A clínica
é a prática terapêutica de estudos, e formas de abordagens de tratamento sobre
as pessoas que se submetem a ele. A Psicanálise é uma Ciência livre de estudos
e pesquisas interagindo de modo independente, e se constitui uma das terapias
aplicadas para a saúde mental do ser humano como um todo. Visa tornar
consciente o inconsciente, a parte mais profunda do mecanismo psíquico humano descoberto
pelo Dr. Sigsmund Schlomo Freud (Freiberg , 6 de maio de
1856/ Londres, 23 de
setembro de 1939),
mais conhecido como Dr. Sigmund Freud, o Pai da Psicanálise.
Durante
muitas décadas a Psicanálise era vista como perda de tempo, como algo sem
valor, assim como Freud, seu criador, era visto como louco.
Os
tempos foram passando e a Psicanálise começou a quebrar tabus e conquistar o
seu espaço provando o valor dos seus métodos terapêuticos (analítico). Hoje a
importância de fazer análise entra na vida das pessoas como uma oportunidade de
se libertar de fantasmas que, mesmo inconsciente, reduzem a qualidade de vida
psíquica e, consequentemente, física.
Na
análise, traumas e fixações inconscientes veem a tona e o processo de cura se
torna mais eficaz. Fazer análise não é apenas se conhecer, mais aprender a
lidar com os “fantasmas da mente” e ter uma vida mais leve. Assim sendo é
necessário que saibamos o que é a Psicanálise para quebrarmos ainda mais os
rótulos de que só faz análise quem é louco e percebermos que fazer análise é
qualidade de vida, pois mente sadia corpo sadio, porém uma mente adoecida deixa
o corpo debilitado, adoecido e fraco.
Psicanálise
é a ciência do inconsciente e é um método de investigação, que consiste em
evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações, daquilo que vem
do imaginário (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito.
É
um método investigativo que se baseia principalmente nas associações livres do
sujeito, ou seja, a fala elaborada ou não, que são a garantia da validade da
interpretação. A interpretação psicanalítica pode estender-se a produções
humanas para as quais não se dispõe de associações livres. A Psicanálise é um
método psicoterápico (terapia analítica) baseado nesta investigação e
especificado pela interpretação controlada da resistência, da transferência e
do desejo. O emprego da Psicanálise como sinônimo de tratamento psicanalítico
está ligado a este sentido; exemplo: começar uma análise. E para que essa
análise seja positiva é necessário que ocorra o que chamamos de transferência
(deslocamento do sentido atribuído a pessoas do passado para pessoas do nosso
presente). Esta transferência é executada pelo nosso inconsciente.
Para a teoria
freudiana, esse fenômeno é fundamental para o processo de cura.
A Psicanálise
é o nome de uma das técnicas existente no caminho da investigação dos processos
mentais que são quase inacessíveis por outros meios. É uma técnica para o
tratamento de neuroses, e um grupamento de informações psicológicas a respeito
tanto do paciente que está sendo atendido como das pessoas de forma geral.
A
grande importância a Psicanálise está em dar o devido valor às influências
emocionais para a saúde como um todo de cada pessoa. De inicio a Psicanálise
tinha apenas um objetivo, a compreensão do funcionamento psíquico, mas
percebe-se que esta compreensão poderia trazer alivio e ajuda emocional para as
pessoas que tinham suas vidas paralisadas ou prejudicadas devido a traumas
emocionais ou disfunções que até então não eram reconhecidas pela medicina
vigente.
Na
Psicanálise,
a transferência é um fenômeno que ocorre na relação entre o paciente e o
terapeuta, quando o desejo do paciente irá se apresentar atualizado, com uma
repetição dos modelos infantis, as figuras parentais e seus substitutos serão
transpostos para o analista, e assim sentimentos, desejos, impressões dos
primeiros vínculos afetivos serão vivenciados e sentidos na atualidade. O
manuseio da transferência é a parte mais importante da técnica de análise.
A Psicanálise é um conjunto de teorias
psicológicas e psicopatológicas em que são sistematizados os dados introduzidos
pelo método psicanalítico de investigação e de tratamento. A aceitação de
processos psíquicos inconscientes, o reconhecimento da doutrina da resistência
e do recalcamento e a consideração da sexualidade e do complexo de Édipo são os
conteúdos principais da Psicanálise e os fundamentos de sua teoria, e quem não
estiver em condições de subscrever todos, não devem figurar entre os Psicanalistas.
Através
da clínica psicanalítica saberemos a razão do por que somos, o que somos, por
que pensamos como pensamos e por que agimos como agimos.
Com
estas descobertas iremos nos tornar pessoas mais livres, felizes, mais resolvidas
e conheceremos quem realmente somos.
O
atendimento psicanalítico atua não só nas profundezas do inconsciente, identificando
as causas das angústias humanas, mas também nos distúrbios psicossomáticos, nas
dependências químicas, nas psicopatologias e nos distúrbios de comportamento.
A Psicanálise
vai lhe ajudar a se conhecer melhor, a lidar melhor com seus conflitos, a
conviver melhor com as pessoas do seu convívio e a ter uma vida mais
satisfatória e feliz.
Todo
o ser humano precisa de terapia, mesmo não tendo ainda somatizado os seus
conflitos interores.
A IMPORTÂNCIA DA PSICANÁLISE PARA A
SOCIEDADE
A
clínica psicanalítica atua nas seguintes áreas: Distúrbios psicossomáticos, Fobias,
Depressões,
Neuroses, Ansiedade, Conflitos existenciais, Histerias,Angústias,Transtorno
Obsessivo Compulsivo, Dependências,Transtornos de conduta,Distúrbios
alimentares,Manias, Estresse, Estresse Pós-Traumático,Psicopatologias, etc..
Algumas
pessoas mal informadas pensam que Psicanálise é coisa para gente doida,
neurótica, histérica, ou para quem é rico e não tem o que fazer, então vai
matar tempo com o analista. Que é chegar num consultório, ficar deitado num
divã, falando sem parar, com o analista longe de seu campo de visão, ouvindo-o
ou fazendo sabe-se lá o quê...
Mas
muitos procuram a de Psicanálise por vontade própria, num momento muito difícil
de suas vidas. A atitude das pessoas procurarem um analista com empatia
imediata com ele é muito positiva, pois já começam o processo com vontade e
confiantes que dali resultaria algo positivo. Quando vamos com boa vontade ao
consultório e encontramos um profissional com experiência, que nos entenda, que
nos atenda bem estamos fortalecendo o nosso processo de cura.
Fazer
a análise é algo muito bom. Não é coisa de doido ou de desocupado. É um
processo que o ajuda a melhorar como pessoa para si mesmo. Você estando com o
desejo de que as coisas fluam, estando com um profissional habilitado e humano,
consegue importantes resultados positivos. Conhece-se melhor, em primeiro
lugar. Começa a discernir o que é bom ou não para você, dentro de si, em sua
vida, em seus atos, nos seus contatos pessoais. E aí vem o amar-se melhor,
respeitar-se mais, reorganizar a vida pessoal, afetiva, social, profissional,
já que você está mais próximo de si e do que quer e precisa para estar bem. A análise
essencialmente um processo de autoconhecimento orientado por um profissional
que o ajuda a encontrar respostas dentro de você mesmo e quando necessário lhe
dá orientações e "dicas" de como poderia proceder de forma positiva. O
Analista não vai resolver seus problemas por você. Ele lhe apresentará
instrumentos para isso, muitos resgatados de dentro de você mesmo. Portanto, a
análise só dá certo quando permitimos, colaboramos. O profissional pode ser
maravilhoso, habilitado, com uma técnica ótima, mas, se eu não quiser a a
terapia não vai fluir e não terá progresso. É necessário colaborar, pois o
poder de cura não está no analista, e sim no analisado.
Existem
casos em que o Psicanalista deu alta para a pessoa depois de 3 meses de
análise. Por quê? Na verdade, porque o paciente analisado não cooperava em
nada, não se abria, não permitia que o processo acontecesse de forma alguma. Este
exemplo só para reforçar que se o paciente não faz a parte dele, a coisa não
vai para frente. É muito importante não desistir da Psicanálise. É necessário
perseverar no tratamento. Há um provérbio que corrobora com esta ideia: Na
perseverança do propósito, está o segredo da vitória. Para fraseando, só
teremos pleno êxito no tratamento se perseverarmos.
