terça-feira, 8 de abril de 2014

FILOSOFIA




INTRODUÇÃO
Ela surge desde o momento em que o homem começou a refletir sobre o funcionamento da vida e do universo, buscando uma solução para as grandes questões da existência humana. Os pensadores, inseridos num contexto histórico de sua época, buscaram diversos temas para reflexão. A Grécia Antiga é conhecida como o berço dos pensadores, sendo que os sophos (sábios em grego) buscaram formular, no século VI a.C., explicações racionais para tudo aquilo que era explicado, até então, através da mitologia.

CONCEITO
A palavra Filosofia é de origem grega. É composta por duas outras: PHILO E SOPHIA PHILO deriva-se de PHILIA, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. SOPHIA quer dizer sabedoria e dela vem à palavra SOPHOS, sábio. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.

PERIODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA
OS PRÉ-SOCRÁTICOS
Podemos afirmar que foi a primeira corrente de pensamento, surgida na Grécia Antiga por volta do século VI a.C. Os filósofos que viveram antes de Sócrates se preocupavam muito com o Universo e com os fenômenos da natureza. Buscavam explicar tudo através da razão e do conhecimento científico. Podemos citar, neste contexto, os físicos Tales de Mileto, Anaximandro e Heráclito. Pitágoras desenvolve seu pensamento defendendo a ideia de que tudo preexiste a alma, já que esta é imortal. Demócrito e Leucipo defendem a formação de todas as coisas, a partir da existência dos átomos.
PERÍODO CLÁSSICO
Os séculos V e IV a.C. na Grécia Antiga foram de grande desenvolvimento cultural e científico. O esplendor de cidades como Atenas, e seu sistema político democrático, proporcionou o terreno propício para o desenvolvimento do pensamento. É a época dos sofistas e do grande pensador Sócrates.
Os sofistas, entre eles Górgias, Leontinos e Abdera, defendiam uma educação, cujo objetivo máximo seria a formação de um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente para o crescimento da cidade. Dentro desta proposta pedagógica, os jovens deveriam ser preparados para falar bem ( retórica ), pensar e manifestar suas qualidades artísticas.
Sócrates começa a pensar e refletir sobre o homem, buscando entender o funcionamento do Universo dentro de uma concepção científica. Para ele, a verdade está ligada ao bem moral do ser humano. Ele não deixou textos ou outros documentos, desta forma, só podemos conhecer as ideias de Sócrates através dos relatos deixados por Platão. 
Platão foi discípulo de Sócrates e defendia que as ideias formavam o foco do conhecimento intelectual. Os pensadores teriam a função de entender o mundo da realidade, separando-o das aparências. 
Outro grande sábio desta época foi Aristóteles que desenvolveu os estudos de Platão e Sócrates. Foi Aristóteles quem desenvolveu a lógica dedutiva clássica, como forma de chegar ao conhecimento científico. A sistematização e os métodos devem ser desenvolvidos para se chegar ao conhecimento pretendido, partindo sempre dos conceitos gerais para os específicos.
PERÍODO PÓS-SOCRÁTICO

