitos ataques difamatórios e infundados.
Wilhelm Reich se interessou muito pela sexualidade humana. Quando era jovem estudante de Medicina, Reich visitou Freud pela primeira vez para procurar ajuda a fim de organizar um seminário sobre sexologia na escola médica que ele frequentava (Higgens e Raphael, 1967). Além disso, a principal atividade política de Reich consistia em ajudar a fundar clínicas de higiene sexual patrocinadas pelos comunistas para a classe trabalhadora, na Áustria e na Alemanha.
As ideias de Reich e suas clínicas eram muito controvertidas para a época e seu programa de para as clínicas de orientação sexual incluía características modernas ainda hoje. Entre seus tópicos destacavam-se: Livre distribuição de anticoncepcionais para qualquer pessoa e educação intensiva para o controle da natalidade. Completa abolição das proibições com relação ao aborto. Abolição da distinção legal entre casados e não casados; liberdade de divórcio. Eliminação de doenças venéreas e prevenção de problemas sexuais através da educação sexual. Treinamento de médicos, terapeutas, professores etc., em todas as questões relevantes da higiene sexual. Tratamento, ao invés de punição, para agressões sexuais.
A COMPOSIÇÃO DO CARÁTER
De acordo com Reich, o caráter é composto das atitudes habituais de uma pessoa e de seu padrão consistente de respostas para várias situações. Inclui atitudes e valores conscientes, estilo de comportamento (timidez, agressividade e assim por diante) e atitudes físicas (postura, hábitos de manutenção e movimentação do corpo).
O conceito de caráter já havia sido discutido anteriormente por Freud, em sua obra Caráter e Erotismo Anal. Reich elaborou este conceito e foi o primeiro analista a tratar pacientes pela interpretação da natureza e função de seu caráter, ao invés de analisar seus sintomas.
A COURAÇA CARACTEROLÓGICA
Reich sentia que o caráter se forma como uma defesa contra a ansiedade criada pelos intensos sentimentos sexuais da criança e o consequente medo da punição. A primeira defesa contra este medo é o Mecanismo de Defesa do Ego conhecido por repressão, o qual refreia os impulsos sexuais por algum tempo. À medida que as Defesas do Ego se tornam cronicamente ativas e automáticas, elas evoluem para traços ou couraça caracterológica.
Esse conceito de couraça caracterológica de Reich inclui a soma total de todas as forças defensivas repressoras organizadas de forma mais ou menos coerente dentro do próprio ego. Para ele, o desenvolvimento de um traço neurótico de caráter indicaria a solução de um problema reprimido ou, por outro lado, ele torna o processo de repressão desnecessário ou transforma a repressão numa formação relativamente rígida e aceita pelo ego.
Assim pensando, Reich afirma que os traços de caráter neuróticos não são a mesma coisa que sintomas neuróticos. A diferença entre esses traços neuróticos e os sintomas neuróticos repousa no fato de que sintomas neuróticos, tais como os medos, fobias, etc., são experienciados como estranhos ao indivíduo, como elementos exteriores à psique, enquanto que traços de caráter neuróticos (ordem excessiva ou timidez ansiosa, por exemplo) são experimentados como partes integrantes da personalidade.
A pessoa pode se queixar do fato de ser tímida, mas esta timidez não parece ser significativa ou patológica como são os sintomas neuróticos. As defesas de caráter são particularmente efetivas e, além disso, difíceis de erradicarem pelo fato de serem bem racionalizadas pelo indivíduo e experimentadas como parte de seu auto-conceito.
Reich se esforçou continuamente para tornar seus pacientes mais conscientes de seus traços neuróticos de caráter. Ele imitava com frequência suas características, gestos ou posturas, ou fazia com que seus pacientes repetissem ou exagerassem uma faceta habitual do comportamento, por exemplo, um sorriso nervoso. À medida que os pacientes cessavam de tomar como certa sua constituição de caráter, aumentava sua motivação para mudar.
