I- INTRODUÇÃO
II - CONCEITO DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
III- A IMPORTÂNCIA DO PROCESSO FILOSÓFICO
IV- PRINCIPAIS APLICAÇÕES DA FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO
V- AS CONCEPÇÕES DA REFLEXÃO FILOSÓFICA
VI - CONCLUSÃO
VII – BIBLIOGRAFIA
“Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é assim, no sentido mais autêntico da palavra.” (Anísio Teixiera).
I – INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda de modo muito prático e objetivo a importância da Filosofia da Educação para a consolidação do processo ensino/aprendizagem.
Quando uma pessoa aprende, terá uma mudança de comportamento.
A Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo. Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações.
Quando lemos um texto de Filosofia, nos apropriamos do entendimento que o seu autor teve do mundo que o cerca, especialmente dos valores que dão sentido a esse mundo. Valores esses que, por vezes, são aspirações que deverão ser buscadas e realizadas, se possível. O filósofo sistematiza as aspirações dos seres humanos que dão sentido ao dia-a-dia, à luta, ao trabalho, à ação. Ninguém vive o dia-a-dia sem um sentido: para o seu trabalho, para a sua relação com as pessoas, para o amor, para a amizade, para a ciência, para a educação, para a política etc.
A Filosofia é esse campo de entendimento que nos faz refletir sobre a cotidianidade dos seres humanos, desde os simples encontros com as pessoas, até a complexa reflexão sobre o sentido e o destino da humanidade.
A Filosofia se manifesta ao ser humano como uma forma de entendimento que tanto propicia a compreensão da sua existência, em termos de significado, como lhe oferece um direcionamento para a sua ação, um rumo para seguir ou, ao menos, para lutar por ele. Ela estabelece um quadro organizado e coerente de “visão de mundo” sustentando, consequentemente, uma proposição organizada e coerente para o agir. Nós não “agimos por agir”, mas, sim, por certa finalidade. As finalidades restritas são aquelas que se referem à obtenção de benefícios imediatos, tais como: comprar um carro, assumir um cargo. As finalidades mais amplas são aquelas que se referem ao sentido da existência: buscar o bem da sociedade, lutar pela emancipação dos oprimidos, lutar pela emancipação de um povo etc. Isso tudo, por quê? Certamente devido ao fato de que a vida só tem sentido se vivida em função de valores dignos e dignificantes. Desse modo, a Filosofia é um corpo de entendimentos que compreende e direciona a existência humana em suas mais variadas dimensões.
A Filosofia é a expressão de uma forma coerente de interpretar o mundo que possibilita um modo de agir também coerente, consequente, efetivo.
A Filosofia, em síntese, não é tão-somente uma interpretação do já vivido, daquilo que está objetivando, mas também a interpretação de aspirações e desejos do que está por vir, do que está para chegar. Os filósofos captam e dão sentido à realidade que está por vir e a expressam como um conjuntode ideias e valores que devem ser vividos, difundidos, buscados. Eles têm uma “sensibilidade”, um “faro” mais atento para perceber o que já está se manifestando na realidade, ainda que de uma maneira tênue. O filósofo não é um profeta, mas pode ser capaz de ler nos acontecimentos do presente o significado do que está por vir, o que está a se desenvolver.
O seu pensamento torna-se, assim, expressão da história que está acontecendo e enquanto está acontecendo, e compreensão do que vai acontecer. Deste modo, o pensamento filosófico manifesta-se tanto como condicionado pelo momento histórico quanto como condicionante do momento histórico subsequente, como impulsionador da ação, visando a concretização de determinadas aspirações dos homens, de um povo, de um grupo ou de uma classe.
Neste sentido, a Filosofia é uma força, é o sustentáculo de um modo de agir. É uma arma na luta pela vida e pela emancipação humana. A Filosofia, não é só um instrumento para a compreensão do mundo e interpretação dos seus fenômenos. É também um instrumento de ação e arma política. Esse fato é tão verdadeiro que a Filosofia tem gerado, ao longo da história humana, atitudes contraditórias e paradoxais. Governos que, de um lado, alijam a Filosofia como subvertedora da ordem, de outro, contratam especialistas para criarem um pensamento, uma forma de conceber o mundo que garanta a sua forma de administrar politicamente o povo e a nação.
II – CONCEITO DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
A Filosofia da Educação é um ramo do pensamento que se dedica à reflexão sobre os processos educativos, à análise dos sistemas educativos, sistematização de métodos didáticos, entre diversas outras temáticas relacionadas com a Pedagogia.
O seu escopo principal é a compreensão das relações entre o fenômeno educativo e o funcionamento da sociedade. O campo tem uma vasta gama de pensadores e uma das grandes questões que o atravessa é a dicotomia entre a educação como transmissão do conhecimento versus a educação crítica, como um incentivo à habilidade questionadora por parte do aluno.
Como se conhece e o que significa conhecer também são grandes questionamentos que a Filosofia da Educação tem o propósito de pensar e problematizar.
A educação é um típico “que fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada sociedade.
As relações entre Educação e Filosofia parecem ser quase “naturais”. Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a Filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estesjovens e esta sociedade. Percorrendo a História da Filosofia e dos filósofos, vamos verificar que todos eles tiveram uma preocupação com a definição de uma cosmovisão que deveria ser divulgada através dos processos educacionais.
Filosofia e Educação são dois fenômenos que estão presentes em todas as sociedades. Uma como interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação. A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar.
Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência.
O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela.
Assim sendo, não há como se processar uma ação pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica. Se a reflexão filosófica não for realizada conscientemente, ela o será sob a forma do “senso comum”, assimilada ao longo da convivência dentro do grupo. Se a ação pedagógica não se processar a partir de conceitos e valores explícitos e conscientes, ela se processará, queiramos ou não, baseada em conceitos e valores que a sociedade propõe a partir de sua postura cultural.