Está época vai do final do período clássico (320 a.C.) até o começo da Era Cristã, dentro de um contexto histórico que representa o final da hegemonia política e militar da Grécia.
Ceticismo: de acordo com os pensadores céticos, a dúvida deve estar sempre presente, pois o ser humano não consegue conhecer nada de forma exata e segura.
Epicurismo: os epicuristas, seguidores do pensador Epicuro, defendiam que o bem era originário da prática da virtude. O corpo e a alma não deveriam sofrer para, desta forma, chegar-se ao prazer.
Estoicismo: os sábios estóicos como, por exemplo, Marco Aurélio e Sêneca, defendiam a razão a qualquer preço. Os fenômenos exteriores a vida deviam ser deixados de lado, como a emoção, o prazer e o sofrimento.
PENSAMENTO MEDIEVAL
O pensamento na Idade Média foi muito influenciado pela Igreja Católica Desta forma, o teocentrismo acabou por definir as formas de sentir, ver e também pensar durante o período medieval. De acordo com Santo Agostinho, importante teólogo romano, o conhecimento e as ideias eram de origem divina. As verdades sobre o mundo e sobre todas as coisas deviam ser buscadas nas palavras de Deus.
Porém, a partir do século V até o século XIII, uma nova linha de pensamento ganha importância na Europa. Surge a escolástica, conjunto de ideias que visava unir a fé com o pensamento racional de Platão e Aristóteles. O principal representante desta linha de pensamento foi São Tomás de Aquino.
PENSAMENTO FILOSÓFICO MODERNO
Com o Renascimento Cultural e Científico, o surgimento da burguesia e o fim da Idade Média, as formas de pensar sobre o mundo e o Universo ganham novos rumos. A definição de conhecimento deixa de ser religiosa para entrar num âmbito racional e científico. O teocentrismo é deixado de lado e entre em cena o antropocentrismo ( homem no centro do Universo ). Neste contexto, René Descartes cria o cartesianismo, privilegiando a razão e considerando-abase de todo conhecimento. 
A burguesia, camada social em crescimento econômico e político, tem seus ideais representados no empirismo e no idealismo.
No século XVII, o pesquisador e sábio inglês Francis Bacon cria um método experimental, conhecido como empirismo. Neste mesmo sentido, desenvolvem seus pensamentos Thomas Hobbes e John Locke. 
Conhecido como o percursor do pensamento filosófico moderno, o filósofo e matemático francês René Descartes dá uma grande contribuição para a Filosofia no século XVII ao desenvolver o Método Cartesiano. De acordo com este método, só existe aquilo que pode ter sua existência comprovada.
O iluminismo surge em pleno século das Luzes, o século XVIII. A experiência, a razão e o método científico passam a ser as únicas formas de obtenção do conhecimento. Este, a única forma de tirar o homem das trevas da ignorância. Podemos citar, nesta época, os pensadores Immanuel Kant, Friedrich Hegel, Montesquieu, Diderot, D'Alembert e Rosseau.
O século XIX é marcado pelo positivismo de Auguste Comte. O ideal de uma sociedade baseada na ordem e progresso influencia nas formas de refletir sobre as coisas. O fato histórico deve falar por si próprio e o método científico, controlado e medido, deve ser a única forma de se chegar ao conhecimento.
Neste mesmo século, Karl Marx utiliza o método dialético para desenvolver sua teoria marxista. Através do materialismo histórico, Marx propõe entender o funcionamento da sociedade para poder modificá-la. Através de uma revolução proletária, a burguesia seria retirada do controle dos bens de produção que seriam controlados pelos trabalhadores.
Ainda neste contexto, Friedrich Nietzsche, faz duras críticas aos valores tradicionais da sociedade, representados pelo cristianismo e pela cultura ocidental. O pensamento, para libertar, deve ser livre de qualquer forma de controle moral ou cultural.
ÉPOCA CONTEMPORÂNEA
Durante o século XX várias correntes de pensamentos agiram ao mesmo tempo. As releituras do marxismo e novas propostas surgem a partir de Antonio Gramsci, Henri Lefebvre, Michel Foucault, Louis Althusser e GyorgyLukács. A antropologia ganha importância e influencia o pensamento do período, graças aos estudos de Claude Lévi-Strauss. A fenomenologia, descrição das coisas percebidas pela consciência humana, tem seu maior representante em Edmund Husserl. A existência humana ganha importância nas reflexões de Jean-Paul Sartre, o criador do existencialismo.
DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA
- É comemorado em 15 de novembro o Dia Mundial da Filosofia.

INFERÊNCIAS MEDIATAS – O SILOGISMO
SILOGISMO – é um argumento dedutivo formado por tês proposições categóricas que, no seu conjunto, resultam da racionação de três termos.

Todos os homens são mortais.
Todos os gregos são homens
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Logo: todos os gregos são mortais.

> A premissa maior "Todos os homens são mortais" é a que inclui o termo maior "mortais".
  TERMO MAIOR-  É o predicado da conclusão e indica a premissa maior.

>A premissa menor "Todos os gregos são homens" é a que contém o termo menor
  "gregos".
   TERMO MENOR-  É o sujeito da conclusão e indica a premissa menor.

>A conclusão "Todos os gregos são mortais" contém os termos menor e maior e não
contém o termo médio "homens"   .
   TERMO MÉDIO-Termo que estabelece a relação entre o maior e o menor.
                                  Aparece nas duas premissas e nunca na conclusão.