O Psicanalista
é um facilitador. Há profissionais e profissionais, que seguem diferentes
linhas da Psicanálise. Pode ser que ele peça para que deite num divã e fique
sentado fora de seu campo de visão, pode ser que ele peça que se assente numa
poltrona de frente para ele, ou mesmo dê a opção de escolher, se quer o divã ou
a poltrona. Pode ser que ele ouça mais e você fale mais, ou vice-versa, isso
também varia de sessão para sessão, de momento para momento. O bom profissional
saberá quando agir de uma forma ou de outra. A sessão pode ser de grande interação
entre você e ele, parecendo mesmo uma conversa, um diálogo. Ele pode ser mais
distante ou mais próximo, afetivo. Psicanalistas são pessoas como você, com
características próprias e diferentes de um para o outro. Além de profissional,
ele é um ser humano, que também tem problemas, alegrias, ama, se frustra,
conquista. Ou seja, há Psicanalistas de todos os tipos para todas as
preferências e necessidades.
Outra
coisa que se ouve muito é alguém dizer que saiu arrasado de uma sessão de
análise, que é muito difícil o processo. Algumas sessões são mais densas que
outras, mais impactantes, e podemos sair do consultório aparentemente pior do
que chegamos. É que geralmente ficamos assim quando alguém nos diz algo que
mexe com nossas convicções, com nossos medos, traumas. Não gostamos quando
alguém nos dá uma "chamada". Mas, adiantaria se o analista ficasse o
tempo todo dizendo "amém" para o que falamos, somos e fazemos? Um
amigo de verdade muitas vezes discute com a gente para que nos melhoremos.
Assim como o bom profissional às vezes nos "repreende" quando estamos
nos fazendo ir "poço abaixo", ou dando "murros em ponta de
faca". Uma chamada à realidade, a não compactuação com uma fantasia negativa
nossa na forma de uma exortação é para o bem da gente, para nosso crescimento e
melhora.
O Psicanalista
pode lhe repreender para fazer você parar para pensar, cair na realidade. Vai
auxiliá-lo, depois, na busca por respostas e atitudes positivas, dará
orientações, que, se você estiver aberto para ouvir e pensar sobre, verá que
são muito úteis. Ele não irá lhe chamar à atenção e só. Vai fazer isso e quando
oportuno trabalhar com você na busca de soluções.
Portanto,
há profissionais diferentes, linhas diferentes. Haverá um profissional com quem
se identifique e uma linha de análise com a qual isso também aconteça. Talvez o
medo real não seja do analista, nem da imagem que se faz da Psicanálise, do que
os outros vão dizer quando souberem que você faz análise. O medo maior talvez
seja o de você entrar num processo que irá mexer com seus conceitos, ideias,
mitos, que o obrigará a ficar cara a cara consigo, conhecer seu interior e
reformulá-lo. Ou seja, dá medo de mexer na situação, muitas vezes, por pior que
percebamos que ela esteja. Dá medo perceber que vivemos uma mentira, ou que
fingimos ser o que não somos que nos machucamos por hábito ou nos vitimizamos
para chamar a atenção, daí vai. Conhecer-se de verdade pode ser amedrontador.
Mas, na Psicanálise, isso é feito dentro do seu tempo e dos seus limites, não
precisa ser uma "terapia de choque". E é feito para seu benefício. Vale
a pena enfrentar esse medo e tentar, se perceber que quer que chegou a hora. Os
resultados positivos, quando começam a aparecer e ser percebidos, valem o
esforço.
Cuidemos
de nossas próprias vidas. Precisamos nos tratar. Vamos atrás do que pode ser
bom para nós, mesmo que possa parecer desgastante no começo, mesmo que
fantasiemos que será difícil. Só não se impeça de começar por medos infundados
ou por ignorância em relação à coisa. Converse com quem faz, colha informações,
impressões, leia sobre, reflita, se desejar, antes de partir para a ação, no
caso, a Psicanálise. Quando sentir que pode ser o momento, vá. Arrisque-se. A
chance de valer muito a pena, de ser muito bom, é bastante grande! Sem se
preocupar quanto tempo demorará o processo, quando terá alta, etc., de repente
pode se tornar algo tão positivo para você que a análise será por tempo
indefinido.
A Psicanálise
compreende tanto a teoria freudiana dos fenômenos psíquicos, como a técnica
para estudar o inconsciente. O ponto de partida de Freud para o estabelecimento
de sua teoria foi essencialmente clínico. Em sono hipnótico, uma paciente de Breuer
e Freud revelou vários episódios de sua vida, sentindo-se depois aliviada.
Surgiu assim o método catártico, fundamental na terapêutica psicanalítica. Daí Freud
concluiu que os sintomas histéricos, (sua paciente era uma histérica) são
símbolos comemorativos de certos sucessos traumáticos da vida pregressa do
paciente, os quais podem deixar de perturbar a mente do indivíduo, quando
trazidos a luz da consciência.
Partindo
dessas e de outras experiências, Freud construiu todo um sistema, onde
desempenha papel fundamental o conhecimento das diversas fases psíquicas do desenvolvimento
do indivíduo. Desde cedo Freud deu grande importância aos fatos eróticos na
formação da personalidade. Atribuiu, todavia um sentimento bastante lato à
noção de libido e da própria sexualidade que, na concepção psicanalítica, não
se restringe ao âmbito da região genital, mas abrange toda uma série de
fenômenos relacionados com a obtenção do prazer corporal. Segundo a Psicanálise,
a criança passa nos primeiros meses de vida por uma fase de sexualidade difusa
por todo o corpo, e que somente mais tarde se concentrará nas zonas erógenas.
Nos
primeiros anos de vida a atenção da criança, sua tendência sexual, é atraída
por um dos pais: o menino pela mãe e a menina pelo pai. Todavia, sob a ação
repressora do meio ambiente, a libido infantil entra num período de latência e
a criança aprende a recalcar seus desejos e a escondê-los. Com o
desenvolvimento, o indivíduo se abre para os colegas do sexo oposto e supera as
fases anteriores, mas podem permanecer resquícios, em maior ou menor proporção,
dessas dificuldades sexuais infantis, determinando certas formas de conflitos
psíquicos ou de anormalidade na conduta sexual.
A Psicanálise
atribui ainda grande importância aos fenômenos do inconsciente. Muitos dos atos
de nossa vida, não apenas os instintivos, mas também os aparentemente
reflexivos realizam-se sem que deles tenhamos consciência. Se os impulsos e
tendências do inconsciente são contrários à orientação da consciência, eles não
se realizam abertamente porque a censura os recalca. Mas as tendências reprimidas
não são eliminadas; continuam agitando o inconsciente e provocando conflitos
psíquicos.
Freud
foi um dos primeiros a perceber que sintomas neuróticos ou histéricos (como o
exemplo de pacientes que sofriam de síndrome do pânico, mas naquela época não havia
diagnóstico e nome cientifico para estes quadros, portanto não eram
reconhecidos nem tratados pelos médicos de forma eficiente). Essa percepção se
dava através da escuta ao paciente, sendo que muitas vezes este simples ato de
escutar, por si só, já se mostrava terapêutico, já apresentava redução nos
sintomas, nascia a Psicanálise.
As
primeiras teorias psicanalíticas se referiam aos desejos reprimidos, a
inaceitação cultural que forçava sentimentos ao calabouço do inconsciente.
Alguns seus pacientes tinham questões problemáticas de natureza sexual, os
sonhos passaram a ser considerados fonte de informação a respeito do
funcionamento da mente humana.
A
associação livre foi o método desenvolvido por Freud e que fez parte da Psicanálise,
onde as pessoas sentiam-se totalmente à vontade para dizer tudo o que lhes
passa na mente, suas necessidades, angustia, desejos reprimidos, e experiências
de vida. O Psicanalista escuta e analisa todo o material fornecido pelo
paciente de forma totalmente neutra, ou seja, não há julgamentos na Psicanálise,
o Psicanalista é totalmente empático em relação ao seu paciente dando total
segurança ao momento de análise.
O INCONSCIENTE
Impossível
observar diretamente o inconsciente, a Psicanálise percebeu que podemos
conhecer apenas os meios pelos quais ele se manifesta, como por exemplo os atos
falhos, sonhos e chistes.