Quando não se reflete sobre a educação, ela se processa dentro de uma cultura cristalizada e perenizada. Isso significa admitir que nada mais há para ser descoberto em termos de interpretação do mundo. É propriamente a reprodução dos meios de produção. Inconscientemente, adaptamo-nos a essa interpretação do mundo e ele permanecerá como a única para nós, se não nos pusermos a filosofar sobre ela, a questioná-la, a buscar-lhe novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana.
Filosofia e educação, pois, estão vinculadas no tempo e no espaço. Não há como fugir a essa “fatalidade” da nossa existência. Assim sendo, parece-nos ser mais válido e mais rico, para nós e para a vida humana, fazer esta junção de uma maneira consciente, como bem cabe a qualquer ser humano. É a liberdade no seio da necessidade.
A Pedagogia inclui mais elementos que os puros pressupostos filosóficos da educação, tais como os processos socioculturais, a concepção psicológica do educando, a forma de organização do processo educacional etc.; porém, esses elementos compõem uma Pedagogia à medida que estão aglutinados e articulados a partir de um pressuposto, de um direcionamento filosófico.
A reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à Pedagogia, garantindo-lhe a compreensão dos valores que, hoje, direcionam a prática educacional e dos valores que deverão orientá-la para o futuro.
Assim, não há como se ter uma proposta pedagógica sem pressuposições (no sentido de fundamentos) e proposições filosóficas, desde que tudo o mais depende desse direcionamento. Para lembrar exemplos práticos, a “Pedagogia Montessori”, a “Pedagogia Piagetiana”, a “Pedagogia da Libertação” do professor Paulo Freire, e todas as outras se sustentam em um pensamento filosófico sobre a educação. Se nem sempre esses pressupostos estão tão explícitos, é preciso explicitá-los, desde que eles sempre existem. Por vezes, eles estão subjacentes, mas nem por isso inexistentes.
O estudo e a reflexão deverão “obrigá-los” a aparecer, desde que só a partir da tomada de consciência desses pressupostos é que se pode optar por escolher uma ou outra Pedagogia para nortear nossa prática educacional.
III – A IMPORTÂNCIA DO PROCESSO FILOSÓFICO
Vivemos em um mundo pragmático, isto é, voltado para as coisas práticas da vida, interessado na aplicação imediata dos conhecimentos. Nesse sentido a Filosofia não encontra muitos adeptos e, ao contrário, é freqüentemente repudiada como sendo uma teoria inútil e, conseqüentemente, perda de tempo.
Entretanto, a Filosofia é necessária. Por meio da reflexão é possível que se tenha mais de uma dimensão, ou seja, aquela que é dado pelo agir imediato no qual o homem prático se encontra mergulhado. É a Filosofia que permite o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam, levantando, consequentemente, o problema dos valores. É a Filosofia que reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade.
A Filosofia impede a estagnação e sempre se confronta com o poder, não devendo sua investigação estar alheia à ética e à política. Nesse sentido tem a função de desvelar a ideologia, ou seja, as formas pelas quais é mantida a dominação. Aliás, atentando para a etimologia do vocábulo grego correspondente à verdade (a-létheia, a-letheúein, “desnudar”), vemos que na verdade põe a nu aquilo que estava escondido; aí reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo convencional, pelo poder.
Por isso a atitude de filosofar exige coragem. A Filosofia não é um exercício puramente intelectual. Descobrir a verdade é ter a coragem de enfrentar as formas estagnadas do poder que tentam manter o status quo, é aceitar o desafio da mudança.
Quando não temos um corpo filosófico que dê sentido e oriente a nossa vida, assumimos o que é comum e hegemônico na sociedade; assumimos o “senso comum”, que é o conjunto de valores assimilados espontaneamente, na vivência cotidiana.
Mas, como é que se constitui a Filosofia, como se constrói esse corpo de entendimentos, que poderemos assumir criticamente como aquele que queremos para o direcionamento de nossas experiências.
Em primeiro lugar, temos que superar os preconceitos sobre a dificuldade e a especialidade da Filosofia, pois ela não é inútil e nem tão difícil e complicada assim que sógente ultra especializada pode fazer. Logo, contrariando muitos governantes e políticos, podemos e devemos nos dedicar ao filosofar.
Para iniciar o exercício do filosofar, a primeira coisa a fazer é admitir que vivemos e vivenciamos valores e que é preciso saber quais são eles.
O primeiro passo do filosofar é inventariar os valores que explicam e orientam a nossa vida, e a vida da sociedade, e que dimensionam as finalidades da prática humana.
Assim, é preciso se perguntar quais são os valores que dão sentido e orientam a vida familiar, se se estiver analisando a família; quais valores compreendem e orientam a vida econômica, se estiver questionando a economia; quais valores compreendem e orientam a educação, se esta for o objeto de estudo e assim por diante.
É preciso, pois, tomar consciência das ações, do lugar onde se está e da direção que toma a vida. Direção que nasce tanto da consciência popular como da sedimentação do pensamento filosófico e político que se formulou e se divulgou na sociedade com o passar do tempo.
Feito esse inventário, que certamente nunca será completo e é tão abrangente quanto todos os setores da vida, é preciso passar para um segundo momento - o momento da crítica. Tomar esses valores e submetê-los a uma crítica, questioná-los por todos os ângulos possíveis para verificar se são significativos e se, de fato, compõem o sentido que queremos dar à existência.
Fazer passar pelo crivo da crítica todos os valores vigentes que dão sentido à nossa cotidianidade. A crítica é um modo de penetrar dentro desses valores, descobrindo-lhes sua essência.
É uma forma de colocá-los em xeque e desvendar-lhes os segredos.
