A abordagem humanista existencial não é apenas uma teoria psicológica, mas uma filosofia de vida, uma forma particular de compreender a existência humana.
A psicologia humanista é
um ramo da psicologia em geral, e da psicoterapia em particular, considerada
como a terceira via, ao lado da psicanálise e da terapia comportamental. A
psicologia humanista surgiu como uma reação ao determinismo dominante nas
outras práticas psicoterapêuticas, ensinando que o ser humano possui em si uma
força de autorrealização, que conduz o indivíduo ao desenvolvimento de uma
personalidade criativa e saudável. Essa força inerente a todo ser humano é
muitas vezes, no entanto, impedida por fatores externos de se desenvolver
plenamente. A psicologia humanista busca, assim, uma humanização da psique,
considerando o homem como um processo em construção, detentor de liberdade e
poder de escolha.
Em 1962 foi fundada a
AHP (American Association for Humanistic Psychology), Associação Americana de
Psicologia Humanista, que se tornou a força impulsionadora do movimento.
Filosoficamente baseia-se a psicologia humanista, sobretudo no humanismo, no
existencialismo (Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger) bem como na fenomenologia
(Edmund Husserl) e na autonomia funcional (Gordon Allport).
O primeiro teórico a
desenvolver uma teoria humanista na psicologia foi Abraham Maslow, com sua
pirâmide das necessidades. Suas ideias foram recebidas, mais tarde, por Carl
Rogers na sua terapia centrada no cliente, assumindo assim um significado
prático.
A tese central de Carl
Rogers é:
O indivíduo possui
possibilidades inimagináveis de compreender-se de modificar os conceitos que
tem de si mesmo, suas posturas e seu comportamento; esse potencial pode ser
liberado se a pessoa puder ser trazida a uma situação caracterizada por um
clima favorável para o desenvolvimento psíquico.
Os transtornos mentais
originam-se, assim, através do bloqueamento do desenvolvimento natural do ser
humano por fatores externos.
Uma série de autores, que
originalmente não pertenciam à psicologia humanista, desenvolveram abordagens
que lhe são muito próximas. Entre eles o fundador da logoterapia Viktor E.
Frankl, o psicanalista humanista Erich Fromm, e Fritz Perls, fundador da
gestaltoterapia.
Pressupostos básicos de
todas essas linhas são:
-O ser humano é mais do
que a soma de suas partes tomadas individualmente;
-Ele vive em relações
interpessoais;
-Ele é um ser consciente
e pode desenvolver sua percepção;
-Ele pode decidir-se;
-Ele comporta-se de
maneira intencional.
Esta abordagem segue
como premissas às ideias de:
1- Consciência: A auto consciência
é uma capacidade humana. Quanto mais consciente o sujeito é a respeito de si e
do mundo que o cerca, maior liberdade de escolha ele tem. A terapia que se
baseia nos preceitos humanistas existenciais prima pela expansão da
autoconsciência do cliente, pois isto lhe confere maior liberdade e aumenta
suas possibilidades de escolha na vida.
O processo de
consciência revela:
- Somos finitos e o
tempo para nossa autorrealização é limitado.
- Temos o potencial para
nos desenvolver ou escolher não fazê-lo.
- Podemos ver as
possibilidades que temos e assim criar nossa vida.
- Reconhecemo-nos como
seres distintos dos demais. Estamos basicamente sozinhos, mas precisamos de
relações significativas com outros.
- O sentido da vida é
uma criação individual.
-A ansiedade é inerente
a vida, pois com o aumento de nossas possibilidades de escolha, aumentam também
nossas responsabilidades. Além disso, a ansiedade vem em decorrência da
incerteza de nosso futuro.
- A consciência também
pode nos fazer sentir mais intensamente solidão, ausência de sentido,
esvaziamento, culpa e isolamento.