Ato
falho é uma forma de expressar elementos que não seriam aceitos pela pessoa se
fosse transmitido de forma direta, por exemplo, ao chamar sua esposa de mãe
este homem está informando que existem sentimentos contraditórios e até
inadequados ao papel que esta esposa estaria expressando em sua vida, talvez
este homem deseje ou veja sua esposa em um papel de mãe, mas como sabe que
seria inaceitável culturalmente ter a expectativa de que sua esposa cumpra este
papel ele se reprime de expressar abertamente, e sem quere, expressa este
desejo através do ato falho. Sendo assim o inconsciente é visto como outra
persona, interna e de difícil acesso mas ainda muito atuante e influente nos
comportamentos e sentimentos.
Conversar
com os pacientes, ouvi-los, permitir que falem e expressem seus sentimentos
pela Psicanálise foi realmente muito inovador para a época. Se você pensar que
até mesmo hoje em dia ainda nos admiramos com os médicos que oferecem tempo ao
seus pacientes para que descrevam seus pensamentos e sentimentos, imagine
naquela época. Formular um método e uma técnica para este diálogo Psicanalista
/ paciente foi de grande alivio para um numero enorme de pessoas que sofriam
caladas sem ter a quem recorrer quando seu sofrimento não podia ser curado com
pomadas ou ataduras.
O
foco que a Psicanálise deu à sexualidade chocou a muita gente, mas foi um
importante passo para que se iniciasse um dialogo e compreensão sobre a ajuda
emocional possível.
Freud
enquanto Psicanalista via a psique humana como energia - energia psíquica, mas
uma energia que precisa que se dê vazão, por exemplo, caso a pessoa não possa
dar expressar sua energia pela via da sexualidade terá que encontrar outro
caminho, talvez através da vida profissional. Esta energia também é limitado,
caso use demais em uma área, faltará em outra.
Essa
energia vem das pulsões sexual e agressiva, e precisam ser controladas através
da educação e da pressão social. Sendo assim toda pessoa é hedonista, movida
pelo desejo de dar vazão as sua pulsões.
O
Consciente abrange todos os fenômenos que em determinado momento podem ser
percebidos de maneira conscientes pelo indivíduo;
O
Pré-consciente ou Subconsciente refere-se aos fenômenos que não estão
conscientes em determinado momento, mas se tornar conscientes se a pessoa
desejar;
O
inconsciente que diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não são conscientes
e somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se, por exemplo, pela
Psicanálise. (O termo Subconsciente é muitas vezes usado como sinônimo, apesar
de ter sido abandonado pelo próprio Freud.)
ID,
EGO E SUPEREGO
Segundo
os Psicanalistas o aparelho psíquico se divide em 3 estruturas:
ID
– é a fonte da libido, formado pelas pulsões, instintos, impulsos e desejos
inconscientes. Funciona pelo principio do prazer, busca o prazeiroso e evita o
desconfortável. Não planeja nem aguarda o melhor momento, apenas busca sua
realização. Desinibido e aceita a realização pela fantasia, mesmo que
concretamente não haja o ato concreto. É cego e irracional.
EGO
– Movido pela realidade, permite que o id se manifeste, mas leva em conta as
outras pessoas e situações externas. É racional, planeja e sabe retardar a
satisfação do desejo para melhor adequação.
SUPEREGO
– São os valores da sociedade se manifestando, a moral e os bons costumes falam
mais alto. Seu objetivo é inibir mesmo que através de sentimentos de culpa,
manter um comportamento moral mesmo que irracional e buscar a perfeição.
O Ego
está, assim, constantemente sob tensão na sua tentativa de harmonizar a ação do
Id, do mundo exterior e do superego.
OS
MECANISMOS DE DEFESA DO PSIQUISMO HUMANO
REPRESSÃO
- Reprime e recalca informações ao inconsciente.
FORMAÇÃO
REATIVA - Onde o sentimento expresso é oposto ao verdadeiro.
PROJEÇÃO
- Onde a pessoa atribui aos outros as idéias que são suas.
REGRESSÃO
- Quando se retoma comportamentos infantis.
FIXAÇÃO
- É um congelamento no desenvolvimento.
SUBLIMAÇÃO
- É a satisfação de um impulso inaceitável através de um comportamento
socialmente aceito.
IDENTIFICAÇÃO
-É o processo pelo qual um indivíduo assimila um aspecto, uma característica de
outro mesmo que este outro seja seu agressor.
DESLOCAMENTO
-É quando as agressões são direcionadas
a outras pessoas pela impossibilidade de direcionar a quem de fato se refere.
A Psicanálise
tem por função exteriorizar essas tendências recalcadas. Mas como o estudo do
psiquismo não se baseia em dados concretos e claramente demonstráveis, a Psicanálise
procura resolver problemas que ainda há pouco nem sequer eram formulados e cuja
existência é ainda, muitas vezes, contestada. Como os neuróticos são formados
geralmente pela corresponsabilidade do indivíduo e da sociedade, esta procura
constantemente rejeitar as descobertas da Psicanálise que, direta ou
indiretamente, condena certos comportamentos coercivos de nossa estrutura
social.
Não
resta, porém a menor dúvida que, enquanto a Psicanálise descobre as origens dos
males psíquicos, ela revela os caminhos a serem seguidos para que o mal, seja
evitado ou remediado. Graças à divulgação dada por Jung e Adler, às descobertas
de Freud e Breuer, o ritmo proporcional de aparecimento de neuróticos em nossa
sociedade tem sido contido. Além disso, resta a esperança de que à medida que
essa conceituação de análise psíquica for sendo vista com mais naturalidade e
menos desconfiança por parte dos responsáveis pela formação dos indivíduos, a
sociedade dos homens tornar-se-á mais livre e, consequentemente, mais feliz.
O pensamento
freudiano permanece ainda na concepção dominante em Psicanálise, mas já passou
o tempo em que eclipsava todos os outros que se ocupavam do problema. Embora
após Freud, os Psicanalistas tenham seguido rumos muitas vezes diferentes, a
doutrina psicanalítica depende hoje de outros grandes psicólogos e psiquiatras como
Erich Fromm, Leopold Szondi, Adler e Jung, principalmente.
Com
esses sucessores de Freud, a Psicanálise lançou novas luzes sobre o
inconsciente e pôs mais em relevo o papel deste, no conjunto da vida psíquica.
É preciso porém reconhecer que se a psicologia foi enriquecida e consideravelmente
renovada pela Psicanálise, esta contribuiu para a perda acadêmica daquela.
Tratando com neuróticos e indivíduos mais ou menos anormais, o Psicanalista é
levado a ver desequilíbrio em toda parte e, supondo-o, provoca-o. Em todo caso,
o domínio do inconsciente desvendado primeiramente por Freud, tornou-se hoje o
campo de estudo de outros grandes nomes de nosso século.
A IMPORTÂNCIA DO PSICANALISTA CLÍNICO
O Psicanalista
Clínico é um profissional que pratica a Psicanálise em consultórios, clínicas e
até hospitais, empregando metodologia exclusiva ao bom exercício da profissão,
quais sejam, as técnicas e meios eficazes da Psicanálise no tratamento das
psiconeuroses. Para atingir plenamente seus objetivos, o Psicanalista deve ser
uma pessoa com sólida formação humanitária, visto que a profissão requer uma
acentuada cumplicidade entre analista e seu paciente. Os Psicanalistas têm sua
profissão classificada na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) no
Ministério do Trabalho, Portaria nº 397/MTE de 09/10/2002, sob o nº 2515.50,
podendo exercer sua profissão em todo o Território Nacional.
Há
uma grande necessidade de Psicanalistas para orientar as pessoas na solução de
seus problemas existenciais, tais como: fobias, ansiedades, depressões,
obsessões, impulsos auto e heteroagressivos, angústias e crises de toda ordem.
O profissional de Psicanálise ajudará a sociedade a ficar mais humana.
O Psicanalista
é o profissional que possui uma formação em Psicanálise, método terapêutico
criado pelo médico austríaco Sigmund Freud, que consiste na interpretação dos
conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias de uma pessoa,
baseado nas associações livres e na transferência. Para as instituições
formadoras, o Psicanalista pode ter formação em diferentes áreas de ensino
superior.