Contudo, ninguém pode viver exclusivamente da negação, do processo de “vasculhação” dos valores. Não se vive na negatividade. Então, importa um terceiro momento do filosofar: a construção crítica dos valores que sejam significativos para compreender e orientar nossas vidas individuais e dentro da sociedade. Valores que sejam suficientemente válidos para guiar a ação na direção que queremos ir.
São, pois, em síntese, três passos: inventariar os valores vigentes; criticá-los; reconstruí-los. É um processo dialético que vai de uma determinada posição para a sua superação teórico-prática.
Filosofar é simples, porém não é algo mecânico, pois na mesma medida em que estamos inventariando os valores vigentes, estamos criticando-os e reconstruindo-os. Esses momentos não são separados, pois um nasce de dentro do outro. Estudando as correntes teóricas e históricas da Filosofia, vemos que certos entendimentos da modernidade têm vínculos com a Idade Média, e certos valores, que vivemos hoje, tiveram seus prenúncios na Idade Moderna.
Da mesma forma, quando iniciamos um processo de crítica dos valores enquanto estão vigentes, mas também enquanto entre eles iniciam-se os prenúncios de certas aspirações e anseios dos seres humanos.
Assim, por exemplo, Herbert Marcuse, um filósofo alemão contemporâneo, criticou os valores da sociedade industrial e propôs os valores de uma nova sociedade preocupada com uma vida menos unidirecionada para a produtividade econômica e mais voltada para a vida plena, com sentimentos, emoções, amor, vida etc.Como e por que Marcuse conseguiu se posicionar dessa forma? Porque nasceu e viveu após a Revolução Industrial, podendo inventariar e criticar os seus valores. E também por ter vivido num momento histórico em que os seres humanos estão exaustos desses valores e aspirando por outros que lhes garantam mais vida.
Marcuse entrou na corrente do contexto em que viveu, mas isso não quer dizer que ele seja um puro reprodutor dessa época, mas sim que ele captou o “espírito” dessa época.
Para filosofar (inventariar conceitos e valores; estudar e criticar valores; estudar e reconstruir conceitos e valores), é preciso não só olhar o dia-a-dia, mas ler e estudar o que disseram os outros pensadores, os outros filósofos, que poderão nos auxiliar, tirando-nos do nosso nível de entendimento e dando-nos outras categorias de compreensão. O nosso exercício do filosofar será um esforço de inventário, crítica e reconstrução de conceitos, auxiliados pelos pensadores que nos antecederam. Eles têm uma contribuição a nos oferecer, para nos auxiliar em nosso trabalho de construir nosso entendimento filosófico do mundo e da ação.
Frequentemente os manuais tradicionais principiam por definir a Filosofia, delimitar sua “essência”, seu objetivo específico de pesquisa, sua identidade. E precisamente neste ponto acabam criando uma séria polêmica, pois só acabam empobrecendo a compreensão da Filosofia ou então reduzido o debate ao círculo dos iniciados, isto é, os próprios “filósofos”. A questão da identidade da Filosofia é, portanto, a primeira grande questão filosófica.
Hoje, geralmente se define a Filosofia em oposição ao conceito de ciência, entendido como pesquisa empírica da realidade. Houve tempos em que a Filosofia foi definida em oposição à teologia, como na Idade Média; e em outras épocas a Filosofia se opunha ao conceito de mito, como entre os gregos do século V a. C.
Etimologicamente, a palavra “Filosofia” formou-se pela junção de Filos-filia” que significa “amigo” e “Sophia” que é “sabedoria, saber”, e surge na Grécia do século VI a. C., nos escritos de Pitágoras, que não querendo definir-se como “sábio”, prefere autodenominar-se “Filos-sophos” - ou seja “amigo do saber”, aquele que busca a sabedoria, “amante da sabedoria”, para ele uma denominação mais fiel à sua postura de tentar compreender a realidade de seu tempo.
Podemos observar que a Filosofia, desde sua definição originária, se faz compreender como um saber sobre o homem, sobre o mundo, sobre a própria realidade; um processo sempre dinâmico de apreensão das significações históricas da realidade humana de maneira humilde e processual.
O verdadeiro filósofo rejeita o status de “possuidor da verdade”, como se fosse possível conhecê-la ou ainda, que alguém fosse capaz de apreender a totalidade da realidade.
Ao contrário, compreende a precariedade de sua busca e o dinamismo do próprio processo de definição das “verdades” de cada época.
A Filosofia consiste, então, em um conhecimento sistematizado sobre o mundo da natureza, sobre a condição humana pessoal e social, sobre a sociedade, sobre a cultura. Alcançado de maneira sistemática e disciplinada, indo além do saber comum, desconexo, fragmentado, o nível do senso comum, geralmente preconceituoso e limitado, sobre a realidade pessoal, social e da natureza.
No entanto a Filosofia tem incomodado a muitos. A história registra muitas tentativas e empreitadas em destruí-la, desqualificá-la, negá-la. Os tiranos, os mistificadores, os dominantes e todos os interessados na alienação e mediocridade do povo preferem uma consciência de rebanho, de fácil manipulação, cativa e obediente, a um questionamento sistemático e profundo sobre a realidade. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo.
As máximas de Sócrates - “Uma vida que não é examinada não merece ser vivida” e “Conhece-te a ti mesmo” - tem permanecido como horizonte e estímulo, incitando os homens a assumir como sujeitos as responsabilidades sobre a própria existência.
A Filosofia tem, portanto, como todas as ciências, os limites da própria história do homem. Não se pode mais pensá-la como um conjunto de “verdades” perenes ou um método etéreo de pesquisar as últimas causas de tudo o que existe. Ela tem sempre a marca da precariedade das significações, o provisório das sínteses necessárias ao homem em um determinado momento e realidade.