2- Liberdade: O homem é
essencialmente livre para fazer as escolhas que quiser na vida. Contudo, com a
liberdade de escolha, vem a responsabilidade pelo caminho tomado. “O homem é
autodeterminado porque tem a liberdade de escolher entre alternativas. (…) A
abordagem existencial coloca, no centro da existência humana, a liberdade, a
autodeterminação, a vontade e a decisão.” (Corey, 1986, p.61)
“Não importando a
grandeza das forças que fazem dos seres humanos suas vítimas, o homem tem a
capacidade de conhecer sua condição de vítima e, assim, de exercer alguma
influência sobre o modo pelo qual se relacionará com sua sorte.” (Rollo May,
1961 apud Corey, 1986).
3- Responsabilidade: O
existencialismo preconiza que o homem é responsável por sua existência e
destino. O sujeito é essencialmente livre e não determinado. Por isso, quando
tem determinada atitude não é porque Deus ou o Destino o quis, mas porque ele
próprio fez uma escolha e deve arcar com as consequências disto; é sua
responsabilidade, não de outrem.
É comum que em terapia
os clientes perguntem aos terapeutas o que devem fazer diante de determinadas
situações, não é função do terapeuta responder a tais questões; se assim o
fizesse, estaria tirando a oportunidade do cliente de fazer suas próprias
escolhas e praticar a inevitável responsabilidade por sua vida.
A maior conscientização
traz maior liberdade; e a liberdade pressupõe responsabilidades.
4- Autenticidade: Viver
autenticamente é estar plenamente consciente do momento presente, escolher a
maneira de viver o momento e assumir a responsabilidade da escolha feita. É
escolher baseado em si mesmo e não em referenciais externos.
“Nós nos traímos,
tornando-nos o que os outros esperam de nós, em vez de confiarmos em nós
mesmos, em nossa busca interior, em obter nossas próprias respostas para os
conflitos que vivemos. Nosso ser cria raízes no ser dos outros e chegamos a ser
estranhos para nós mesmos.” (Corey, 1986, p.63)
5- Fazer escolhas conscientes:
A grande dificuldade da escolha é que ela necessariamente implicará numa perda.
Quando se opta por X, ao mesmo tempo abre-se mão de R, Y, Z, etc.
Mas aceitar a
responsabilidade por nossas escolhas é tomar a rédea da nossa vida nas mãos.
Segundo Sartre: “Nós somos nossas escolhas.”
6- Crença no potencial
humano: O homem está em constante busca da realização de seu potencial pleno,
está o tempo todo se modificando, se atualizando. Para a abordagem humanista
existencial, a patologia acontece quando a pessoa fracassa no uso de sua
liberdade para atualização de seu potencial individual.
7- Morte como algo
positivo: Para os existencialistas, é a consciência da morte que dá sentido à
vida. “Se nos fosse dada a eternidade para atualizar nossas potencialidades,
não haveria urgência.”
Para os existencialistas
o medo da morte e o medo da vida tem total relação. Ou seja, alguém que diz
temer a morte na verdade teme a vida, pois pensa: “Não quero morrer, pois não
vivi tudo o que poderia ter vivido de forma plena.”
8- Ansiedade (ou
angústia) existencial: O ser humano tem que conviver com uma espécie de
ansiedade existencial que o afeta em decorrência de sua consciência de
liberdade e responsabilidade na vida e também é fruto do saber-se finito, ou
seja, da consciência da própria morte.
A ansiedade nem sempre é
patológica, pelo contrário, é até muito positiva quando nos ajuda a vislumbrar
o futuro e nos impulsiona para a ação.
Além disso, a ansiedade
é consequência certa em todas as mudanças. Logo, é inevitável que a pessoa
sinta ansiedade quando em processo de terapia. Na terapia, é preciso suportar a
ansiedade e não tentar erradicá-la como se fosse algo nocivo, os que assim
procedem tem seus benefícios.
Como não existem
certezas na vida, a ansiedade estará sempre presente.
9- Culpa existencial:
Aparece em decorrência do fracasso do homem em realizar plenamente aquilo que
poderia ter sido. Se considerarmos que o homem é fruto de suas escolhas, se
este não é tudo aquilo que poderia ser, então é o único responsável por isto,
daí advém o sentimento de culpa. E, “na medida em que alguém limita seu vir a
ser, torna-se doente.” (Corey, 1986, p.66) Para os existencialistas, a doença
ocorreria por conta de uma frustação por um potencial não desenvolvido.