FORMA DO SILOGISMO
Maneira como os termos se encontram relacionados. Consta do
modo e da figura.

Modo – resulta da combinação entre a qualidade e quantidade das proposições (só há 19 modos válidos). Determina o tipo de proposições que o silogismo contém através da seguinte ordem: premissa maior, premissa menor e conclusão. Nelas diz se é de tipo A, E, I ou O.

Figura – é determinada pela posição da termo médio nas premissas.

REGRAS DO SILOGISMO
REGRAS DOS TERMOS
· 1. ­ O silogismo tem de conter três termos: o maior, o médio e o menor.
· 2. ­ O termo médio não pode entrar na conclusão.
· 3. ­ O termo médio tem que ser tomado, pelo menos uma vez, em toda a sua
extensão.
· 4. ­ Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas.

Distribuição dos termos do juízo categórico:
REGRAS DAS PROPOSIÇÕES
· 5. ­ De duas premissas particulares nada se pode concluir.
· 6. ­ De duas premissas negativas nada se pode concluir.
· 7. ­ A conclusão segue sempre a premissa mais fraca.
· 8. ­ De duas premissas afirmativas não se infere uma conclusão negativa.

FALÁCIAS
- erro de raciocínio ou de argumentação

Falácia formal – inferência inválida com a aparência de válida. Comete-se quando se desrespeita uma das regras de inferência.

A RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA

A racionalidade está ligada às vivências do homem da qual as pessoas têm de deliberar e tomar decisões o que obriga à utilização de regras de pensamento que estão para além das sistematizadas pela lógica formal mas trata-se de regras de outra lógica, designada de lógica informal. Esta empenha-se na resolução de questões ligadas à prática, reconhecendo e valorizando o poder argumentativo da razão como capacidade insubstituível. É por isso, mais abrangente e mais flexível que a formal, aplicando-se ao contexto das ações humanas, onde não reporta a verdades absolutas.
DEMONSTRAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO

Ao analisar uma situação, a fazer uma critica ou a tomar uma atitude, é necessário que fundamentemos as nossas afirmações. Para que sejam credíveis, é fundamental que se apresentem razões ou premissas que possam sustentar as teses ou conclusões.
Há duas vias para esta fundamentação.
- A VIA DEMONSTRATIVA: recorre-se a premissas verdadeiras (inquestionáveis), a partir das quais se chega a uma conclusão verdadeira. Aristóteles classificou estes argumentos como raciocínios analíticos.
-A VIA ARGUMENTATIVA: parte-se de premissas discutíveis. São plausíveis, mas a sua verdade é apenas provável. Aristóteles denominou-os de raciocínios dialéticos, que podem chegar apenas a uma verdade provável.
Para fundamentarmos as nossas afirmações, coexistem duas lógicas: uma rígida e formal, vocacionada para a demonstração de proposições, outra flexível e informal, adequada à argumentação, isto é, à apresentação de razões justificativas das opiniões. Quando são por via demonstrativa a verdade das premissas passa necessariamente à conclusão, quando é por via argumentativa a plausidade das premissas autoriza uma conclusão razoável.

NATUREZA DOS ARGUMENTOS
A demonstração pressupõe uma lógica dedutiva, com argumentos construtivos. Numa dedução válida, a aceitação de premissas verdadeiras implica a aceitação da verdade da conclusão.
Os argumentos dedutivos possuem uma lógica bivalente: uma conclusão é aceite por ser verdadeira ou é recusada por ser falsa. A primeira quando se segue de premissas verdadeiras; é falsa se não apresentar essa sequência.  Verifica-se assim uma dicotomia do verdadeiro/falso, não havendo lugar para o primeiro termo.
A argumentação também utiliza raciocínios não dedutivos, como os indutivos, os analógicos e os argumentos de autoridade. Nestes, a aceitação de premissas verdadeiras não leva a conclusões necessariamente verdadeiras, mas a verdades meramente prováveis.
Deste modo, a argumentação apresenta conclusões não indiscutíveis, mas flexíveis, podendo os recetores concordar ou discordar delas.
Isto se deve ao fato da argumentação usar uma lógica informal, polivalente, que ultrapassa a dicotomia do verdadeiro e do falso e entra em linha de conta com opiniões que se baseiam em critérios de probabilidade e plausibilidade.