Neste sentido a sua grandeza está mesmo no processo, de proposição sempre crítica destas questões fundamentais. Pois necessariamente a vida, a cultura, a história, a significação da existência são questões fundamentais, bem como a questão do saber, do conhecimento, da sociedade. Desprezar a Filosofia significa desprezar estas questões, equivale a adiar uma das mais ricas experiências do humano - a experiência do sentido das coisas.
Há até um forte estereótipo social sobre o filósofo, como se fosse um pesquisador de coisas descabíveis, um alienado, alguém “fora da realidade”.
A proposta original da Filosofia é estabelecer uma crítica a uma determinada concepção de mundo, alinhavar alguma significação para a existência humana, pessoal e social e se tornar uma teoria de alcance eficaz no permanente processo de mudança e construção social da realidade.
Não existe pensamento filosófico uniforme. Existem diversas tendências, métodos, escolas e tradições diferentes.
Determinada tendência filosófica perdura enquanto existirem as condições históricas que lhe deram origem. Cabe a cada homem exercitar o seu “ser filósofo”, pôr-se em busca de uma apreensão significativa da cultura, de uma crítica leitura da realidade e de uma ação engajada no mundo.
IV –PRINCIPAIS APLICAÇÕES DA FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO
A EDUCAÇÃO É A FERRAMENTA PARA A TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE
A Filosofia fornece á educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar.
O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Esses são alguns problemas que exigem a reflexão filosófica.
A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesmo, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos.
A Filosofia propõe questionar, a interpretação do mundo que temos, e procura buscar novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana.
Não há uma Pedagogia que esteja isenta de pressupostos filosóficos.É possível compreender a educação dentro da sociedade, com seus determinantes e condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização.
Para tanto, importa interpretar a educação como uma instância dialética, que serve a um projeto, a um modelo, a um ideal de sociedade. Ela trabalha para realizar esse projeto na prática. Assim, se o projeto for conservador, medeia a conservação, contudo se o projeto for transformador, medeia a transformação; se o projeto for autoritário, medeia a realização do autoritarismo; se o projeto for democrático, medeia a realização da democracia.
Do ponto de vista prático trata-se de retomar vigorosamente a luta contra a seletividade, a discriminação e o rebaixamento do ensino das camadas populares. Lutar contra a marginalidade, através da escola, significa engajar-se no esforço para garantir aos trabalhadores um ensino da melhor qualidade possível nas condições históricas atuais.
O papel de uma teoria crítica da educação é dar substância concreta a essa bandeira de luta, de modo a evitar que ela seja apropriada e articulada com os interesses dominantes?
A educação como transformadora da sociedade recusa-se tanto ao otimismo ilusório, quanto ao pessimismo imobilizador.
Por isso, propõe-se compreender a educação dentro de seus condicionantes e agir estrategicamente para a sua transformação. Propõe-se desvendar e utilizar das próprias contradições da sociedade, para trabalhar criticamente pela sua transformação.
Quando não pensamos, somos pensados e dirigidos por outros.
O SER HUMANO E O PROCESSO EDUCATIVO
O ser humano emerge no seu modo de ser dentro de um conjunto de relações sociais.
São as ações, reações, os modos de agir, as condutas normatizadas, as censuras, as convivências sadias ou neuróticas, as relações de trabalho, de consumo etc. que constituem prática, social e historicamente o ser humano.
O ser humano é prático, pois é através da ação que modifica o ambiente, tornando-o satisfatório ás suas necessidades; e enquanto transforma a realidade, constrói a si mesmo no seio das relações sociais determinadas.
O ser humano é social na medida em que vive e sobrevive socialmente. A sua prática é dimensionada por suas relações com os outros.
O ser humano é histórico uma vez que suas características não são fixas nem eternas, mas determinadas pelo tempo, que passa a ser constituitivo de si mesmo.
Em síntese, o ser humano é ativo, vive determinadas relações sociais de produção, num determinado momento do tempo. Como consequência disso, cada ser humano é propriamente o conjunto das relações sociais que vive, de forma prática, social e histórica.
O ser humano se torna propriamente humano na medida em que, conjuntamente com outros seres humanos, pela ação, modifica o mundo externo conforme sua necessidade ao mesmo tempo constrói-se a si mesmo.
Assim, enquanto ele humaniza a natureza pelo seu trabalho, humaniza-se a si mesmo.
Educador e educando, como seres individuais e sociais ao mesmo tempo, constituídos na trama contraditória de consciência crítica e alienação interagem no processo educativo. Eles são sujeitos da história na medida em que a constroem ao lado de outros seres humanos, num contexto socialmente definido.
TEORIAS EDUCACIONAIS TRADICIONAIS E PROGRESSISTAS
TEORIA TRADICIONAL - IDEALISMO
PLATÃO (424/423 a.C - 348/347 a.C)
A Filosofia educacional de Platão foi baseada em sua visão da República ideal, onde o indivíduo era mais bem servido ao ser subordinado a uma sociedade justa. Ele defende remover as crianças dos cuidados de suas mães e cuidar delas através do Estado, com grande cuidado para diferenciar as crianças adequadas para as várias castas, a maior delas recebendo a melhor educação, para que elas possam agir como guardiões da cidade e cuidar dos menos aptos. A educação seria holística, incluindo fatos, habilidades, disciplinas físicas, e música e arte, que ele considerava a maior forma de esforço.
Platão acreditava que o talento não era distribuído geneticamente e portanto deveria ser encontrado em crianças de qualquer classe social. Ele desenvolveu isso ao insistir que aqueles considerados aptos deveriam ser treinados pelo Estado para que fossem qualificados para assumir o papel de uma classe dominante. Isso estabelece, essencialmente, um sistema de educação pública seletiva baseada na premissa que uma minoria educada da população é, por virtude da sua educação, suficiente para uma governança sadia.
Os escritos de Platão contêm algumas das seguintes ideias:
A educação elementar deveria ser confinada para a classe guardiã até a idade de 18 anos, seguido de dois anos de treinamento militar compulsório e depois ensino superior para aqueles que estiverem qualificados.