A COURAÇA MUSCULAR
Reich descobriu que cada atitude de caráter tem uma atitude física correspondente e que o caráter do indivíduo é expresso corporalmente sob a forma de rigidez muscular ou couraça muscular. Reich começou a trabalhar, então, no relaxamento da couraça muscular. Ele descobriu que a perda da couraça muscular libertava energia libidinal e auxiliava o processo de psicanálise. O trabalho psiquiátrico de dava cada vez mais com a libertação de emoções (prazer, raiva, ansiedade) através do trabalho com o corpo. Ele descobriu que isto conduzia a uma vivência muito mais intensa do que o material infantil trabalhado pela psicanálise.
Reich começou, primeiramente, com a aplicação de técnicas de análise de caráter e das atitudes físicas. Ele analisava em detalhes a postura de seus pacientes e seus hábitos físicos a fim de conscientizá-los de como reprimiam sentimentos vitais em diferentes partes do corpo. Fazia os pacientes intensificarem uma tensão particular a fim de tornarem-se mais conscientes dela e de aliviar a emoção que havia sido presa naquela parte do corpo. Ele descobriu que só depois que a emoção assim "engarrafada" fosse expressa, é que a tensão crônica poderia ser aliviada por completo. Aos poucos, Reich começou a trabalhar diretamente com suas mãos sobre os músculos tensos a fim de soltar ás emoções presas a eles.
Em seu trabalho sobre couraça muscular, Reich descobriu que tensões musculares crônicas servem ara bloquear uma das três excitações biológicas: ansiedade, raiva ou excitação sexual. Ele concluiu que a couraça física e a psicológica eram essencialmente a mesma coisa. Com esse raciocínio, as couraças de caráter eram vistas agora como equivalentes à hipertonia muscular.
O CARÁTER GENITAL
O termo Caráter Genital foi usado por Freud para indicar o último estágio do desenvolvimento psicossexual. Reich adotou-o para se referir especificamente à pessoa que adquiriu potência orgástica. Para ele a potência orgástica era a capacidade de abandonar-se, livre de quaisquer inibições, ao fluxo de energia biológica, era a capacidade de descarregar completamente a excitação sexual reprimida por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo.
Reich descobriu que assim que seus pacientes renunciavam à sua couraça e desenvolviam potência orgástica, muitas áreas de funcionamento neurótico mudavam de forma espontânea. No lugar de rígidos controles neuróticos, os indivíduos desenvolviam uma capacidade para auto-regulação. Reich descreveu indivíduos autorreguladores como naturais mais do que morais. Eles agem em termos de suas próprias inclinações e sentimentos internos, ao invés de seguirem algum código externo ou ordens pré-estabelecidas por outros.
Depois da terapia reichiana, muitos pacientes que antes eram neuroticamente promíscuos, desenvolviam grande ternura e sensibilidade e procuraram, de forma espontânea, relacionamentos mais duráveis e realizadores. Os (as) pacientes cujos casamentos eram estéreis e sem amor, descobriram na terapia reichiana que já não poderiam mais ter relações sexuais por um mero senso de obrigação.
Os caracteres genitais não estão aprisionados em suas couraças e defesas psicológicas. Eles são capazes de se encouraçar, quando necessário, contra um ambiente hostil. Entretanto, sua couraça é feita mais ou menos conscientemente e pode ser dissolvida quando não houver mais necessidade dela.
Reich escreveu que caracteres genitais trabalharam sobre o complexo de Édipo, de maneira que o material edipiano já não é mais tão intensamente carregado ou reprimido. O superego, para ele, tornam-se "sexo-afirmativo", portanto o Id e o Superego passam a estar em harmonia. O Caráter Genital é capaz de experimentar livre e plenamente o orgasmo sexual, descarregando por completo toda libido excessiva. Dessa forma, o orgasmo, o clímax da atividade sexual, seria caracterizado pela entrega à experiência sexual e pelo movimento desinibido, involuntário, ao contrário dos movimentos forçados ou até violentos dos indivíduos encouraçados.
A BIOENERGIA
Em seu trabalho sobre Couraça Muscular, Reich descobriu que a perda da rigidez crônica dos músculos resultava frequentemente em sensações físicas particulares, em sentimentos de calor e frio, formigamento, coceira e uma espécie de despertar emocional. Ele concluiu que essas sensações eram devidas a movimentos de uma energia vegetativa ou biológica liberada.