OS ARGUMENTOS EM RELAÇÃO AO CONTEXTO
Um argumento demonstrativo só pode ter uma conclusão, por causa do seu caráter impessoal e descontextualizado. A conclusão assume um caráter universal, decorrendo, de modo necessário, das premissas e não se deixa contaminar por elementos subjetivos ou associados ao contexto.
A argumentação é pessoal e contextualizada, onde a verdade da conclusão pode não ser aceite por todos, sendo essa de caráter plausível, depende do envolvimento das pessoas ou pelo contexto em que decorre a argumentação.


CARACTERIZAR A RELAÇÃO ENTRE ARGUMENTAÇÃO E AUDITÓRIO
O discurso argumentativo desenvolve-se num contexto que envolve o orador que tem de exercer uma influência sobre o auditório.
Para que o orador se consiga adaptar ao auditório pode-o fazer argumentando através da:
- demonstração que é um exercício racional de fundamentação que se processa em termos monológicos e impessoais. O sujeito só tem que ter a certeza de que as premissas que escolheu são verdadeiras e que o argumento segue as regras de validade.
- argumentação, a fundamentação processa-se em termos dialógicos, confrontando-se o argumentador com o auditórioque quer convencer. Se o não conseguir fazer, significa que a argumentação foi fraca.
Para persuadir é exigido ao argumentador o uso de argumentos convincentes que, sendo válidos, devem possuir premissas verdadeiras.
Mas, na área das interações sociais e humanas, a verdade das proposições é controversa, ou seja, as premissas podem ser aceites ou recusadas. Aqui a argumentação exerce-se a partir de premissas discutíveis sendo o que conta é o que é verdade para o auditório.
O caráter questionável das premissas apresenta-se como um problema, pois a sua cre-
dibilidade passa pela crítica dos interlocutores que, para as aceitar, têm de lhes reconhe-
cer determinado grau de razoabilidade ou plausibilidade.
Para que uma premissa seja plausível tem de ser escolhida entre os saberes que se inscrevem nas cognições dos interlocutores isto porque a natureza dos conhecimentos e convicções que o auditório possui, condiciona a eficácia da argumentação.

A ação do auditório faz-se sentir também a nível da linguagem. O diálogo argumentativo processa-se através da linguagem natural, forma de comunicação rica em significados e plena de ambiguidades. As palavras combinam-se umas com as outras, dando origem a metáforas cujo efeito só se fará notar se o auditório as compreender e lhes for sensível. O argumentador tem, pois, de se ajustar à linguagem do auditório.

OPINIÃO PÚBLICA -Tendência geral de uma população para partilhar as mesmas ideias acerca de um problema ou conjunto de problemas.
Esta é gerada muitas vezes a partir de preconceitos e tende a simplificar-se, cristalizando-se em estereótipos através dos quais as pessoas expressam as suas ideias. À mistura com conhecimentos verdadeiros, os preconceitos contribuem para instaurar pontos de vista, ideologias e mitos.

OS ELEMENTOS QUE MAIS INFLUENCIAM A OPINIÃO PÚBLICA SÃO:
Emoções coletivas (clima emocional gerado nas grandes manifestações religiosas e políticas).
Líderes e guias de opinião (os primeiros no âmbito da política, da cultura, do espetáculo, da religião ou do desporto, no segundo não se tratam de pessoas “públicas”, mas de pertencentes ao seu círculo de relações pessoais)
Meios de comunicação social
Opúblico é uma forma especial de auditório que, dispondo de uma opinião formada, condiciona diretamente as pessoas e, indiretamente, a ação do orador. Este tem que contar com essa opinião e dela deve partir; a ela terá que se ater no caso de a querer modificar ou controlar; pode servir-se dela, considerando-a sua aliada, ou repudiá-la como terrível adversário. Porém, em caso algum poderá ignorá-la.

DISCURSO ARGUMENTATIVO
Ato comunicativo que apresenta provas ou razões para defesa de uma opinião, as quais visam persuadir o recetor e interferir nas suas atitudes e comportamentos.               
Características do discurso argumentativo:
1.                Exerce-se numa situação comunicativa
2.                Serve-se da linguagem natural e não de símbolos abstratos.
3.                Possui caráter dialógico
4.                As mensagens veiculadas não são neutras
5.                O objetivo é atrair adesão
6.                Integra um conjunto de estratégias
7.                É uma forma problematizadora.