Enquanto que o ensino elementar moldava a alma para responder ao ambiente, o ensino superior ajudava a alma a procurar pela verdade que a ilumina.
Tanto os meninos como as meninas recebiam o mesmo tipo de educação. Educação elementar consistia de música e ginástica visando treinar e misturar qualidades gentis e fortes nos indivíduos e criar uma pessoa harmoniosa.
Ao chegar aos 20 anos, é feita uma seleção. Os melhores receberiam um curso avançado em matemática, geometria, astronomia e harmônica.
O primeiro curso na área de ensino superior duraria dez anos. Esse curso seria para aqueles que estão mais aptos para a ciência. Aos 30 anos seria feita uma nova seleção; os qualificados estudariam dialética e metafísica, lógica e Filosofia pelos próximos cinco anos. Eles estudariam a ideia do bem e os primeiros princípios dos seres. Depois de aceitar uma posição júnior nas forças armadas por quinze anos, a pessoa teria completado sua educação teórica e prática aos cinquenta anos.
IMMANUEL KANT (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo prussiano, geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna.
Depois de um longo período como professor secundário de geografia, começou em 1755 a carreira universitária ensinando Ciências Naturais. Em 1770 foi nomeado professor catedrático da Universidade de Königsberg, cidade da qual nunca saiu, levando uma vida monotonamente pontual e só dedicada aos estudos filosóficos.
Realizou numerosos trabalhos sobre ciência, física, matemática, etc.
Kant operou, na epistemologia, uma síntese entre o racionalismo continental (de René Descartes e Gottfried Leibniz, onde impera a forma de raciocínio dedutivo), e a tradição empírica inglesa (de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução).
Kant é famoso, sobretudo pela elaboração do denominado idealismo transcendental: todos nós trazemos formas e conceitos a priori (aqueles que não vêm da experiência) para a experiência concreta do mundo, os quais seriam de outra forma impossíveis de determinar. A Filosofia da natureza e da natureza humana de Kant é historicamente uma das mais determinantes fontes do relativismo conceptual que dominou a vida intelectual do século XX. No entanto, é muito provável que Kant rejeitasse o relativismo nas formas contemporâneas, como por exemplo o Pós-modernismo.
Kant é também conhecido pela Filosofia moral e pela proposta, a primeira moderna, de uma teoria da formação do sistema solar, conhecida como a hipótese Kant-Laplace.
Kant define a palavra esclarecimento como a saída do homem de sua menoridade. Segundo esse pensador, o homem é responsável por sua saída da menoridade. Kant define essa menoridade como a incapacidade do homem de fazer uso do seu próprio entendimento.
A permanência do homem na menoridade se deve ao fato de ele não ousar pensar. A covardia e a preguiça são as causas que levam os homens a permanecerem na menoridade. Outro motivo é o comodismo. É bastante cômodo permanecer na área de conforto. É cômodo que existam pessoas e objetos que pensem e façam tudo e tomem decisões em nosso lugar. É mais fácil que alguém o faça, do que fazer determinado esforço, pois já existem outros que podem fazer por mim. Os homens quando permanecem na menoridade, são incapazes de fazer uso das próprias pernas,são incapazes de tomar suas próprias decisões e fazer suas próprias escolhas.
Em seu texto O que é o Iluminismo?, Kant sintetiza seu otimismo iluministaem relação à possibilidade de o homem seguir por sua própria razão, sem deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias. Nele, descreve o processo de ilustração como sendo "a saída do homem de sua menoridade", ou seja, um momento em que o ser humano, como uma criança que cresce e amadurece, se torna consciente da força e inteligência para fundamentar, sob o conhecimento à priori, a sua própria maneira de agir, sem a doutrina ou tutela de outrem.
Kant afirma que é difícil para o homem sozinho livrar-se dessa menoridade, pois ela se apossou dele como uma segunda natureza. Aquele que tentar sozinho terá inúmeros impedimentos, pois seus tutores sempre tentarão impedir que ele experimente tal liberdade. Para Kant, são poucos aqueles que conseguem pelo exercício do próprio espírito libertar-se da menoridade.
Immanuel Kant acreditava que a educação se diferencia do treinamento no sentido de que o último envolve pensamento, no que o primeiro não. Além de ensinar a razão, era de importância central para ele que fosse desenvolvido o caráter e o ensino das máximas morais. Kant era um grande apoiador do ensino público e aprender ao fazer.
TEORIA PROGRESSISTA
PAULO REGLUS NEVES FREIRE (Recife, 19 de setembro de 1921 — São Paulo, 2 de maio de 1997) foi um educador e filósofo brasileiro. É Patrono da Educação Brasileira.
Paulo Freire é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado Pedagogia crítica.
A sua prática didática fundamentava-se na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição à por ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante: o educando criaria sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído; libertando-se de chavões alienantes, o educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado.
Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência política.
Autor de Pedagogia do Oprimido, um método de alfabetização dialético, se diferenciou do "vanguardismo" dos intelectuais de esquerda tradicionais e sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como um modo de ser realmente democrático.
Em 13 de abril de 2012 foi sancionada a lei 12.612 que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.
Foi o brasileiro mais homenageado da história: ganhou 41 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford.
MICHEL FOUCAULT (pronúncia francesa:AFI: [miʃɛlfuko]); Poitiers, 15 de outubro de 1926 — Paris, 25 de junho de 1984) foi um importante filósofo e professor da cátedra de História dos Sistemas de Pensamento no Collège de France desde 1970 a 1984.
Todo o seu trabalho foi desenvolvido em uma arqueologia do saber filosófico, da experiência literária e da análise do discurso. Seu trabalho também se concentrou sobre a relação entre poder e governamentalidade, e das práticas de subjetivação. Foucault morreu de aids em 1984.