Reich também descobriu que a mobilização e a descarga de bioenergia são estágios essenciais no processo de excitação sexual e orgasmo. Ele chamou a isto de Fórmula do Orgasmo, um processo de quatro partes o qual Reich julgava ser característico de todos os organismos vivos: -Tensão Mecânica. -Carga Bioenergética. -Descarga Bioenergética.
-Relaxamento Mecânico.
Depois do contato físico, a energia se acumula em ambos os corpos e, por fim, é descarregada no orgasmo, o qual se constitui essencialmente num fenômeno de descarga da bioenergia.
O ato sexual teria a seguinte sequencia: 1-Órgãos sexuais se entumecem de fluido, tensão mecânica. 2-Resulta uma intensa excitação, carga bioenergética. 3-Excitação sexual descarregada em contrações musculares, descarga bioenergética. 4-Segue-se um relaxamento físico e relaxamento mecânico.
A ENERGIA ORGÔNICA
Aos poucos Reich estendeu seu interesse pelo funcionamento físico dos pacientes à pesquisa de laboratório em Fisiologia e Biologia e, finalmente dedicou-se à pesquisa em Física. Ele chegou a acreditar que a bioenergia no organismo individual não é nada mais do que um aspecto de uma energia universal, presente em todas as coisas. Ele derivou o termo energia "orgônica" a partir de organismo e orgasmo. Dizia que a Energia Orgônica cósmica funciona no organismo vivo como energia biológica específica. Assim sendo, governa o organismo total e se expressa nas emoções e nos movimentos puramente biofísicos dos órgãos.
A extensiva pesquisa de Reich sobre Energia Orgônica e tópicos relacionados à ela foi ignorada ou repudiada pela maioria dos cientistas.
Seus achados contradizem muitos axiomas e teorias estabelecidos pela Física e Biologia, e é certo que o trabalho de Reich não deixa de ter falhas experimentais. Entretanto, sua pesquisa nunca foi rejeitada ou mesmo revista com cuidado e seriamente criticada por qualquer crítico científico respeitável.
Desde que Reich anunciou a descoberta da Energia Orgônica até hoje, nenhuma repetição bem intencionada de qualquer experimento crítico em Energia Orgônica foi divulgada, confirmando ou refutando seus resultados. Apesar do ridículo, da difamação e das tentativas de se repudiar Reich e sua orgonomia, não existe nenhuma contra-evidência de seus experimentos em qualquer publicação científica, muito menos uma refutação sistemática dos trabalhos científico que sustentam sua posição.
AS PROPRIEDADES DA ENERGIA ORGÔNICA
Segundo Reich, a Energia Orgônica teria as seguintes propriedades principais:
1. A Energia Orgônica é livre de massa; não tem inércia nem peso. 2. Está presente em qualquer parte, embora em concentrações diferentes, até mesmo num vácuo. 3. É o meio para a atividade eletromagnética e gravitacional, o substrato da maioria dos fenômenos naturais básicos. 4. A Energia Orgônica está em constante movimento e pode ser observada sob condições apropriadas. 5. Altas concentrações de Energia Orgônica atraem a Energia Orgônica de ambientes menos concentrados (o que contradiz a lei da entropia). 6. A Energia Orgônica forma unidades que se tornam o centro da atividade criativa. Estas incluem células, plantas e animais, e também nuvens, planetas, estrelas e galáxias.
O CRESCIMENTO PSICOLÓGICO
Reich definiu crescimento como o processo de dissolução da nossa couraça psicológica e física, tornando-nos, gradualmente, seres humanos mais livres, abertos e capazes de gozar um orgasmo pleno e satisfatório.
Reich achava que a couraça muscular está organizada em sete principais segmentos de armadura, que são compostos de músculos e órgãos com funções expressivas relacionadas. Estes segmentos formam uma série de sete anéis mais ou menos horizontais, em ângulos retos com a espinha e o torso. Os principais segmentos da couraça estão centrados nos olhos, boca, pescoço, tórax, diafragma, abdome e pelve.