No
dia 06 de maio comemora-se o Dia do Psicanalista. A data escolhida em homenagem
a Sigmund Freud que nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg, Moravia
(atualmente Pribor, Checoslováquia).
A motivação na busca
da Psicanálise pode surgir quando a pessoa percebe que está diante de alguns
acontecimentos e fatos na sua vida que parece estar causando um
“desprazer”significativo que o leva a um considerável sofrimento aparentemente
inorgânico.
Quando parece que a
vida não tem mais sentido ou não existe mais gozo, prazer que satisfaça sem
sofrimento; fazer análise pode ser bom para o analisando. Embora não exista
anestésico ou mágica alguma em fazer análise, é importante pois é uma
empreitada do “conhecer-se a si mesmo”. Em algumas situações mesmo que tudo
pareça estar normal e sob controle, ainda que se tenha família, amigos e
sucesso no trabalho; muitas pessoas sente-se tristes e com uma série de
limitações na sua vida. Seja pelos sentimentos de ansiedade, depressão,
solidão, ou um quadro de diversas doenças e alergias que podem ter como pano de
fundo o psicossomático.
Daí, muitas vezes a
necessidade de recomendar ao analisando que faça exames clínicos e procure seu
médico de confiança periodicamente conforme for recomendado, investindo assim
em prevenção e qualidade de vida. A Psicanálise jamais vai substituir exames
médicos e clínicos. Algumas pessoas apresentam sintomas como, medos
irracionais, baixa autoestima, pensamentos repetitivos e rituais (próprios
seus) e acabam virando escravos disso; seja em casa, no trabalho ou nas suas
relações familiares e sociais. A análise psicanalítica consegue levar a pessoa
ao mergulho e elucidação dos conteúdos do inconsciente humano, e lá pode ser
encontrado grandes tesouros ou também grandes fantasmas. Fazer a travessia sem
mergulhar no conteúdo submerso e quase que infinito do seu inconsciente, pode
transformar a caminhada em tudo, menos em Psicanálise. É no inconsciente que
pode existir um quadro de repreensões, desejos reprimidos, recalques, traumas
com algumas penalizações extensivas (até para o Hoje de cada um).
Há pessoas que podem
apresentar dores ou sintomas físicos sem que uma causa orgânica ou patológica
clínica venha justificar esses sintomas; há ainda os que vivem em desânimo, são
solitários com dificuldades para trabalhar, ou que experimentam repetidos
fracassos profissionais ou até mesmo em suas relações afetivas. Muitos vivem
numa tensão permanente nas relações pessoais, afetivas, a desconfiança é quase
que constante com respeito às demais pessoas, a incapacidade para manter
relações amorosas mais duradouras e ainda as dificuldades na área da sua
sexualidade; tudo isso são sinais de alguma neurose que pode ser conhecida e
consequentemente analisada. Nem sempre esses distúrbios surgem como sintomas
conscientes e racionais no tempo e em sua forma de viver o dia-dia de cada um
que chega ao consultório. Pois a própria queixa inicial do analisado pode ser
um “mecanismo de defesa” que só é transgredido após a parceria psicanalítica. O
Psicanalista poderá observar se há também certos traços peculiares na maneira
de ser da pessoa.
O que o leva a
repetir padrões de comportamento que limitam suas potencialidades e a
capacidade de usufruir e gozar a vida com mais harmonia, equilíbrio e domínio
de si. Uma vez formado o “par analítico” , após algumas sessões, qualquer uma
dessas situações de conflito emocional-psíquico do analisado pode ir se
elucidando gradativamente. Já que não existe prazo de validade e de garantia na
análise, mesmo que durem meses ou até anos; o analisado só vai mudar aquilo que
ele mesmo julgar “conveniente” “per si” já que o Psicanalista não é seu (patrão,
pai, chefe, Deus), o livre arbítrio do analisado é sempre e eticamente
respeitado. A função da Psicanálise é levar o analisado conhecer-se a si mesmo;
isto é, leva-lo ao autoconhecimento. Não existe nenhuma restrição médica ou
clínica para a pessoa não ser psicanalisada; desde que possua a capacidade de
pensar, falar e raciocinar livremente suas idéias (entre a inteligência e
imaginação) e estando em sua normalidade mental. A Psicanálise não possui
efeitos colaterais ou indesejados à saúde física e mental; ela não prescreve
medicação alguma, apenas lida com o conteúdo submerso no inconsciente humano,
no intento de reorientar o ser humano.
Descobrindo assim
suas neuroses e com liberdade de pensamento e verbalização das emoções e
desejos reprimidos; a pessoa estará habilitada para reorganizar e reorientar a
sua vida. A persistência e frequência nas sessões também pode ser um fator
decisivo. Psicanálise só não é indicada para quem não quer mudar nada e que não
queira conhecer-se! Fazer análise é ter coragem para fazer uma travessia de ida
e volta ao nosso “Céu” ou ao nosso “inferno” sem querer aqui dar uma conotação
religiosa aos termos, mas sim filosófica. Fazer análise nos ensina como melhor
lidar com as “próprias” neuroses e aflições humanas! Na análise há a verdadeira
possibilidade da libertação do “humano mais humano” que reside dentro de cada
um. O trabalho de “cura psicanalítica” consiste em tornar possível o advento da
palavra no lugar do sintoma; o ser humano fisicamente é um mamífero e psiquicamente,
é um ser de filiação linguística.
O Psicanalista
trabalha com o ouvir sem julgo, preconceitos, castigos, punições (sejam elas
culturais ou religiosas) que morem no inconsciente humano ou faça parte do seu
cotidiano.
O Psicanalista é o
maior de todos os ouvidos do inconsciente humano; ele ouve “o que ninguém mais
quase sabe ou aprendeu a ouvir” ele vê o que a pessoa comum é ensinada a não
ver. A máxima de Freud é a associação livre das ideias e é nisso que o
analisado vai elaborando com o seu Psicanalista uma travessia de confiança e
libertação das suas neuroses.
A
análise é uma parceria entre o analisando e o analista, no curso da qual o
primeiro se torna consciente da origem oculta de suas dificuldades. Não é uma
tomada de consciência intelectual, mas emocional. Na análise tradicional, o
analisando deita-se no divã e procura dizer tudo que vem à cabeça permitindo,
dessa forma, que apareçam aspectos da mente não acessíveis a outros métodos.
O
analista ajuda a organizar os conteúdos inconscientes conjuntamente com o
analisando que, a partir daí, aprimora, corrige, rejeita e adiciona mais
pensamentos e sentimentos. Durante o tempo em que uma análise acontece, o
analisando entra em contato com esses “insights”, examina-os repetidamente com
o analista e os observa na vida diária, nos devaneios e nos sonhos.
Analisando
e analista unem-se no esforço não só de modificar padrões de comportamento
insatisfatórios e remover sintomas incapacitantes, mas também para ampliar a
liberdade de trabalhar e amar.
A
pessoa não precisa sentir necessidade de tratamento para obter benefícios com a
investigação psicanalítica. O desejo de se conhecer melhor e de funcionar
melhor no mundo podem ser motivações suficientes.
Um
tratamento psicanalítico envolve sessões regulares de 45 ou 50 minutos,
preferencialmente de três a cinco vezes por semana, por tempo indeterminado. A
alta frequência e o tempo prolongado da terapia são condições importantes para
o acesso ao inconsciente e para a modificação dos seus conteúdos.
Diversos
estudos e a experiência clínica têm demonstrado a eficácia da Psicanálise no
alívio do sofrimento psíquico e nas transformações emocionais que levam a uma
melhor qualidade na vida pessoal e de relacionamentos. Esses ganhos permanecem
muito tempo após a conclusão do tratamento devido à capacidade de
auto-observação que o indivíduo adquire ao longo de um processo psicanalítico.
Quem
entra num tratamento psicanalítico com um analista qualificado tem uma grande
chance de realizar os objetivos e o alívio dos problemas que motivaram sua
busca do tratamento. Isto demandará tempo e compromisso de sua parte, assim
como de seu analista.