Em 1954, Foucault publicou seu primeiro livro, a "Doença mental e personalidade", um trabalho encomendado por Althusser. Rapidamente se tornou evidente que ele não estava interessado em uma carreira de professor, de modo que empreendeu um longo exílio da França. Porém, no mesmo ano, ele aceitou uma posição na Universidade de Uppsala, na Suécia como professor e conselheiro cultural, uma posição que foi arranjada para ele por Georges Dumézil, que mais tarde se tornou um amigo e mentor. Em 1958, ele saiu da Suécia para Varsóvia.
Foucault voltou à França, em 1960, para concluir a sua tese e uma posição em filosofia na Universidade de Clermont-Ferrand, a convite de Jules Vuillemin, diretor do departamento de filosofia. Foi colega de Michel Serres.
Em 1961, doutorou-se com a tradução e uma introdução com notas sobre "Antropologia do ponto de vista pragmático", de Kant orientado por Jean Hyppolite. Sua tese intitulada "História da loucura na idade clássica", foi orientada por Georges Canguilhem.
Filho de um médico, ele estava interessado na epistemologia da Medicina e publica nesta área, "Nascimento da clínica: uma arqueologia do saber médico", "Raymond Roussel", além de uma reedição de seu livro de 1954 (no âmbito de um novo título, "Doença e psicologia mental").
Na sequência da atribuição de Defert para a Tunísia, para o período de serviço militar, Foucault se mudou para lá também e tomou uma posição na Universidade de Túnis, em 1965. Em janeiro, ele foi nomeado para a Comissão para a reforma das universidades estabelecido pelo Ministro da Educação da época, Christian Fouchet, no entanto, um inquérito sobre a sua privacidade é apontado por alguns estudiosos como a causa de sua não nomeação.
Em 1966 ele publicou As Palavras e as Coisas, que tem um enorme sucesso imediato. Ao mesmo tempo, a popularidade do estruturalismo está em seu auge, e Foucault rapidamente é agrupado com estudiosos e filósofos como Jacques Derrida, Claude Lévi-Strauss e Roland Barthes, então visto como a nova onda de pensadores contrários ao existencialismo desempenhado por Jean-Paul Sartre. Inúmeras discussões e entrevistas envolvendo Foucault são então colocadas em oposição ao humanismo e ao existencialismo, pelo estudo dos sistemas e estruturas. Foucault, logo se cansou do o rótulo de "estruturalista".
O ano de 1966 é uma emoção sem igual na área de humanas: Lacan, Lévi-Strauss, Benveniste, Genette, Greimas, Dubrovsky, Todorov e Barthes publicam algumas das suas obras mais importantes.
Foucault ainda está em Túnis, durante os acontecimentos de maio de 1968, onde ele estava profundamente envolvido com a revolta estudantil na Tunísia, no mesmo ano. No outono de 1968, ele retornou à França e publicou "A arqueologia do saber", como uma resposta a seus críticos, em 1969. Morreu devido à aids em 1984.
Encontra-se sepultado em CimetiereduVendeuvre, Vienne, Ródano-Alpes na França.
MARIA MONTESSORI (Chiaravalle, 31 de agosto de 1870 — NoordwijkaanZee, Países Baixos, 6 de maio de 1952) foi uma educadora, médica, católica e feminista italiana conhecida pelo método educativo que desenvolveu.
Seu método educacional é usado hoje em dia em escolas públicas e privadas mundo afora.
Maria Tecla Artemesia Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870 em Chiaravalle, Itália. Seu pai, Alessandro Montessori, era oficial do Ministério das Finanças, trabalhando na época numa fábrica de tabaco estatal. Sua mãe, Renilde Stoppani, era bem educada para a época e provavelmente parente do geologista italiano Antonio Stoppani.
Desde muito jovem, manifestou interesse pelas matérias científicas, principalmente matemática e biologia, resultando em conflito com seus pais, que desejavam que ela seguisse a carreira de professora.
Indo contra as expectativas familiares, inscreveu-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Roma, escolha que a levou a ser, em 1896, a primeira mulher a formar-se em medicina na Itália.
Após sua formatura, não pode atuar como médica, pois na época não se admitia uma mulher examinando o corpo de um homem. Então iniciou um trabalho com crianças com necessidades especiais na clínica da universidade, vindo posteriormente dedicar-se a experimentar em crianças, sem comprometimento algum, os procedimentos usados na educação dos que tinham comprometimento. Observou, também, crianças que brincavam nas ruas e criou um espaço educacional para estas crianças - a Casa deiBambini.
Responsável também pela criação do método Montessori de aprendizagem, composto especialmente por um material de apoio em que a própria criança (ou utilizador) observa e faz as conexões corretas.
V – AS CONCEPÇÕES DA REFLEXÃO FILOSÓFICA
A Filosofia é uma reflexão sobre os problemas que a realidade apresenta, entretanto ela não é qualquer tipo de reflexão. Para que uma reflexão possa ser adjetivada de filosófica, é preciso que se satisfaça uma série de exigências que vou resumir em apenas três requisitos: a radicalidade, o rigor e a globalidade.
A reflexão filosófica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e de conjunto.
RADICAL: Em primeiro lugar, exige-se que o problema seja colocado em termos radicais, entendida a palavra radical no seu sentido mais próprio e imediato.
É preciso que se vá até às raízes da questão, até seus fundamentos. Em outras palavras, exige-se que se opere uma reflexão em profundidade.
RIGOROSA: Em segundo lugar e como que para garantir a primeira exigência, deve-se proceder com rigor, ou seja, sistematicamente, segundo métodos determinados, colocando-se em questão as conclusões da sabedoria popular e as generalizações apressadas que a ciência pode ensejar.
DE CONJUNTO: Em terceiro lugar, o problema não pode ser examinado de modo pardal, mas numa perspectiva de conjunto, relacionando-se o aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido.