De acordo com Reich, a Energia Orgônica flui naturalmente por todo o corpo, de cima a baixo, paralela à espinha. Os anéis da couraça formam-se em ângulo reto com este fluxo e operam para rompê-lo. Reich afirma que não é por acaso que na cultura ocidental aprendemos a dizer sim movendo a cabeça para cima e para baixo, na direção do fluxo de energia do corpo, enquanto que aprendemos a dizer não movendo a cabeça de um lado para o outro, na direção transversa da couraça.
A couraça serve para restringir tanto o livre fluxo de energia como a livre expressão de emoções do indivíduo. O que começa inicialmente como defesa contra sentimentos de tensão e ansiedade excessivos, torna-se uma camisa-de-força física e emocional. No organismo humano encouraçado, a Energia Orgônica é presa nos espasmos musculares crônicos.
Após a perda de um anel da couraça, o orgon do corpo não começa de imediato a correr livremente. Logo que os primeiros blocos da couraça são dissolvidos, nós descobrimos que, com os fluxos e as sensações orgônicas, a expressão do "dar" se desenvolve cada vez mais. Entretanto, couraças ainda existentes evitam seu desenvolvimento total.
A DISSOLVIÇÃO DOS SEGUIMENTOS DA COURAÇA
A terapia reichiana consiste em dissolver cada segmento da couraça, começando pelos olhos e terminando na pelves. Cada segmento é uma unidade mais ou menos independente com a qual se precisa lidar separadamente.
Três instrumentos principais são usados para dissolver a couraça: 1. Armazenamento de energia no corpo por meio de respiração profunda; 2. Ataque direto dos músculos cronicamente tensos (por meio de pressão, beliscões e assim por diante) a fim de soltá-los; 3. Manutenção da cooperação do paciente lidando abertamente com quaisquer resistências ou restrições que emergem.
OS OLHOS
A couraça dos olhos é expressa por uma imobilidade da testa e uma expressão "vazia" dos olhos, que nos veem por detrás de uma rígida máscara. A couraça é dissolvida fazendo-se com que os pacientes abram bem seus olhos, como se estivessem com medo, a fim de mobilizar as pálpebras e a testa, forçando uma expressão emocional e encorajando o movimento livre dos olhos, fazer movimentos circulares com os olhos e olhar de lado a lado.
A BOCA
O segmento oral inclui os músculos do queixo, garganta e a parte de trás da cabeça. O maxilar pode ser excessivamente preso ou frouxo de forma antinatural. As expressões emocionais relativas ao ato de chorar, morder com raiva, gritar, sugar e fazer caretas são todas inibidas por este segmento. A couraça pode ser solta encorajando-se o paciente a imitar o choro, a produzir sons que mobilizem os lábios, a morder e a vomitar e pelo trabalho direto com os músculos envolvidos.
O PESCOÇO
Este segmento inclui os músculos profundos do pescoço e também a língua. A couraça funciona principalmente para segurar a raiva ou o choro. Pressão direta sobre os músculos profundos do pescoço não é possível, portanto, gritar, berrar e vomitar são meios importantes para soltar este segmento.
O TÓRAX
Este segmento inclui os músculos longos do tórax, os músculos dos ombros e da omoplata, toda a caixa torácica, as mãos e os braços. Ele serve para inibir o riso, a raiva, a tristeza e o desejo. A inibição da respiração, que é um meio importante de suprimir toda emoção, ocorre em grande parte no tórax. A couraça pode ser solta através do trabalho com respiração, especialmente o desenvolvimento da expiração completa. Os braços e as mãos são dos para bater, rasgar, sufocar, triturar e entrar em contato com o desejo.
O DIAFRAGMA
Este segmento inclui o diafragma, estômago, plexo solar, vários órgãos internos e músculos ao longo das vértebras torácicas baixas. A couraça é expressa por uma curvatura da espinha para frente, de modo que há um espaço considerável entre a parte de baixo das costas do paciente e o colchão. É muito mais difícil expirar do que inspirar. A couraça inibe principalmente a raiva extremada. Os quatro primeiros segmentos devem estar mais ou menos livres antes que o diafragma possa ser solto através do trabalho repetido com respiração e reflexo do vômito (pessoas com bloqueio intenso neste segmento acham virtualmente impossível vomitar).