10- Busca de sentido: É
inerente a condição humana a busca por um sentido na vida e por valores que a
tornem consistente. O sentido da vida deve ser uma criação particular a cada
sujeito e não baseado em crenças aprendidas por meio de outros. Todo ser humano
busca um sentido na vida e a falta de sentido gera o que os existencialistas
denominam de “vazio existencial.” Para os existencialistas a neurose é a perda
do sentido do ser.
11- Autorrealização:
Para os existencialistas, o homem luta pela auto realização, que é vir a ser
tudo o que é capaz. Toda pessoa tem o desejo de tornar-se tudo o que é em
potencial, mas para tanto é preciso coragem, determinação, consciência e
responsabilidade.
12- Solidão: O homem é
essencialmente só (nasce e morre só), mas precisa dos outros, pois é também um
ser de relação. Para o existencialismo, a solidão faz parte da condição humana
e, para vivenciar com o outro uma relação saudável, só é possível se formos
capazes de ficar, antes de tudo, bem conosco mesmos. Uma relação saudável é
aquela que une duas pessoas autônomas numa relação de troca e não de
dependência ou simbiose.
13- A relação do tipo
humanista: Os psicólogos humanistas aceitam a importância da abordagem
“pessoa-a-pessoa”, participando ativamente das sessões como pessoas implicadas na
relação.
Estes se veem como
modelos aos clientes, através de seu estilo de vida e imagem humanista, podem
incentivá-los a buscarem toda a expressão de seu próprio potencial.
Nesse tipo de relação o
cliente tem voz, podendo expressar livremente suas opiniões e criar seus
próprios valores e objetivos.
O trabalho de
psicoterapia deve ser dirigido para uma maior liberdade e autonomia do cliente,
que não deve ser dependente do terapeuta.
Numa relação humanista,
o terapeuta pode atuar da seguinte forma:
- Comunicar ao cliente
como este o afeta com sua fala.
- Revelar uma história
pessoal sua que tenha a ver com o tema do cliente a fim de ajudá-lo.
- Pedir ao cliente que
expresse suas angústias.
- Desafiar o cliente a
que perceba como evita a tomada de decisão.
- Pedir para que ele
avalie sua evolução na terapia. Por ex: “Se pudesse voltar no tempo e lembrar
de si mesmo antes da terapia, o que você fazia antes que faz diferente agora?
É preciso considerar que
nessa relação terapeuta-cliente não é apenas o cliente quem muda, mas também o
terapeuta!
O diagnóstico não é
importante: “O cliente é um companheiro existencial, não um objeto a ser
diagnosticado e analisado.”
Numa relação humanista
existencial não cabe diagnosticar o cliente, pois não existe a pretensão de
ajustar o sujeito à sociedade, muito pelo contrário, o que se quer é que este
viva sua autenticidade plenamente.
A psicologia humanista
surgiu na década de 50, ganhando força nos anos 60 e 70, como uma reação às
ideias psicológicas pré-existentes, o Behaviorismo e a Psicanálise, embora não
quisesse revisá-las ou adaptá-las, mas dar uma nova contribuição à psicologia.
As críticas ao
comportamentalismo giravam em torno de sua abordagem estreita, artificial e
estéril da natureza humana, que reduzia o homem à máquinas e animais propensos
ao condicionamento. A divergência à psicanálise se mostrava no questionamento à
ênfase no inconsciente, nas questões biológicas e eventos passados, no estudo
de pessoas neuróticas e psicóticas e na compartimentalização do indivíduo.
O movimento humanista
teve forte influência das filosofias existenciais e da fenomenologia. As
convicções e as certezas começam a ruir no século XX, quando a razão começa a
entrar em crise devido à existência da corrida armamentista e à pouca contribuição
dos avanços tecnológicos na diminuição da desigualdade social no mundo. O
existencialismo tem o homem como ponto de partida nos processos de reflexão e a
fenomenologia, a consciência do ser sobre algo, a investigação da experiência
consciente: o fenômeno. Com Heidegger, filósofo fenomenológico, há um retorno à
teoria do conhecimento e das questões ontológicas. O ser e a existência do todo
passa a ser a questão central.