É neste ponto que a Filosofia se distingue da ciência de um modo mais marcante. Com efeito, ao contrário da ciência, a Filosofianão tem objeto determinado; ela dirige-se a qualquer aspecto da realidade, desde que seja problemático; seu campo de ação é o problema, esteja onde estiver.
Seu campo de ação é o problema enquanto não se sabe ainda onde ele está; por isso se diz que a Filosofia é busca. E é nesse sentido também que se pode dizer que a Filosofia abre caminho para a ciência; através da reflexão, ela localiza o problema tornando possível a sua delimitação na área de tal ou qual ciência que pode então analisá-lo e, quiçá, solucioná-lo.
Além disso, enquanto a ciência isola o seu aspecto do contexto e o analisa separadamente, a Filosofia, embora se dirigindo às vezes apenas a uma parcela da realidade, insere-a no contexto e a examina em função do conjunto.
A exposição sumária e isolada de cada um dos itens acima descritos não nos deve iludir. Não se trata de categorias autossuficientes que se justapõem numa somatória suscetível de caracterizar, pelo efeito mágico de sua junção, a reflexão filosófica.
A profundidade (radicalidade) é essencial à atitude filosófica do mesmo modo que a visão de conjunto. Ambas se relacionam dialeticamente por virtude da íntima conexão que mantém com o mesmo movimento metodológico, cujo rigor (criticidade) garante ao mesmo tempo a radicalidade, a universalidade e a unidade da reflexão filosófica.
Deste modo, a concepção amplamente difundida segundo a qual o aprofundamento determina um afastamento da perspectiva de conjunto, e, vice-versa: a ampliação do campo de abrangência acarreta uma inevitável superficialização, é uma ilusão deóptica decorrente do pensar formal, o nosso modo comum de pensar que herdamos da tradição ocidental.
A inconsistência dessa concepção vem sendo fartamente ilustrada pelos avanços da ciência contemporânea, cuja penetração no âmago do processo objetivo faz estourar os quadros do pensamento tradicional. É a isto que se convencionou chamara crise das ciências (em especial da Física e da Matemática). Não se trata, porém, de uma crise das ciências (em nenhuma época da História experimentaram progresso tão intenso), mas de uma crise da Lógica Formal.
O aprofundamento na compreensão dos fenômenos se liga a uma concepção geral da realidade, exigindo uma reinterpretação global do modo de pensar essa realidade. Então, a lógica formal, em que os termos contraditórios mutuamente se excluem (princípio de não contradição), inevitavelmente entra em crise, postulando a sua substituição pela lógica dialética, em que os termos contraditórios mutuamente se incluem (princípio de contradição, ou lei da unidade dos contrários).
Por isso, a lógica formal acaba por enredar a atitude filosófica numa gama de contradições frequentemente dissimuladas através de uma postura idealista, seja ela crítica (que se reconhece como tal) ou ingênua (que se autodenomina realista).
A visão dialética, ao contrário, nos arma de um instrumento, ou seja, de um método rigoroso (crítico) capaz de nos propiciar a compreensão adequada da radicalidade e da globalidade na unidade da reflexão filosófica.
O problema apresenta um lado objetivo e um lado subjetivo, caracterizando-se este pela tomada de consciência da necessidade. As considerações acima deixaram claro que a reflexão é provocada pelo problema e, ao mesmo tempo, dialeticamente, constitui-se numa resposta ao problema. Ora, assim sendo, a reflexão se caracteriza por um aprofundamento da consciência da situação problemática, acarretando (em especial no caso da reflexão filosófica, por virtude das exigências que lhe são inerentes) um salto qualitativo que leva à superação do problema no seu nível originário.
A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões: Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos?
O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos?
Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos?
Perguntaram certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”.
Esclarecendo o significado essencial de problema; explicitados a noção de reflexão e os requisitos fundamentais para que ela seja adjetivada de filosófica, podemos, finalmente, conceituar a Filosofia como uma reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que a realidade apresenta.
A partir daí, é fácil concluir a respeito do significado da expressão "Filosofia da Educação".
A palavra Filosofia refere-se aí à orientação, aos princípios e normas que regem aquelas entidades. Tal orientação pode ou não ser consequência da reflexão. Com efeito, a nossa ação segue sempre certa orientação; a todos os momentos estamos fazendo escolhas, mas isso não significa que estamos sempre refletindo; a ação não pressupõe necessariamente a reflexão; podemos agir sem refletir (embora não nos seja possível agir sem pensar). Neste caso, nós decidimos, fazemos escolhas espontaneamente, seguindo os padrões, aorientação que o próprio meio nos impõe.
É assim que nós escolhemos nossos clubes preferidos, nossas amizades; é assim que os pais escolhem o tipo de escola para os seus filhos, colocando-os em colégio de padres (ou freiras) ou em colégio do Estado; é assim também que certos professores elaboram o programa de suas cadeiras (vendo o que os outros costumam transmitir, transcrevendo os itens do índice de certos livros didáticos, etc.); e é assim, ainda, que se fundam certas escolas ou que o Governo toma certas medidas.
Nessas situações nós não temos consciência clara, explícita do por que fazemos assim e não de outro modo. Tudo ocorre normalmente, naturalmente, espontaneamente, sem problemas. Proponho que se chame a esse tipo de orientação como "Filosofia de vida".
Todos e cada um de nós temos a nossa "Filosofia de vida". Esta se constitui a partir da família, do ambiente em que somos criados.
CONCEPÇÃO DE IDEOLOGIA
Quando surge o problema, ou seja, quando não sei que rumo tomar e preciso saber, quando não sei escolher e preciso saber, aí surge a exigência do filosofar, aí eu começo a refletir.