ARGUMENTOS INFORMAIS (OU NÃO-DEDUTIVOS)
TIPOS DE ARGUMENTOS INFORMAIS:
>COM BASE EM EXEMPLOS:
- Parte do particular (do exemplo) para o geral;
- Consiste numa generalização
- Observei na parte e concluí para o todo.
Problema: De quantos exemplos precisamos?
>Um exemplo único não é suficiente para apoiar uma generalização.
>Um conjunto pouco numeroso, atende-se a todos os exemplos.
>Um conjunto muito numeroso, seleciona-se exemplos, constituindo uma amostra significativa que não seja posta em causa por nenhum contraexemplo.
>INDUÇÃO:
·     Completa (Aristóteles)  enumeração de todos os casos.
·     Incompleta (F. Bacon)  enumeração de alguns riscos.

>POR ANALOGIA OU POR SEMELHANÇA
- partindo de dadas semelhanças visíveis, infere outras não visíveis.
- as conclusões são prováveis
- para que os resultados da analogia ganhem credibilidade há que respeitar dois requisitos:
1.            não extrair conclusões a partir de semelhanças raras e secundárias.
2.            não desprezar as diferenças existentes, sobretudo se forem significativas.

POR AUTORIDADE
- testemunho de pessoas ou instituições com conhecimentos seguros acerca de certas matérias
- ao recorrer a estes argumentos, deve evitar-se ser tendencioso, e procurar atender aos requisitos seguintes:
1. Averiguar se as fontes são credíveis e imparciais.
2. Comparar umas com as outras, especialmente se houver discordância entre osdados.
3. Citá-las com o máximo de precisão.

SOBRE CAUSAS– estabelecem relação entre dois fenómenos, um é causa do outro.
Ao indicarem que um fenómeno tem a capacidade de produzir outro, estes argumentos não podem correr o risco de confundir causa com fenómeno coincidente ou correlativo.
Os argumentos causais mais convincentes são aqueles que não se limitam a indicar a causa do fenómeno, mas explicam como é que a causa conduz ao efeito.
Ao tentar persuadir, as pessoas usam muitas vezes de forma incorreta os argumentos informais, cometendo erros que se designam por falácias informais.

FALÁCIAS INFORMAIS - Argumentos em que as premissas não sustentam a conclusão em virtude do seu conteúdo ou de defeitos na linguagem.
Atendendo aos fatores que as originam, é possível classificar as falácias informais em
três tipos:
Falácias da irrelevância- As premissas não são relevantes para sustentar as conclusões.

Falácias da insuficiência de dados - As premissas não fornecem dados suficientes para garantir a verdade das conclusões.

Falácias da ambiguidade - As premissas estão formuladas numa linguagem ambígua.
Falácia do espantalho - Consiste em atribuir a outrem uma opinião fictícia ou em deturpar as suas afirmações de modo a terem outro significado.

FILOSOFIA, RETÓRICA E DEMOCRACIA
BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-FILOSÓFICA
A vida democrática exige reflexão, pois sem ela não é possível ponderar os motivos que conduzem às grandes decisões para o bom andamento das comunidades. Estas precisam de ser debatidas, esclarecidas, fundamentadas. Daí a necessidade das pessoas desenvolverem um espírito participativo e crítico, incentivador de polémicas e discussões conjuntas.
Em correlação com a democracia e a participação exigida ao cidadão, desenvolve-se necessariamente a retórica, como forma de colocar os problemas, de os esclarecer e os resolver.
Surge, então na estrutura vida pública de Atenas, no séc. V a.C., a democracia e a retórica. A democracia, na medida em que o cidadão participava ativamente nas decisões e negócios de interesse para a cidade. A retórica, na medida em que, pela palavra, se convenciam as pessoas a tomar as decisões mais acertadas.
Uma das grandes diferenças ao atual regime democrático é o conceito de cidadão. Enquanto hoje o direito de cidadania se estende a todas as pessoas, na Grécia só alguns eram cidadãos, nos quais, escravos, estrangeiros e mulheres não mereciam essa designação, pelo que lhes era interdita a participação nos negócios da “polis”. Para ser cidadão tinha de obedecer a uma série de condições sendo, só um décimo da população a que detinha o direito de cidadania.