O ABDOMEN
O segmento abdominal inclui os músculos abdominais longos e os músculos das costas. Tensão nos músculos lombares está ligada ao medo de ataque. A couraça nos flancos de uma pessoa produz instabilidade e relaciona-se com a inibição do rancor. A dissolução da couraça, neste segmento, é relativamente simples, desde que os segmentos mais altos estejam abertos.
A PELVE
Este segmento contém todos os músculos da pelve e membros inferiores. Quanto mais intensa a couraça, mais a pelve é puxada para trás e saliente nesta parte. Os músculos glúteos são tesos e doloridos, a pelve é rígida, "morta" e assexual. A couraça pélvica serve para inibir a ansiedade e a raiva, bem como o prazer.
A ansiedade e a raiva resultam das inibições das sensações de prazer sexual, e é impossível experienciar livremente o prazer nesta área até que a raiva tenha sido liberada dos músculos pélvicos. A couraça pode ser solta primeiramente mobilizando a pelve e fazendo com que o paciente chute os pés repetidas vezes e também bata no colchão com sua pelve.
Reich descobriu que à medida que seus pacientes começavam a desenvolver capacidade para plena entrega genital, toda sua existência e estilo de vida mudavam basicamente.
Acreditava Reich que a unificação do reflexo do orgasmo também restaurava as sensações de profundidade e seriedade. Os pacientes lembram-se do tempo da sua primeira infância, quando a unidade de suas sensações corporais não estava perturbada.
Tomados de emoção, falam do tempo em que, crianças, sentiam-se identificados com a natureza e com tudo que os rodeava, do tempo em que se sentiam "vivos" e como finalmente tudo isto fora despedaçado e esmagado pela educação.
Estes indivíduos começavam a sentir que a rígida moralidade da sociedade, que anteriormente reconheciam como certa, era uma coisa estranha e antinatural. Atitudes em relação ao trabalho também mudavam de forma nítida.
Aqueles que faziam seu trabalho como uma necessidade mecânica, habitualmente largavam seus empregos para procurar um trabalho novo e vital que preenchesse suas necessidades e desejos interiores. Aqueles que já estavam interessados em sua profissão, muitas vezes desabrochavam com energia, interesses e habilidades novas.
OS OBSTÁCULOS AO CRESCIMENTO
A Couraça é o maior obstáculo ao crescimento segundo Reich. O indivíduo encouraçado seria incapaz de dissolver sua couraça e, portanto, seria incapaz de expressar as emoções biológicas primitivas. Ele conhece a sensação de agrado, mas não aquela de prazer orgônico. Ele não pode emitir um suspiro de prazer e, se tentar, irá produzir um gemido, um berro reprimido ou um impulso para vomitar. Ele é incapaz de deixar sair um grito de raiva ou imitar um punho atingindo o colchão com raiva.
Reich sentiu que o processo de encouraçamento havia criado duas tradições intelectuais distorcidas, as quais formaram a base da civilização: a religião mística e a ciência mecanicista. Os mecanicistas são tão bem encouraçados que não têm ideia real de seus próprios processos de vida ou de sua natureza interna. Eles têm um medo básico de emoções profundas, vivacidade e espontaneidade. Eles tendem a desenvolver um conceito rígido e mecânico da natureza e estão primariamente interessados nos objetos externos e nas ciências naturais.
Comentando sua ideia, achava que pelo fato de uma máquina ter que ser perfeita, por conseguinte, o pensamento e as ações do homem da ciência também teriam que ser perfeitos. Perfeccionismo é uma característica essencial do pensamento mecanicista. Ele não tolera erros e incertezas, e as situações de mudança são inoportunas. Mas este princípio, quando aplicado a processos da natureza, inevitavelmente conduz à confusão, pois a natureza não opera mecanicamente, mas funcionalmente.