O existencialismo
fenomenológico, enquanto método apreendido pelo movimento humanista se pauta em
três questões:
REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA
Recurso para se chegar
ao fenômeno em sua essência, considerando a sua totalidade e visando, deste
modo, a incorporação de uma atitude crítica perante o cotidiano. A concordância
entre a intuição, que ocorre na imediatez da vivência, e a significação se faz
essencial para a aproximação da realidade observada. A busca pela essência do
sintoma permite a recapitulação da realidade total, pois somente ela consente o
conhecimento dos fatos.
INTENCIONALIDADE
Atribuição de sentido do
fenômeno, onde a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo estão unificados.
Quando esta fusão ocorre, a totalidade é apreendida e a decisão torna-se um
processo consciente e libertador. O sujeito pensante e o objeto pensado tornam-se
uno. A intencionalidade só surge após a compreensão da realidade, obtida, por
sua vez, pela redução fenomenológica.
SUBJETIVIDADE E
INTERSUBJETIVIDADE
O encontro entre a
própria subjetividade e a do outro é chamado de intersubjetividade. É ela que,
através da pluralidade de constituições de vários sujeitos, dá sentido ao mundo.
O acoplamento entre a intra subjetividade e a intersubjetividade é a única
forma de efetivação de uma comunicação verdadeira, que faculta a chegada à
essência.
É importante frisar que
a fenomenologia não visa a explicação do objeto; as coisas, sim, que quando
apreendidas, se tornam um momento fenomenológico. A função de sua abordagem é
permitir a elaboração de conceitos que expressem adequadamente o fenômeno que
se pretende estudar. São estes conceitos que auxiliam a pessoa a como proceder
no dia-a-dia, uma vez que a história só é construída à medida que as coisas
recebem significados. Logo, embora a realidade exista per si, sofre resignificação
no encontro com a realidade íntima de cada um, o que a torna fluída. O processo
terapêutico deve, portanto, conectar a experiência interior ao mundo da
objetividade.
A grande contribuição
desta nova escola pode ser vista na ênfase da experiência consciente, na crença
na integralidade entre natureza e a conduta do ser humano, no livre-arbítrio,
espontaneidade e poder de criação do indivíduo, e no estudo de tudo que tenha
relevância para a condição humana. Somente mediante a perspectiva da
totalidade, que a consciência é entendida. Esta, por sua vez, deve ser
submetida à temporalidade, impedindo-a de ficar estática e desmistificando a
existência de uma realidade pura. Seu valor reside na relação que estabelece
entre as realidades. Experienciar o tempo presente como uma totalidade que sinaliza
a integração eu-mundo é fundamental para a libertação das exigências
compulsivas do passado e futuro.
A aplicação prática dos
conceitos da fenomenologia existencial revelará a direção na formulação de uma
nova percepção e na solução de problemas por meio de uma mudança consistente. A
lógica da mudança passa por passos, partes, totalidade, consciência,
intencionalidade e ação - que devem ser trabalhados na terapia.
O otimismo acerca da
liberdade e do potencial humano é bastante revelador das crenças do movimento.
Para atingi-los, a terapia faz uso da mais alta gama de instrumentos, desde a
validação da introspecção e da intuição como fonte preciosa de informação, até
a análise da literatura.
A teoria humanista tem
como principais teóricos Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers (1902-1987),
os maiores responsáveis pela projeção dos seus postulados no mundo. O primeiro,
americano, foi considerado o pai espiritual do movimento humanista. Maslow
abandona o comportamentalismo, abraçado no início de sua carreira, por passar a
acreditar na tendência inata que cada pessoa traz em si para se tornar autorrealizadora.
Este seria o nível mais alto da existência humana, onde a realização do
potencial de cada indivíduo seria conquistada. A existência de níveis a serem
satisfeitos foi proposta por ele através da hierarquia das necessidades. De
acordo com Maslow, estas necessidades seriam inatas e deveriam obedecer a uma
ordem de saciação, que se encontra representada na pirâmide abaixo. A grande
novidade trazida por Maslow, para a psicologia, foram os estudos de pessoas,
consideradas por ele, saudáveis, através dos quais formulou suas teorias.