O JURAMENTO DO PSICANALISTA
"Juramos
perante todos os poderes do homem e, acima de tudo, perante nossas próprias consciências,
fazer dos ensinamentos básicos da Psicanálise uma chama sempre viva, que
iluminará perenemente os imensuráveis caminhos que devemos percorrer em busca
da verdade, do direito e da fé para com nossos semelhantes. Jamais permitiremos
que os poderes que nos foram conferidos, através do conhecimento do psiquismo
humano, sirvam para criar privilégios ou manter o poder de uma minoria, em
detrimento da coletividade; e, mesmo assim, faremos o possível para que esta,
em seu poder avassalador, não transforme os seres humanos em, apenas, mais uma
unidade de força.
Tudo
faremos para que o Homem apareça sob sua verdadeira imagem, protegido pelo
inalienável direito de Liberdade, Fraternidade e Amor ao próximo, sentimentos
que transformam os seres humanos em constelações de um todo e único Universo.
Nunca nos deixaremos intimidar pela aparente fraqueza da espécie humana e,
diante disto, jamais empregaremos o ódio, a vingança, ou a acusação, para
aplacarmos, através deles, o nosso próprio medo, covardia ou vergonha.
Usaremos
sempre da maior cautela possível ao analisarmos nossos semelhantes e, antes de
estruturarmos a nossa concepção, prometemos viver os dramas que descobrimos,
para, assim, conscientemente, acharmos os necessários mecanismos que lhes
sirvam de defesa para o completo estabelecimento de seu equilíbrio
psicossomático. Mesmo nas horas mais difíceis, juramos não transformar estes
conhecimentos em situação mercantilizadora. Muito ao contrário, faremos, de
nossas naturais fraquezas, novas forças para continuarmos o nosso trabalho de
pesquisa do psiquismo humano.
Todas
as descobertas úteis deverão se transformar em direito comum, com o qual
procuraremos moldar a Humanidade, não ao sabor de nossas exigências, mas sim na
imperiosa norma de suas naturais necessidades. Criaremos em conjunto, ao lado
do respeito para com os complicados mistérios da "psique humana",
sentimentos de desprendimento, igualdade e compreensão. Somente assim, despidos
de quaisquer melindres condicionadores, caminharemos para nossos verdadeiros
destinos, através da História, criando, sempre, condições para que o sentimento
da caridade possa imperar.
Sempre
nos conduziremos através dos diálogos e das pesquisas. Nunca nos contentaremos
com uma só verdade. E, ao lado das relações humanas que, acima de tudo,
criaremos em nosso ambiente, chegaremos à análise científica de todos os
traumas que assolam a humanidade, para, assim, dentro do vasto campo da Psicanálise,
que adotamos por doutrina, tentarmos encontrar as verdadeiras soluções, onde
quer que estejamos. De posse delas, sem os limites impostos pelos costumes,
pelos partidarismos político-religiosos ou pela moral radicalizadora,
prometemos, cause o impacto que causar usá-la em benefício da espécie humana,
numa missão que sabemos árdua, mas que, por isto mesmo, juramos hoje
transformá-la em nosso único e idealístico sacerdócio." (Texto de autoria
da Psicanalista Lazir de Carvalho dos Santos).
A PSICANÁLISE NA VISÃO METAFÍSICA
A Psicanálise
pode ajudar o cristão a depurar e amadurecer sua fé e a não deslocar para Deus
e a religião as fantasias, frustrações infantis, neuroses, excessos de culpa,
rigidez e de moralismo.
É
muito comum, como Psicanalista, receber no consultório pessoas arrasadas pela
angústia e em estado depressivo considerável. Nos dias de hoje, as depressões
assolam jovens, adultos, idosos (vinte vezes mais comum nessa faixa etária) e
até mesmo crianças… As depressões são distúrbios que muitas vezes necessitam de
auxílio medicamentoso por se relacionarem às alterações bioquímicas passíveis
de ser harmonizadas com psicofármacos. Porém, sempre recomendo aos meus
clientes que naveguem em águas mais profundas e aproveitem o momento para uma
análise, ou seja: para uma viagem ao interior de si mesmos.
Os
remédios bloqueiam os sintomas ao harmonizarem a bioquímica alterada. Porém,
além de fatores genéticos, a pós-modernidade com seu individualismo,
competitividade, afrouxamento dos laços afetivos, neoliberalismo, associada à
história singular de cada sujeito, vai definir a saúde ou doença e o grau de
saúde psíquica das pessoas. Nos conflitos psicológicos, os medicamentos pouco
podem fazer… Muitas pessoas chegam desesperadas aos consultórios e demandam
verdadeiros milagres através dos psicofármacos. É preciso contextualizar e
ponderar a complexidade do distúrbio e não embarcar no imediatismo, outro
engodo de nossos tempos.
Ajudar
o cliente a criar uma demanda, uma questão, uma pergunta fundamental, uma
dúvida sobre suas neuróticas certezas, um hiato no seu discurso projetivo e
muitas vezes sem faltas é tarefa fundamental na tentativa de diminuir sua
alienação a respeito de si mesmo. Seria aparentemente muito mais fácil buscar
solução que venha de fora, sem esforço ou trabalho psíquico, sem ter de tocar
em suas feridas, sem ter que revirar a intimidade.
Apesar
de ser inerente ao ser humano, a ambivalência de sentimentos nas pessoas
depressivas chega a extremos, desencadeando a doença. As perdas reais e
imaginárias que o deprimido passa ao longo de sua vida, principalmente em sua
infância e adolescência, o conduzem processualmente à depressão. Essas perdas e
falta de cuidados, a maioria inconscientes, levam o sujeito a fantasias de
destrutividade e retaliação em relação às pessoas amadas. Odiar e destruir,
inconscientemente, aqueles que mais amamos é um conflito árduo para nossas
frágeis almas.
Os
depressivos geralmente são muito exigentes consigo próprios e têm ideais muitos
altos, já “engoliram muitos sapos”, justamente das pessoas que mais amam, e
estão cheios de mágoas e ressentimentos.
Processar
lentamente essas feridas estampadas e escondidas pela própria depressão é
desafiador, porém grandemente libertador. E a energia psíquica envolvida no
conflito poderá ser utilizada para outros fins, melhores para o sujeito e a
sociedade.
Uma
análise existe para processar todos esses conflitos inconscientes, uma pessoa
poderá reviver sem julgamento do analista, sua dor, mágoa, ódio, sua
destrutividade.
Nessa
etapa, gostaria de abordar de onde vem boa parte de nossos sentimentos de que
estamos em pecado ou em dívida com as pessoas, com o mundo, com Deus.
Nós
temos em nossa consciência, um espaço de liberdade e discernimento a nos
implicar em nossas ações e escolhas. Porém o inconsciente se interliga ao
consciente de forma inextricável e constitutiva da consciência. Isso nos leva
ao raciocínio de que nossa liberdade é apenas parcial no que se refere às
nossas condutas. Muito daquilo que denominamos pecado é na verdade limitação
histórica, falta de cuidados recebidos, falta de amor que acirra nossa
destrutividade e culpa inconsciente, e não pecado.
A
criança e o adolescente, ao se tornarem adultos, carregam, independentemente de
terem alguma religião, mais ou menos grau de culpa. Isso se dá pelas seguintes
situações vividas por todos nós no amadurecimento emocional (apenas enumerando
algumas delas):
•Culpa
por ter desejado ser exclusivo no desejo e na vida da mãe (e os desejos
inconscientes não morrem nunca).
•
Culpa por ter desejado, na fantasia, destruir o seio e o corpo materno e a
própria mãe como pessoa, por ter sido frustrado no desejo de exclusividade e
por ela não ter satisfeito todos os nossos desejos e necessidades.
•Culpa
por ter desejos incestuosos pelo genitor do sexo oposto e pela rivalidade com o
genitor do mesmo sexo.
•Culpa
por não ter pelos pais apenas sentimentos sublimes, construtivos.
•Culpa
por ter desejado a morte de irmãos rivais.
•
Culpa por ter desejado excluir o pai da relação mãe e filho(a).
•Culpa
por ter desejado, de maneira homoerótica, ou seja, o genitor do mesmo sexo ou
criança do mesmo sexo.
•Culpa
por não corresponder totalmente aos ideais que os pais gostariam, e por atos
que a criança, ao crescer (Superego), percebe serem contrários aos interesses
civilizatórios e familiares.
•Culpa
pela ambivalência afetiva constitutiva: o amor e ódio pela mesma pessoa (pais).
A
culpa é constitutiva da natureza humana, o excesso de culpa é patológico.