Os místicos não desenvolveram sua couraça tão completamente. Eles permanecem, em parte, em contato com sua própria energia vital, e são capazes de grande compreensão interna (insight) por causa deste contato parcial com sua intimidade. Entretanto, Reich via essa compreensão interna (insight) como distorcida, uma vez que os místicos tendem a se tornar ascéticos e antissexuais, a rejeitar sua própria natureza física e a perder o contato com seus corpos. Eles repudiam a origem da força vital em seus próprios corpos e localizam-na numa alma hipotética, que eles sentem ter apenas uma tênue conexão com o corpo.
Sobre os místicos, achava Reich que no rompimento da unidade de sentimento do corpo pela supressão sexual e no contínuo anseio de restabelecer contato consigo mesmo e com o mundo, encontra-se a raiz de todas as religiões negadoras do sexo. Deus seria a ideia mistificada da harmonia vegetativa entre o eu e a natureza.
A REPRESSÃO SEXUAL
“Só se fantasia o que não se pode ter na realidade.”
Outro obstáculo ao crescimento é a repressão social e cultural dos instintos naturais e da sexualidade do indivíduo. Reich sentia que esta era a maior fonte de neuroses e que ela ocorre durante as três principais fases da vida, ou seja, durante a primeira infância, puberdade e idade adulta.
Os bebês e as crianças pequenas são confrontados com uma atmosfera familiar neurótica, autoritária e repressora do ponto de vista sexual. Em relação a este período de vida, Reich basicamente reafirma as observações de Freud a respeito dos efeitos negativos das exigências dos pais, relativas ao treinamento da toalete, às autorrestrições e ao bom comportamento por parte das crianças pequenas.
Durante a puberdade, os jovens são impedidos de atingir uma vida sexual real e a masturbação é proibida. Talvez até mais importantes que isto, a sociedade em geral torna impossível, aos adolescentes, lograr uma vida de trabalho significativa. Por causa deste estilo de vida antinatural, torna-se especialmente difícil aos adolescentes ultrapassar sua ligação infantil com os pais.
Por fim, na idade adulta, a maioria das pessoas se vê envolvida na armadilha de um casamento compulsivo, para o qual estão sexualmente despreparadas. Reich também salienta que os casamentos desmoronam em consequência das discrepâncias sempre intensificadas entre as necessidades sexuais e as condições econômicas. As necessidades sexuais podem ser satisfeitas com um e o mesmo companheiro durante algum tempo. Também o vínculo econômico, a exigência moralista e o hábito humano favorecem a permanência da relação matrimonial. Isso acaba resultando na infelicidade do casamento. A situação familiar que se desenvolve segue de forma a recriar a mesma atmosfera neurótica para a próxima geração de crianças.
Reich sentia que indivíduos criados numa atmosfera que nega a vida e o sexo desenvolvem um medo do prazer, o qual é representado por sua Couraça Muscular. Essa Couraça do Caráter é a base do isolamento, da indigência, do desejo de autoridade, do medo da responsabilidade, do anseio místico, da miséria sexual e da revolta neurótica, assim como de uma condescendência patológica.
Reich não era otimista demais no que dizia respeito aos possíveis efeitos de suas descobertas. Ele acreditava que a maioria das pessoas, por causa de sua intensa couraça, seria incapaz de compreender suas teorias e distorceria suas ideias. Para ele, um ensino sobre a vida, dirigido e distorcido por indivíduos encouraçados, irá acarretar um desastre final a toda a humanidade e às suas instituições. O resultado mais provável do princípio da potência orgástica será uma perniciosa filosofia de bolso, espalhada por todos os cantos. Tal como uma flecha que, ao desprender-se do arco, salta firmemente retesada, a procura de um prazer genital rápido, fácil e deletério devastará a comunidade humana.
A couraça serve para nos desligar de nossa natureza interna e também da miséria social que nos circunda. Natureza e cultura, instinto e moralidade, sexualidade e realização são elementos que se tornam incompatíveis. A unidade e congruência de cultura e natureza, trabalho e amor, moralidade e sexualidade, unidade esta desejada desde tempos imemoriais, continuará a ser um sonho enquanto o homem continuar a condenar a exigência biológica de satisfação sexual natural (orgástica). A democracia verdadeira e a liberdade baseadas na consciência e responsabilidade estão também condenadas a permanecer como uma ilusão até que esta evidência seja satisfeita.