O segundo, também
americano, teve o seu trabalho pautado no valor do indivíduo desde o início.
Diferentemente do seu contemporâneo, suas visões advieram do tratamento de
indivíduos emocionalmente perturbados. Rogers trabalhou com um conceito
semelhante ao da autorrealização de Maslow: a existência de uma única motivação
avassaladora que se configura na tendência inata que cada pessoa tem de
atualizar as capacidades e potenciais do eu, a tendência atualizante. Ele
também defendeu a ideia de autoconceito como sendo um padrão organizado e
consistente de características percebidas em cada um desde a infância. Na
medida em que se acumulam novas experiências, este conceito pode ser reforçado
ou ser substituído por novos. Experiências infantis podem ajudar ou prejudicar
a auto-atualização, ainda que esta seja inerente ao homem, mas, de forma
alguma, são podem ser consideradas determinantes. A capacidade do homem de
poder alterar consciente e racionalmente seus pensamentos e comportamentos
indesejáveis fornece ao presente um grande peso na formação da personalidade do
indivíduo. Para ele, os indivíduos bem ajustados psicologicamente têm autoconceitos
realistas, sendo a angústia psicológica advinda do impasse ou desarmonia entre
o autoconceito real (o que se é de fato) e o ideal para si (o que se deseja
ser). Por isso, Rogers defendia que o cliente deveria determinar o conteúdo e a
direção do tratamento, uma vez que este tem dentro de si vastos recursos para o
auto entendimento e para alterar o autoconceito. O termo terapia centrada no
cliente deriva desta idéia e esta é encarada apenas como um facilitador.
As principais críticas
ao movimento são atribuídas ao seu escopo vago e à sua falta de cientificidade,
tendo seus próprios expoentes reconhecido a sua não aceitação na filosofia da
ciência. Tal fato é notado na pouca porcentagem (1%) destinada à psicologia
humanista nos livros da área e, ainda assim, fazendo menção apenas à hierarquia
das necessidades de Maslow e à terapia centrada na pessoa de Rogers, embora 15
% dos psicólogos atuantes no mundo tenham adotado tal linha. Outros pontos
questionáveis desta teoria são a crença de que sua prática não daria suporte
necessário às pessoas com distúrbios mais graves, e a confiança na formulação
do autoconceito do cliente durante o seu tratamento. Muitos estudiosos, ainda,
não a consideram diferenciada suficientemente da gestalt a ponto de justificar a
existência de um nome próprio.
Tudo isso fez com que a
psicologia humanista tenha sido considerada pelos seus próprios formuladores
apenas uma experiência. Não obstante as críticas, a promoção de métodos terapêuticos
que acentuam a autorrealização, a responsabilidade pessoal e a liberdade de
escolha, além da consideração do contexto familiar, social e de trabalho em que
a pessoa se insere, foram de suma importância na ratificação de mudanças já em
curso.
No Brasil, a ditadura
era uma realidade, ainda que, no mundo, houvesse grande incentivo à liberdade
de escolha. Apesar dos entraves políticos, a influência humanista é sentida
aqui quando há, finalmente, o processo de regulamentação da profissão e estabelecimento
do curso com a lei 4119 de 27 de agosto de 1962. Neste currículo, já aparece de
forma seminal a psicologia humanista.
O psicólogo Carl Rogers,
conhecido internacionalmente, veio ao país, mais precisamente ao Rio de Janeiro
e Recife, para realizar workshops e difundir suas ideias. Em entrevista à
revista Veja em 1977, Rogers cita os principais pontos de sua teoria e afirma,
categoricamente, que a abordagem centrada na pessoa é de fácil convivência na
democracia.
A grande aceitação da
abordagem de Rogers, no Brasil, aconteceu principalmente nos estados de Minas
Gerais, Rio Grande do Sul e na Capital Federal, onde vários centros divulgam e
formam psicólogos especialistas na abordagem centrada na pessoa.