Mediante
esse rosário de culpas a criança, para não sucumbir, elabora fantasias e atos
reparadores. O amor e a sobrevivência dos pais são fundamentais para que as
reparações inconscientes possam integrar melhor o seu amadurecimento. A
reparação pode acontecer de várias formas, sadias e neuróticas, e pode nos
transformar em adultos éticos, criativos, bondosos, sublimes ou submissos,
excessivamente escrupulosos, obsessivos etc. Tudo isso movidos pelo desejo de
reparação interna e externa.
Quando,
na vida adulta, alguma situação apresenta semelhança com aquilo já vivido, o
inconsciente se manifesta e vem à tona algum rastro ou marca de culpa em nossas
consciências. A angústia sobrevém e sentimos necessidade de dar um nome ao
vivido. Esse descompasso, essa inadequação, essa coisa fora de lugar que
incomoda e gera desconforto costumamos associar, em nossa cultura
judaico-cristã, a pecado.
Há
Igrejas e modelos de Igrejas que tentam trabalhar a pessoa, bem ou mal
intencionadas (não cabem aqui julgamentos), pelo prisma do moralismo, do
dogmatismo e fundamentalismo. O ser humano, nesse estado, acaba perdendo muito
de sua espontaneidade e criatividade, além da capacidade de crítica. Movidas e
freadas pela culpa inconsciente, mais vivida na consciência como pecado, as
pessoas se tornam massa de manobra, escravas de líderes carismáticos, de normas
e regras farisaicas. E elas passam a tratar o próximo com enorme severidade e
rigor, como seus superegos as tratam.
Escutando
tantas pessoas todos os dias e há tantos anos em consultório, a cada dia mais
me convenço que a culpa mal trabalhada leva não somente a excesso de
escrúpulos, mas a neuroses, precipita doenças como a síndrome do pânico,
obsessões e até mesmo graves doenças psicossomáticas. Mas, principalmente,
conduz o ser humano a uma infelicidade crônica, a um boicote quanto a uma boa
qualidade de vida.
A
misericórdia que Jesus teve e tem por todos nós, filhos pródigos e herdeiros de nosso próprio
inconsciente e ideologias, deveria ser emblemática para nossas condutas quanto
a nós mesmos e aos outros. Realmente, não sabemos com exatidão aquilo que
fazemos conosco e com o próximo. Muito menos sabemos as reais motivações quanto
às condutas dos outros em relação a nós mesmos.
O
amor a Deus e ao próximo e o maior conhecimento e amor por nós mesmos são as
principais fontes de restauração aos danos reais e imaginários e às culpas
reais e imaginárias que carregamos. São as principais formas de restaurarmos
nosso ser e aqueles que amamos.
Falar
a respeito de pecado e perdão sempre tocou o inconsciente e as emoções das
pessoas. Em dias atuais, é comum a palavra “pecado” provocar reações díspares.
Em um extremo pode mobilizar tristeza, pânico, graves inibições. No polo oposto
poderá sobrevir deboche, indiferença, pois, para algumas pessoas, falar sobre
esse tema é “careta”, ultrapassado.
Nesse
grupo existe uma subdivisão interessante: há aqueles que se afastam
completamente dessa questão por não acreditarem em nada que se refira à
religião e aqueles que não suportam sequer escutar a palavra “pecado”.
Associam-na a sacrifício e penitências absurdas. De seus inconscientes,
retornam cenas de abuso de poder dos pais e de igrejas. Percorreram um árduo
caminho para se libertarem das amarras do castigo, do medo e, após alto custo
emocional e tortuoso caminho, descobriram, enfim, o amor de Deus.
Penso
que nos extremos desse grupo pode existir como pano de fundo, um intenso
sentimento de culpa inconsciente, forjado na infância dessas pessoas e não
trabalhado por elas. Os pais, as famílias, as igrejas podem colaborar e muito
para evitar esse excesso de culpa, que paralisa o ser humano. As crianças leem
no comportamento e no inconsciente dos pais como elas devem ser para se
sentirem amadas. E para angariar estima e amor se moldam no que imaginam
corresponder ao desejo deles. Muitas não puderam expressar e reprimiram
excessivamente suas raivas, mágoas e a sexualidade. Para essas pessoas, as religiões
podem desencadear novas culpas, tornar acentuados os conflitos inconscientes ou
ser uma alavanca em que se submetem compulsivamente a normas, regras, numa
obediência cega e infantil. Perdoam o próximo simplesmente “porque Jesus
mandou”, não se permitindo sentir raiva, questionar, refletir, elaborar os
fatos vividos.
O
perdão é um processo gradual, lento, doloroso, em que muitas vezes precisamos
vivenciar angústia, indignação e sentimentos contraditórios. Conflitos,
ambivalência, medo, raiva, culpa podem ser mobilizados e não devemos
reprimi-los excessivamente.
A
fé, infelizmente, pode ser utilizada como válvula de escape para a pessoa não
se dar conta de sua própria agressividade. E perdoar pode se transformar em
compulsão a reprimir a agressividade sentida, mediante a ofensa recebida. O
motor de todas essas defesas é o terrível sentimento de culpa inconsciente
desse grupo de pessoas, nada desprezível em termos numéricos.
As
religiões podem funcionar como fuga de uma agressividade mal canalizada, e a pessoa
não somente reprime a raiva que sente como retorna a mesma para o seu próprio
interior. Uma fé assim vivida pode levá-la à depressão, pânico e até graves
doenças psicossomáticas ou, no mínimo, a uma má qualidade de vida. Algumas
pessoas rompem bruscamente ou não aderem a nenhuma religião, criticando todas
elas.
A Psicanálise
é a ciência que lida com esses sentimentos de culpa da pessoa. Essa ciência
promove um maior espaço de liberdade e responsabilidade na construção de sua
história e do mundo.
Infelizmente,
Freud só percebeu a religião como uma neurose coletiva movida pela culpa e pelo
infantilismo, em que a criança projeta na figura de Deus seu desamparo infantil
e transfere (quando adulto) seus anseios de amor infinito, dos pais para um
“deus de prótese”.
Para
um Psicanalista cristão chega a ser doloroso esse fosso, esse abismo
aparentemente existente entre Psicanálise e religião, que o próprio Freud
tentou sustentar. Porém, é preciso lembrar que Freud sofreu muito em sua
infância com as humilhações e desprezos que seu pai, Jacó, passava por ser
Judeu. Além disso, tinha grande receio de que o puritanismo vitoriano, vigente
na sua época, rechaçasse suas desconcertantes descobertas psicanalíticas.
Apesar disso, nunca recusou pacientes que se declarassem adeptos de quaisquer
religiões e se tornou grande amigo de um pastor chamado Pfister. Esse último se
tornou Psicanalista e amigo para sempre.
A Psicanálise
pode ajudar o cristão justamente nos pontos que Freud criticou. Ela pode nos
ajudar a desfazer mitos inconscientes, idealizações quanto aos nossos pais da
infância, auxiliar na elaboração de nossa agressividade e a desfazer os
conflitos de nossa sexualidade. Articulada a uma fé madura nos ajuda a não
deslocar para Deus e a religião nossas fantasias e frustrações infantis.
E
assim depurados pela Psicanálise, as ilusões e idealizações infantis, e de
nossos excessos de culpa, estaremos mais aptos na descoberta do verdadeiro
Deus: o Deus do perdão, da misericórdia e do amor. Integrados pela fé madura e
mais livres de nossos conflitos inconscientes, estaremos mais abertos para
sentir e viver Deus em tudo e em todos.
Parece
estranho à primeira vista, mas algumas vezes em nossas vidas, não conseguimos
perdoar em profundidade, porque não sabemos exatamente o que e a quem realmente
perdoar.