O CORPO
Reich, como a grande maioria dos autores modernos, via mente e corpo como uma só unidade. Aos poucos ele passou de um trabalho analítico, baseado apenas na linguagem, para a análise dos aspectos físico e psicológico do caráter e da couraça caracterológica, dando maior ênfase no trabalho com a Couraça Muscular e no desenvolvimento de um livre fluxo de bioenergia.
Relacionamento Social
Reich via o relacionamento social como função do caráter do indivíduo. O indivíduo médio vê o mundo através do filtro de sua couraça. Caracteres genitais, tendo ultrapassado seu encouraçamento rígido, são os únicos verdadeiramente capazes de reagir de forma aberta e honesta aos outros.
Reich acreditava firmemente nos ideais comunistas enunciados por Marx, aclamando a livre organização na qual o livre desenvolvimento de cada um se tornaria a base do livre desenvolvimento de todos. Reich formulou o conceito de democracia do trabalho, uma forma natural de organização social na qual as pessoas cooperam harmonicamente para favorecer suas necessidades e interesses mútuos, e tentou efetivar esses princípios no Instituto Orgon.
A VONTADE
Reich não se interessou diretamente pela vontade, embora tenha enfatizado a importância de um trabalho significativo e construtivo. Um de seus princípios era de que "você não precisa fazer nada de especial ou novo. Tudo o que você precisa fazer é continuar o que tem feito: lavrar seu campo, manejar seu martelo, examinar seus pacientes, levar suas crianças à escola ou ao parque de diversões, falar sobre os fatos do dia, penetrar sempre mais profundamente nos segredos da natureza. Todas essas coisas você já faz. Mas você pensa que nenhuma delas tem importância... Tudo o que você tem a fazer é continuar o que você sempre fez e sempre quis fazer: seu trabalho, deixar suas crianças crescerem felizes, amar a mulher".
AS EMOÇÕES
Reich descobriu que as tensões crônicas servem para bloquear o fluxo de energia subjacente às emoções mais intensas. A couraça impede que o indivíduo experimente emoções fortes e, portanto, limita e distorce a expressão de sentimentos. As emoções deste modo bloqueadas não são eliminadas, pois jamais podem ser completamente expressas. Segundo Reich, um indivíduo só se liberta de uma emoção bloqueada experienciando-a de forma plena.
Reich notou também que a frustração do prazer, muitas vezes conduz à raiva e à fúria. Na terapia reichiana, em primeiro lugar é preciso lidar com as emoções negativas, para que os sentimentos positivos que elas encobrem possam ser completamente experienciados.
O INTELECTO
Reich se opunha a qualquer separação de intelecto, emoções e corpo. Ele afirmava que o intelecto é, na verdade, uma função biológica, e que ele pode ter uma carga afetiva tão forte quanto qualquer emoção. Reich argumentava que o desenvolvimento completo do intelecto requer o desenvolvimento de uma verdadeira genitalidade. A primazia do intelecto pressupõe uma disciplinada economia de libido, isto é, primazia genital. A primazia intelectual e genital tem a mesma relação mútua que êxtase sexual e neurose, sentimento de culpa e religião, histeria e superstição.
Acreditava Reich que, habitualmente, o intelecto opera como mecanismo de defesa, de tal forma que a linguagem falada muitas vezes funciona também como uma defesa. Ela obscurece a linguagem expressiva do núcleo biológico. Em muitos casos, isto vai tão longe que as palavras já não expressam nada e a linguagem falada já não é nada mais do que uma atividade sem sentido dos respectivos músculos.
O SELF
Para Reich, o Self é o núcleo biológico saudável de cada indivíduo. A maioria das pessoas não está em contato com o Self por causa da couraça física e das defesas psicológicas. Indagava Reich: "O que é que impedia uma pessoa de perceber sua própria personalidade (Self)? Afinal, a personalidade (himself) é o que a pessoa é. Gradualmente comecei a entender que é o ser total que constitui a massa compacta e obstinada que obstrui todos os esforços da análise. A personalidade inteira do paciente, o seu caráter, a sua individualidade resistiam à análise".