Através do entendimento
dos conceitos primordiais da Psicologia Humanista encontramos os seguintes
questionamentos:
Na perspectiva
humanista, qual é a visão de sujeito, mundo e suas relações?
Qual é a contribuição da
psicologia humanista à psicologia enquanto ciência?
Qual é origem do
conhecimento humanista e como ele é produzido?
Como a psicologia
humanista percebe o contexto cultural em que o indivíduo se encontra?
Frente à cultura de
massa, como fica o poder de escolha do homem?
A autorrealização e auto
atualização são uma utopia?
De acordo com alguns autores,
a Psicologia Humanista se assemelha muito à Gestalt, não devendo, até mesmo,
ser considerada uma escola a parte. Como a comparação entre o Humanismo e a
Gestalt é percebida?
Muitos teóricos afirmam
que a psicologia humanista não vingou devido à má apropriação de sua teoria por
alguns. Como o público leigo pode diferenciar os charlatões dos profissionais
sérios?
Os livros de autoajuda
teriam alguma relevância no crescimento pessoal para a psicologia humanista ou seria
apenas uma manifestação não legitimada por ela?
Como o poder centrado na
figura do cliente é em geral visto?
Existe um método
específico para cada nível da hierarquia das necessidades alcançado?
Como a saúde é vista
pela teoria humanista e que características teria uma pessoa considerada
mentalmente saudável de acordo com a visão de Maslow (autorrealizadora) e de
Rogers (auto-atualizante)?
Como é o ser terapêutico
e como o ambiente é organizado?
A prática é feita com
quantos indivíduos?
Qual é a diferença
metodológica adotada em práticas individuais e em grupo?
Como as relações éticas
são tratadas entre os grupos terapêuticos?
Quais os métodos e
técnicas específicas e suas inovações?
Como o humanismo pode se
utilizar da terapia online?
Como a ideia de
patologia é tratada?
Como alterações bioquímicas
são vistas e quais os seus reflexos no consciente humano?
Além da consciência, que
outras características são consideradas inatas e/ou específicas da natureza
humana (Etologia)?
No Brasil, onde esta
teoria é mais bem aceita. Por quê?
Em que segmento
(hospitalar, organizacional, educacional, clínica, etc) a teoria humanista é
mais aplicada?
Como o humanismo vê o
processo de internamento hospitalar?
Como as questões
emergenciais (emergências psicológicas) são tratadas?
Como a prática lida com clientes
suicidas e homicidas?
Drogas psicodélicas ou
medicamentos são encarados como aliados no processo terapêutico?
Qual é a principal
limitação na prática da psicologia humanista?
Qual é a duração média
do tratamento. Como justifica?
Como o humanismo vê a
influência do meio e da hereditariedade?
Qual a concepção de
desenvolvimento para o humanismo?
Como a prática é feita
nas diferentes fases de desenvolvimento do indivíduo (etapa de vida)? Existe um
estágio a se atingir em cada etapa de vida?
A Psicologia Humanista
representa a terceira força em psicologia. Surgiu entre as décadas de 1950 e
1960, como reação e crítica às duas forças anteriores, que na época dominavam o
cenário. Não há um fundador ou teórico que iniciou essa abordagem, mas
normalmente considera-se Abraham Maslow o pai da Psicologia Humanista,
principalmente pelo seu papel como articulador e organizador do movimento.
Maslow, junto com Anthony Sutich, foram os principais responsáveis pelo
lançamento, nos Estados Unidos, da Revista de Psicologia Humanista em 1961, e
pela fundação da Association for Humanistic Psychology, em 1962. Maslow dizia
que o Behaviorismo e Psicanálise não se preocupavam com o tema da saúde
psicológica e propôs-se a trabalhar nesse sentido. Suas teorias foram construídas
pela observação não de pessoas doentes, mas de pessoas com saúde mental acima
da média, ou pessoas autorrealizadoras, como ele as denominou. Deve-se destacar
ainda o nome de Carl Rogers, com sua Terapia Centrada na Pessoa, um dos grandes
colaboradores do movimento humanista, principalmente na fundamentação teórica
dessa nova forma de psicologia.