É
que a força e o conteúdo maior de nossos sentimentos, mágoas, feridas se
referem a situações tão penosas e antigas, nos reportam à nossa infância e
adolescência – que os recalcamos em nossos inconscientes e nos tornamos alienados
desse saber. Porém, na vida adulta, quando situações semelhantes acontecem
conosco, deslocamos com toda força nossas indignações e mágoas mais acentuadas para
a situação atual. A mesma ganha fortes pinceladas emocionais, e a mágoa
dirigida às pessoas das relações atuais é desproporcional. Assim, é comum
escutarmos pessoas falando que “não foram com a cara” de alguém, mesmo que esse
jamais tenha feito qualquer coisa de prejudicial a elas… Isso não se refere
apenas ao “narcisismo das pequenas diferenças” como nos ensinou Freud. O
inconsciente é formado por traços de memória, por representações e fantasias
que a criança produz a partir de suas vivências, principalmente com os pais e
irmãos. Muito do que sentimos, na atualidade, vem dessa fonte que se aproveitou
de um gancho, de um dado atual para se reatualizar em nossas vidas. Até mesmo
um olhar, um lugar, um jeito de falar pode detonar a angústia ou o amor… Não
somos senhores de nossa própria casa, de nosso eu e o inconsciente penetra e se
apodera de boa parte dessa casa. Algumas vezes tratamos um vizinho ou algum
colega de trabalho com desconfiança ou frieza. Pequenas desavenças se
transformam em grandes confusões e disputas, pois no inconsciente, vizinho,
colega, por associação, pode representar um próximo, um irmão rival da
infância. Na vida amorosa, catástrofes, brigas, separações muitas vezes seguem
a lógica do inconsciente, da realidade psíquica.
Corremos
o risco de deslocar, projetar, transferir para o cônjuge todos os nossos
anseios e desejos de sermos amados incondicionalmente. Idealizamos uma relação
como gostaríamos de ter tido com nossa mãe (ou pai). No momento em que o
cônjuge sai desse lugar ou “falha”, todos esses anseios primitivos de amor
ideal podem vir à tona e a desilusão e a mágoa inconscientes podem reaparecer
ou nos causar angústias inexplicáveis ou até mesmo depressões.
A
figura de um político, policial, ministro religioso, professor ou alguém que se
coloque como autoridade, lei, pode ter o poder de nos remeter às nossas mais
primitivas angústias, medos e raivas enraizados nas formas como essas leis
foram passadas por nossos pais e introjetadas por nós.
Muitas
vezes perdoamos as pessoas de nossa realidade atual, fazemos um esforço
tremendo para resolver a situação. Mas a ferida mais profunda inconsciente e
infantil continua intocável. Somente aparamos a planta desse mal, mas suas
raízes psicológicas continuam vivas e prontas para se manifestar na primeira
oportunidade que tiverem.
Perdoar
é um processo complexo de libertação emocional e espiritual. Conversar com
Deus, com o ministro religioso, o amigo, o Psicanalista, com o agente da dor,
tudo isso pode fazer parte desse belo, doloroso e lento processo. Silenciar,
negar, sufocar a raiva inicial que o acontecimento provoca são as piores soluções,
pois isso não ajuda a elaborar o acontecimento e a realmente se livrar e
aprender com a situação. O ideal é que a pessoa consiga expor para o outro o
quanto foi atingida, e que no diálogo possa haver crescimento para ambos e a
reconciliação se faça. Porém, nem sempre isso é possível. Não controlamos o
outro, sua capacidade de rever a si mesmo e seu grau de espiritualidade. Quando
a ferida é muito profunda, ela ainda deixa um resto, uma cicatriz pela vida
toda. Ela só irá esmaecer-se por completo no instante final, quando o ser
humano em sua liberdade final estará mais próximo de suas verdades derradeiras:
a bondade e a misericórdia de Deus presentes.
A
capacidade de perdoar se diferencia de pessoa para pessoa. O grau de maturidade
da fé e a história singular da pessoa definem esse potencial. Para aqueles a
quem foi dada pouca oportunidade, em sua infância, de restaurar os outros,
quando diante de sua destrutividade, o perdão é mais difícil. A criança é
dotada do desejo de destruir a si e aos outros quando sente falta de cuidados
ou excessivas frustrações. Cabe aos pais a tarefa de diminuir essa
destrutividade através do amor. Caso este falte, as fantasias destrutivas
aumentam e a capacidade de reparação da criança pelos danos feitos em fantasia
aos pais, diminui. Quando adultos, terão menos capacidade de reflexão e
implicação nos seus atos, menos capacidade de perdoar a si e aos outros.
Perdoar
significa avanço psicológico e espiritual. É restaurar o outro e o mundo
interno. Ao perdoar o outro, estamos inconscientemente dando uma trégua ao
nosso próprio eu. Em termos de Psicanálise, nosso Superego, nossa parte da
mente que observa, julga e pune nossos desejos (Id) e atos, se torna, no ato do
perdão, menos exigente, menos carrasco. Nosso eu se torna mais livre e
saudável. Tratamos os outros conforme o nosso superego nos trata. Quando
perdoamos o outro, automaticamente nos apaziguamos.
Ao
longo da história, os conceitos de espiritualidade e religiosidade sempre
causaram grandes discussões no meio acadêmico e cientifico. Discussão esta que
em meados do ano de 2008 e inicio de 2009 tornou-se mais conhecida entre os
leigos em geral, pois os meios de comunicação em massa, especialmente revistas,
publicaram matérias referindo-se ao tema. Estas revistas abordaram temas
relevantes à saúde mental, em que pessoas buscavam a obtenção de ajuda de uma
força maior, algo divino, que lhes dessem forças para continuar a viver.
A
influência da espiritualidade e da religião na melhor recuperação de pacientes
têm se tornado tema de investigação para a ciência.
Psiquiatras
e psicólogos desenvolvem pesquisas para verificar se a religiosidade ou a fé em
alguma religião exercem influências na recuperação da saúde das pessoas.
A
espiritualidade, a despeito de seu frequente imbricar com a religião,
historicamente tem sido ponto de satisfação e conforto para momentos diversos
da vida, bem como motivo de discórdia, fanatismo e violentos confrontos.
Compreender esses aspectos torna-se importante para poder diferenciar entre a
prática saudável da espiritualidade e da religiosidade, pois os profissionais
da área de saúde, muitas vezes por não conseguir diferenciar tais aspectos,
acabam por desconsiderar algo que pode influenciar de forma contundente os
diversos tratamentos.
A
Religião tem sido definida de modo distinto de sua origem etimológica
(Religare, de religar), sendo mais a palavra utilizada no sentido de se
denominar um sistema determinado de representação de crenças e dogmas pelo qual
uma pessoa busca modelar sua existência, compartilhando crenças e doutrinas
institucionais. Por sua vez, a religiosidade ou espiritualidade poder ser
definida como a relação mantida por um dado indivíduo perante o Absoluto e o
Sagrado, de modo singular e pessoal. (Genaro Junior, 2008).
Dessa
forma, pode-se afirmar que nem sempre a religião de alguém reporta realmente a
um sentido espiritual. Richardson (1999) alerta que a leitura do analista de
conteúdo não é apenas uma leitura ao pé da letra, mas um trabalho em nível mais
aprofundado. Trata-se de obter significados de natureza psicológica,
sociológica e histórica.
Ao
longo do tempo o conceito de loucura modificou-se. Na Grécia a loucura era estudada
como doença orgânica. Durante a era cristã a loucura foi considerada como
possessão relacionada à religiosidade. Os que não praticavam o cristianismo
eram facilmente dominados e possuídos pelos demônios, que causavam tempestades
no corpo, fazendo surgir às dores e as doenças (Macedo & Jorge, 2002).
No
renascimento, por motivos econômicos, o louco foi considerado improdutivo ou
criminoso, excluído, por essa razão, da sociedade. A partir da metade do século
XVII, criaram-se hospitais e refúgios de internamentos. Esses locais ofereciam
alojamentos e alimentação para aqueles que se apresentavam espontaneamente ou para
aqueles que eram encaminhados pelas autoridades judiciárias ou reais (Tommasi,
2005).
No
final do século XVIII, no Iluminismo, o chamado tratamento moral, proposto por
Pinel (1745- 1826), transformou o trabalho como parte do tratamento asilar.
Para Pinel o trabalho assegurava e garantia a manutenção da saúde, dos bons costumes
e da ordem (Lima, 1999).
No
século XIX a percepção da loucura foi acompanhada do reconhecimento de
observadores, e passa a ser entendida não como a ruptura com a humanidade, mas algo
cuja verdade se esconde no interior da subjetividade humana (Macedo &
Jorge, 2000).