Segundo Reich, a interação de impulsos reprimidos e forças defensivas repressoras cria uma terceira camada entre as duas correntes libidinais opostas: uma camada de falta de contato. Esta falta de contato não está interposta entre as duas forças. É antes, uma expressão da interação concentrada das duas.
O contato requer um livre movimento de energia. Ele só se torna possível quando o indivíduo dissolve sua couraça e torna-se plenamente consciente do corpo e de suas sensações e necessidades, entrando em contato com o núcleo, os impulsos primários. Enquanto há a presença de bloqueios, o fluxo de energia e a consciência são restritos, e a autopercepção é bastante diminuída e distorcida.
O TERAPEUTA
Além de treino na técnica terapêutica, o terapeuta deve ter feito um progresso considerável em seu crescimento e desenvolvimento pessoais. Ao trabalhar tanto psicológica quanto fisicamente com um indivíduo, o terapeuta deve ter superado todos os medos de sons sexuais abertamente emitidos e do "ondular orgástico", livre movimento de energia no corpo.
Baker, um dos principais terapeutas reichianos nos Estados Unidos, recomenda que nenhum terapeuta deveria tentar tratar pacientes que tenham problemas que ele não foi capaz de solucionar em si mesmo, e nem deveria esperar que um paciente faça coisas que ele não pode fazer e que não foi capaz de fazer. Outro reichiano eminente escreveu que o pré-requisito indispensável em qualquer método usado pelo terapeuta para libertar as emoções contidas na musculatura é que ele esteja em contato com suas próprias sensações e que seja capaz de empatizar completamente com o paciente e de sentir em seu próprio corpo o efeito das constrições particulares da energia do paciente.
Reich era ele próprio considerado um terapeuta brilhante e teimoso. Mesmo sendo um analista ortodoxo, ele era extremamente honesto e até brutalmente direto com seus pacientes.
Nic Waal, um dos melhores psiquiatras da Noruega, escreveu o seguinte a respeito de suas experiências em terapia com Reich: "Eu era capaz de suportar ser subjugado por Reich porque eu gostava da verdade. E, coisa bastante estranha, eu não era subjugado por isto. No decorrer de toda esta atitude terapêutica em relação a mim, sua voz era amorosa e ele sentava-se a meu lado e fazia-me olhar para ele. Reich me aceitava e subjugava apenas minha vaidade e minha falsidade. Mas eu entendi, naquele momento, que a honestidade e o amor verdadeiros, tanto de um terapeuta quanto dos pais, por vezes é a coragem de ser aparentemente cruel sempre que necessário. Entretanto, isto exige muito do terapeuta, de seu treinamento e de seu diagnóstico."
“A carga organótica dos tecidos celulares do sangue determina o grau de suscetibilidade para infecção ou disposição para doenças.”

BIBLIOGRAFIA DO DR. WILHELM REICH
(1922) Paixão de juventude: uma autobiografia 1897-1922.
(1925) O caráter impulsivo: um estudo psicanalítico da patologia do ego.
(1927) Psicopatologia e sociologia da vida sexual.
(1929, 1932) Materialismo Dialético e Psicanálise.
(1930, 1936, 1945, 1949) A Revolução Sexual.
(1932, 1935, /1951) A irrupção da moral sexual repressiva / As origens da moral sexual.
(1932) O Combate Sexual da Juventude.
(1933, 1945, 1949) Análise do Caráter.
(1933, 1934, /1946) Psicologia de Massa do Fascismo / Psicologia de Massas do Fascismo.
(1934) O que é a consciência de classe?
(1942) A Função do Orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia biológica.
(1948) A Biopatia do Câncer.
(1948) Escuta, Zé Ninguém! / Escute, Zé Ninguém!
(1949, 1951) O Éter, Deus e o Diabo: seguido de A Superposição Cósmica.
(1953) O Assassinato de Cristo: Volume Um de A peste emocional da humanidade.
(1954) Reich Fala de Freud.

Pesquisa realizada pelo Dr. Josué Campos Macedo