O movimento humanista
teve apoio e influência de psicólogos e teóricos de diversas áreas, incluindo
as teorias de discípulos dissidentes de Freud, como Adler, Jung, Otto Rank,
William Reich e Ferenczi. Teve forte influência da Psicologia da Gestalt alemã,
com sua visão holística e organísmica, a ainda das Psicologias Existenciais e
da Fenomenologia.
A Psicologia Humanista
vê o processo psicoterapêutico como uma técnica de crescimento pessoal ou de
desenvolvimento do potencial humano, e não como técnica de tratamento de
doenças mentais. Portanto, se você ainda achava que psicólogo é coisa pra
louco, saiba que foi o movimento humanista que mudou essa história. Eles passaram
a defender a idéia de que a psicoterapia era um processo de autoconhecimento,
útil a qualquer pessoa. Deixaram de chamar o paciente de “paciente”, passando a
chamá-lo “cliente”. Os humanistas afirmam que as pessoas só podem ser
compreendidas como indivíduos. Não se pode conhecer uma pessoa a partir de
dados estatísticos da população ou a partir de estudos com animais, uma crítica
aos métodos do behaviorismo e da ciência tradicional. E ainda, as pessoas
precisam ser compreendidas de forma completa e dentro de seu ambiente natural,
e não através de análise de partes do comportamento ou através de experiências
em laboratório.
Tom Greening é
psicoterapeuta humanista e foi editor da Revista de Psicologia Humanista de
1971 a 2005. Ele descreve os cinco postulados básicos da Psicologia Humanista
desta forma:
1) Seres humanos são
mais do que a soma de suas partes. Não podem ser reduzidos a partes ou funções
que os compõem.
2) Seres humanos só
podem ser compreendidos no contexto humano.
3) Seres humanos são conscientes
e conscientes de si mesmos.
4) Seres humanos têm
livre-arbítrio e responsabilidade por suas escolhas.
5) Seres humanos são
intencionais, perseguem objetivos, sabem que podem alterar eventos futuros e
estão em busca de sentido, valor e criatividade.
O movimento humanista,
em seu início, atraiu todo tipo de contestadores do sistema e logo sofreu
críticas de quem o acusava de ser um movimento pouco sério. Também recebe
críticas por não se adequar totalmente ao modelo tradicional de ciência, e por
seu amplo escopo, que por reunir interesses de diversas correntes de pensamento,
pode parecer um pouco mal definido para quem não segue essa abordagem.
A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
Se a terceira força já é
criticada pelo seu escopo muito abrangente, aqui ele se torna ainda mais amplo.
A quarta força da psicologia é a Psicologia Transpessoal. De modo diferente das
outras três, a abordagem transpessoal surgiu como conseqüência da terceira
força. É uma ampliação de Psicologia Humanista e não uma crítica a ela. Foram
os mesmos Abraham Maslow e Anthony Sutich, articuladores do movimento
humanista, os responsáveis por organizar e dar corpo ao movimento transpessoal.
O movimento inicia-se em meados da década de 1960. Em 1969 foi criada a Revista
de Psicologia Transpessoal e em 1972 funda-se a Association for Transpersonal
Psychology.