Desde
o Iluminismo, os intelectuais livres, de um modo geral, mantiveram uma atitude
de desprezo perante qualquer aspecto de religiosidade ou espiritualidade. As
experiências místicas, em especial de cunho cristão, eram vistas não raras
vezes como manifestações de transtorno psíquico, já que entendiam que por trás
de tais experiências haveria vários sinais que demonstrariam a existência de
psicopatologias as mais diversas (Gastaud, Souza & cols., 2006).
Isso
se mostra bastante patente em livros como O Anticristo (1888/2002), de
Friedrich Nietsche, que se utiliza de toda sua eloquência e paixão para atacar
os vários aspectos do Cristianismo, que era por ele considerado uma das piores
criações da humanidade, causa da decadência dos melhores valores e instintos
europeus (ou humanos). O pensador considerava que o Cristianismo tornava os
homens fracos, e que todos os métodos cristãos eram formas de enlouquecer os
seres humanos, pois se colocavam contra a natureza e os bons instintos.
Freud
(1931/1990) considerava que as questões que atraem as pessoas para a religião,
como a imortalidade, o castigo e a vida após a morte, eram puros reflexos da
psique mais profunda. Para o autor, a religião era apenas a manifestação
remanescente de nosso medo e identificação infantil com nossos pais, uma
neurose obsessiva universal.
Por
essa razão, o desenvolvimento psíquico fatalmente levaria ao afastamento da
religião. Porém, segundo Costa (2009), Freud, apesar de toda a sua crítica
perante a religião, às vezes, por meio de frases consideradas pelo autor como
provenientes de atos falhos, parecia ser um pouco mais favorável para com a
mesma.
Em
Moisés e o Monoteísmo (1939/1990), observa-se a afirmação de que a religião
mosaica teria procurado por intermédio da interdição da representação de Deus
por imagens, o desenvolvimento mental e o início da valorização da palavra e do
pensamento, pois o mesmo não poderia mais ser idolificado ou denominado conforme
as qualidades e defeitos humano, o que faria com que as percepções sensoriais e
os sentidos fossem colocados em segundo plano. Apesar de todas essas
considerações, muitas vezes Freud preferia até mesmo contrariar sua teoria, a
defender a manifestação religiosa.
Segundo
Costa (2009) isso ocorria devido a seus sentimentos de compaixão perante o
diferente, pois compreendia que a Institucionalização da Religião havia
provocado boa parte das guerras. Não se pode esquecer que Freud era judeu, e
que muito da justificação da perseguição feita ao seu povo era devido a
ideologias de cunho religioso. As coisas começaram a mudar nos Estados Unidos
da América, onde Willian James começou a se interessar profundamente pelas
experiências místicas e religiosas, e os estados alterados de consciência, pois
via neles um caminho para compreender o desenvolvimento pessoal (Fadiman &
Frazer, 1986).
Outro
pensador da Psicologia que demonstrou interesse e quase fascínio para os
fenômenos da Espiritualidade e da Religiosidade foi Carl Gustav Jung (1875 –
1961). Sua obra apresenta os símbolos religiosos com pontos essenciais para se
compreender o desenvolvimento da personalidade e da própria formação psíquica.
Considerava
a busca religiosa e espiritual um modo interessante de investigação da Psique
mais profunda de uma pessoa e do seu grau de maturidade (Fadiman & Frazer,
1986). A partir da influência de Freud na psiquiatria e na psicologia, e de
Stanley Hall na psicologia, os psiquiatras até os anos de 1990 desqualificavam
a religião como um todo. Por outro lado, a partir do final do século XX, o
interesse das ciências da Saúde modificou-se.
Repentinamente
pesquisas começaram a buscar provas da importância das práticas religiosas como
fator de bem-estar físico e mental, e como poderia auxiliar as pessoas a
superar vários problemas psíquicos, inclusive o estresse e a depressão (Koenig,
2006).
Grande
parcela da literatura vem apontando que fatores religiosos podem atuar como fonte
de resistência no enfrentamento das doenças. Pesquisas baseadas em
Questionários e com certa visão Comportamental Cognitiva sugerem que a
religiosidade pode ser algo bastante benéfico para a prevenção da saúde
(Gonçalves, 2004).
Mas
há de se considerar primeiramente que há uma diferença entre a religiosidade
saudável e não saudável. A religiosidade não patológica é aquela que pode
enriquecer o indivíduo com o passar do tempo, além de não prejudicar e
corromper a vida da pessoa. É, por assim dizer, a percepção clara e consciente
da experiência religiosa, sem que ocorra da perda da noção e crítica da
realidade.
No
entanto, reconhecer os limites da religiosidade patológica da não patológica
não é uma coisa tão simples (Koenig, 2006). Vários autores preferem considerar
que a própria busca de sentido tem um caráter religioso, postulando, dessa
maneira, como parta da natureza humana a experiência religiosa e espiritual.
Outros,
por sua vez, preocupam-se mais com seus aspectos culturais e sociais.
Considera-se o fenômeno religioso como contendo gradações distintas de
desenvolvimento, da mais primitiva às mais evoluídas, em que as últimas
contribuem para a manutenção da saúde ou para a sua recuperação (Genaro Junior,
2008).
A
crença insere a pessoa em um conjunto de dogmas e conceitos de representação;
enquanto a fé abarca dimensões maiores de envolvimento, impelindo coragem,
entrega e confiança perante o novo e desconhecido (Safra, 1999).
Em
termos winnicottianos, a fé revelaria um real saber adquirido, enquanto a
crença estaria mais ligada ao campo do conhecer ou ao contato superficial. Em
muitos casos, a busca religiosa é uma maneira de buscar não somente de conseguir
alívio, mas também de organização da personalidade (Genaro Junior, 2008). O
trabalho de Soreio, Colombo e cols. (2008), de base estatística, demonstra que
as oscilações entre fraca religiosidade e religiosidade exacerbada são
prováveis manifestações de transtornos mentais, especialmente do humor. Gonçalves
(2004), em seu estudo, aponta para a importância da religiosidade na
recuperação de pessoas com depressão, que acometem pacientes pós-cirúrgicos de
neoplasia mamária. Também denota que a depressão pode ser agravada devido ao
fato das pacientes sentirem-se lesadas em relação ao seu corpo e feminilidade. O
Transtorno Depressivo pode ser caracterizado pelas seguintes características
sintomáticas: humor deprimido, perda de interesse de prazer, fatigabilidade
aumentada e atividade diminuída, concentração e atenção reduzidas, autoestima e
autoconfiança diminuídas, ideias de culpabilidade e sentimento de desvalia,
ideias autolesivas, suicídios, sono perturbado e diminuição do apetite, que nos
casos mais acentuados transparece tanto na mímica como na sua atitude em geral
(Fenichel, 1997). A religiosidade e o apoio religioso podem, nesses casos,
fortalecer a esperança e desenvolver potenciais e capacidades de superação
(Peres, Simão & Nazello. Caso contrário, ver-se-ia, pela condição da
depressão, apenas a intensificação do sentimento de impotência e temor, além de
sentimentos de culpa desenvolvidos pelo indivíduo como formação reativa
mortificante (Laplanche & Pontalis, 1999).
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Buscou-se
no presente trabalho abster-se de julgamentos e visões pré - concebidas a
respeito da religiosidade e da espiritualidade. A religiosidade deve ser
diferenciada da instituição religiosa, ou religião; existe a religiosidade
tanto patológica (que provocariam distúrbios, principalmente de ordem psíquica)
e a religiosidade não patológica; os motivos para a prática religiosa podem
estar presentes tanto em termos existenciais como mentais.
A maneira
como a religiosidade é vivenciada pode contribuir para a recuperação do estado
de saúde. A compreensão do fenômeno da religiosidade deve ocorrer por meios de
pesquisas tanto qualitativas como quantitativas, por todos os campos da
ciência, além, é claro, dos saberes filosóficos e teológicos. Ao contrário do
que se poderia pensar, a religiosidade ainda é algo marcante e presente na vida
das pessoas, mesmo na pós-modernidade.
Parafraseando
Jung, mesmo que Deus não exista só a nossa crença Nele já faz com que Ele nos
influencie.
A
crença, nesse sentido, mantém e garante a representação religiosa ao longo dos
dias.
A
ciência psicológica lida com os fenômenos que envolvem a natureza objetiva e
subjetiva da pessoa. O fenômeno religioso dela faz parte como um belo campo de
pesquisa.
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Pesquisa
realizada pelo Dr. Josué Campos Macedo