Essa reflexão é aberta; pois se eu preciso saber e não sei, isto significa que eu não tenho a resposta; busco uma resposta e, em princípio, ela pode ser encontrada em qualquer ponto (daí, a necessidade de uma reflexão de conjunto).
À medida, porém, que a reflexão prossegue, as coisas começam a ficar mais claras e a resposta vai se delineando.
Estrutura-se então uma orientação, princípios são estabelecidos, objetivos são definidos e a ação toma rumos novos tornando-se compreensível, fundamentada, mais coerente.
CONCEPÇÃO DA DIALÉTICA AÇÃO-PROBLEMA-REFLEXÃO-AÇÃO
Podemos, pois, para facilitar a compreensão, formular o seguinte diagrama:
1. Ação (fundada na Filosofia de vida) suscita
2. Problema (exige reflexão: a Filosofia) que leva à
3. Ideologia (consequência da reflexão) que acarreta
4. Ação (fundada na ideologia).
Não se trata, porém, de uma sequencia lógica ou cronológica; é uma sequencia dialética. Portanto, não se age primeiro, depois se reflete depois se organiza a ação e por fim age-se novamente.
Trata-se de um processo em que esses momentos se interpenetram, desenrolando o fio da existência humana na sua totalidade. E como não existe reflexão total, a ação trará sempre novos problemas que estarão sempre exigindo a reflexão; por isso, a Filosofia ésempre necessária e a ideologia será sempre parcial, fragmentária e superável.
Assim, poderíamos continuar o diagrama anterior, da seguinte forma:
1. Ação (fundada na ideologia) suscita
2. Novos Problemas (exigem reflexão: a Filosofia) que levam
3. Reformulação da ideologia (organização da ação) que acarreta
4. Reformulação da ação (fundada na ideologia reformulada).
5. Para uma discussão dos diversos sentidos da palavra "ideologia".
Por fim, cabe lembrar que a noção adotada ainda que sem pretensões de alçar-se ao plano de uma teoria da ideologia.
Esta maneira de colocar as relações entre Filosofia e ideologia nos permite ao mesmo tempo assinalar a oportunidade da distinção entre saber e ideologia e evitar sua possível limitação.
Tal limitação consiste em que o saber é geralmente posto como o outro que exclui (porque, ao revelar suas origens, a dissipa) a ideologia. Com isto, acaba-se por defender o caráter desinteressado do saber.
Cabe, pois, lembrar que o saber é sempre interessado, vale dizer, o saber supõe sempre a ideologia da mesma forma que esta supõe sempre o saber. Com efeito, a ideologia só pode ser identificada como tal, ao nível do saber. A ideologia que não supõe o saber supõe-se saber.
VI – CONCLUSÃO
Concluo o presente trabalho acadêmico mostrando que a Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo. Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade.
Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações.
Assim, podemos dizer que, a Filosofia cria o ideário que norteia a vida humana em todos os seus momentos e em todos os seus processos.
Neste sentido, a Filosofia é uma força, é o sustentáculo de um modo de agir. É uma arma na luta pela vida e pela emancipação humana.
Em síntese, a Filosofia é uma forma de conhecimento que, interpretando o mundo, cria uma concepção coerente e sistêmica que possibilita uma forma de ação efetiva. Esta forma de compreender o mundo tanto é condicionada pelo meio histórico, como também é seu condicionante. Ao mesmo tempo, pois, é uma interpretação do mundo e é uma força de ação.
Quem está em sala de aula sabe o quanto é urgente despertar no estudante a criatividade e a criticidade necessária para a elaboração de uma representação consequente do mundo, da sociedade e da vida humana no mundo. Para tanto, torna-se decisiva a contribuição da Filosofia. Paradoxalmente, no entanto, há entre nós quem ainda espera que o estudante da educação básica “se prepare” para depois aprender a filosofar.
Essa “prontidão” para a Filosofia seria algo uma vocação natural, um dom, uma aptidão interior de forte propensão individual para o pensar. Não creio, contudo, que isso exista, uma vez que se todos têm a capacidade de pensar, todos, então, podem se dedicar a compreender a Filosofia, assim como estudam Física, Química e disciplinas assemelhadas.
Não se trata de despreparo, muito menos de inaptidão. O problema é outro e relaciona-se às condições reais de vida que se tem em nosso país. Se as pessoas vivessem condignamente, grande parte dos problemas educacionais estariaresolvida, inclusive o que se refere ao acesso à Filosofia. Porém, a questão da vida digna, como condição de possibilidade do exercício da cidadania, ainda é um problema que o capitalismo vigente em nosso país não é capaz de resolver.
Ora, sem apropriar-se de bens materiais, simbólicos e sociais o homem e a mulher não se fazem plenamente humanos e tem sua dignidade comprometida, o que lhes coloca numa situação de não cidadania.
Ora, a Filosofia, bem socialmente produzido, parte do patrimônio simbólico que não pode ser tratado como um pertence estritamente pessoal, deve estar ao alcance de todos os estudantes, de todos os níveis. Mais: deve estar ao alcance de todos os cidadãos, uma vez que contribui para a educação que humaniza o homem e a mulher.
Dessa maneira, sob o saber filosófico nenhum preconceito pode abrigar-se. Mais: condicioná-lo a “pré-requisitos” como os aludidos anteriormente é perverter na raiz sua natureza de saber instituinte e que pode potencializar a liberdade.
Ademais, apropriar-se da Filosofia é um direito inalienável de todo indivíduo, muito mais o será dos estudantes da educação básica de nosso país.
Ao finalizar, deixo para nossa reflexão o seguinte provérbio do sapientíssimo Rei Salomão, Rei de Israel (1.000 anos antes de Cristo):
“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Provérbios 22:6).
VII – BIBLIOGRAFIA
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“A tarefa do professor é preparar motivações para atividades culturais, num ambiente previamente organizado, e depois se abster de interferir”. (Maria Montessori).