O movimento transpessoal
inicia seu surgimento quando os psicólogos humanistas começaram a observar, em
atendimentos clínicos e em trabalhos com grupos, fenômenos que atestavam que o
potencial humano era muito maior do que eles inicialmente imaginavam. Havia
fenômenos e percepções que as pessoas tinham que não podiam ser explicados pela
percepção dos cinco sentidos, pois pareciam estar, além disso. Estranhas
sensações de poder e de bem-estar surgiam repentinamente, tanto para o
terapeuta quanto para o cliente, quando ambos entravam em contato profundo
durante uma sessão de terapia. Nesses momentos, os terapeutas relatavam que de
repente não percebiam a barreira entre si e o cliente. Era como se eles fossem
apenas um. Nos experimentos com grupos, duas ou mais pessoas sonhavam o mesmo
sonho, ou compartilhavam imagens, ou tinham repentinas e profundas experiências
interiores que mudavam radicalmente seu modo de ser. Um dos que relataram esses
momentos durante a o atendimento terapêutico foi Carl Rogers, o psicólogo
humanista, na última fase de seu trabalho, a partir de meados de 1970. Ele
descreve esses momentos assim:
Sinto que nos melhores
momentos da terapia há um mútuo estado alterado de consciência. Que ambos, de
alguma forma, transcendemos um pouquinho o que somos ordinariamente, e que há
uma comunicação acontecendo, que nenhum de nós compreende, mas que é muito
reflexiva. (Rogers, citado por Wood, 1991, p. 71)
Na tentativa de
compreender esses fenômenos da psicoterapia, em que a consciência parece
avançar além dos limites do próprio corpo para se harmonizar com a consciência
do cliente, alguns psicólogos começaram a encontrar descrições de estados
semelhantes em tradições filosóficas orientais, que coincidiam com aquelas
experiências de grupos em que pessoas passavam por repentinas e profundas
transformações de seu modo de ser.
Começou então a surgir
uma nova proposta de psicologia, que incorporava a dimensão espiritual do ser
humano, e considerava a existência de níveis de consciência superiores ao nosso
nível da normalidade. A Psicologia Transpessoal contou ainda com os
pesquisadores que faziam experimentos com drogas psicodélicas (Stanislav Grof,
Aldous Huxley), incorporou a nova visão de mundo trazida pela Física Quântica,
afirmando que a consciência pode interferir diretamente na realidade,
reafirmaram a autorrealização dos humanistas e estes incluíram a noção de auto transcedência,
a necessidade de superar a si mesmo enquanto pessoa, para atingir níveis mais
elevados de consciência, e daí o nome transpessoal (além do pessoal). Ken
Wilber, um dos grandes teóricos da linha transpessoal, em 1977, propôs o modelo
que chamou de Espectro da Consciência, em que aponta a existência de diversos
níveis de consciência, afirmando que cada abordagem psicológica especializou-se
em trabalhar em determinado nível, mas que uma abordagem completa deve
considerar todos os níveis. Fundou então a linha que ele denominou Psicologia
Integral, talvez a primeira tentativa de fornecer uma compreensão global e
não-excludente de todas as abordagens em Psicologia.
A abordagem transpessoal
recebe severas críticas dos que a consideram mística, não científica. Há,
entretanto, um número crescente de trabalhos, teóricos e práticos, publicados
dentro dessa abordagem. A visão transpessoal critica a atitude das três outras
forças, que tentam defender a sua visão como única e procura trabalhar de forma
a integrar todas as abordagens.
Uma ciência onde o homem
busca a compreensão de si mesmo não tem como ter uma definição simples.
Como você pôde perceber,
cada corrente de pensamento acaba apresentando sua própria visão de homem e sua
própria definição de qual é o objeto de estudo de psicologia.
Pode-se pensar em muitas
outras definições, dependendo da abordagem. Os transpessoais poderiam dizer
“estudo da consciência em seus diversos níveis”, os humanistas poderiam dizer
“estudo do potencial humano” e os psicanalistas poderiam criar algo como “estudo
dos mecanismos psíquicos conscientes e inconscientes”. Todos eles dizem algo
sobre a psicologia, mas cada um diz apenas uma parte. A definição que
encontramos no dicionário, “estudo do comportamento humano ou animal”, cabe
perfeitamente para a primeira força, o behaviorismo, mas seria prontamente
rejeitada pelos humanistas, que não admitem as experiências em laboratório com
animais. Devo dizer também que a outra definição do dicionário, “ciência que
trata dos estados e processos mentais”, é a definição geralmente usada pela
Psicologia Cognitiva, que é em muitos aspectos uma extensão da Psicologia
Comportamental, tanto que atualmente estão em alta as Terapias Cognitivo Comportamentais.
Porém, alguns psicólogos
humanistas acabaram de forma inesperada esbarrando em alguns fenômenos
anteriormente estudados pela parapsicologia, o que os levou a fundar a
Psicologia Transpessoal.
Pesquisa
realizada pelo Dr. Josué Campos Macedo