EDUCAÇÃO E RETÓRICA
Caracterizar o conflito entre filósofos e retores no que respeita á formação do cidadão.
Os filósofos e retores competiam pela prioridade na formação dos cidadãos gregos.
Os filósofosprivilegiam a Filosofia como via conducente à verdade, menosprezando a retórica que se exerce apenas com base nas opiniões, pelo contrário, os sofistas elegem a retórica como a prática ajustada à resolução das questões sociais e políticas do tempo.
Estes voltam-se para a educação prática dos jovens, tentando fazer deles bons cidadãos e bons políticos, habilitando-os para o ingresso na vida da "polis". São uma espécie de professores que, andam de cidade em cidade, ganham a vida ensinando temas relativos à moral, política, economia, retórica e Filosofia, e alcançam notável êxito social.
A insistência no subjetivismo e no relativismo fomenta o sentido de liberdade intelectual que permite às pessoas questionar os conceitos e valores do passado e, simultaneamente, estabelecer novas crenças e ideais. A isso se presta a retórica, enquanto técnica poderosa de expor, argumentar e convencer os interlocutores.
O fato de os sofistas negligenciarem a verdade, reduzindo-a a meras opiniões trazendo, fundamentalmente, de positivo a reflexão centrada no homem; a formação cultural; a vocação pedagógica; a radicalidade argumentativa; o desenvolvimento da eloquência (retórica); questionamento da tradição.

OS PERÍODOS DA FILOSOFIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

IDADE ANTIGA
PERÍODO DA FILOSOFIA - 1º PRÉ-SOCRÁTICO ( SÉCULO VIII a.C. - V a.C.)
CONTEXTO HISTÓRICO
Os gregos fundam colônias espalhadas pelo Mediterrâneo (séc. VIII a.C.): Surgimento de um comércio ativo e de uma indústria próspera. A camada social envolvida nas atividades comerciais e industriais é responsável pela substituição da aristocracia pela democracia (séc. VI a.C.). Primeiros legisladores gregos: Dracon, Sólon e Clistenes. Fundação de Roma (séc. VI a.C.).
CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA NO PERÍODO
A Filosofia se desenvolve inicialmente nas colônias gregas da jônia e do sul da Itália peninsular e Sicília. Predomínio do problema cosmológico: busca-se a arché, ou seja, o princípio de todas as coisas, a origem do universo. a physis (o elemento primordial eterno, ou seja, a natureza eterna e em perene transformação) torna-se o objetivo de pesquisa e indagação. os físicos da jônia, também chamados de “fisiólogos”, são os primeiros filósofos gregos que tentam explicar a natureza material e o princípio do mundo e de todas as coisas por meio dos seguintes elementos: água (Tales de Mileto); ar (Anaximenes); apeíron (Anaximandro); devir ou vir-a-ser (Heráclito); ser (Parmênides); ar, água, terra e fogo (Empédocles); Homeomerias (Anaxágoras); átomo (Demócrito); número (Pitágoras).
FILOSOFOS IMPORTANTES
Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes, Anaximandro.
Escola Pitágorica: Heráclito e a Escola eleática: Xenofantes, Parmênides, Zenão, Anaxágoras, Empédocles.
Escola atomista: Leucipo, Demócrito.
PERÍODO DA FILOSOFIA - 2º SOCRÁTICO: séculos V e IV a.C.
CONTEXTO HISTÓRICO
Guerras médicas (490, 480 a.C.). Em 405 a.C., Atenas é derrotada (Guerra do Peloponeso), mas a hegemonia espartana dura pouco (Tirania dos Trinta). Tebas conquista Esparta em 371 a.C., mas enfrenta a oposição de Felipe II, a Macedônia se fortalece. Em 338 a.C., Felipe derrota a liga Pan-helênica em Queronista. Alexandre Magno continua a política expansionista da Macedônia.
CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA NO PERÍODO
O advento do governo democrático em Atenas enseja a formação de cidadãos participativos transformar os habitantes da polis em políticos, indivíduos habilitados a tomar parte e decisões no processo democrático, por meio da paidéia (formação integral e harmônica do homem pela educação). Dessa forma, o centro de interesse se desloca da natureza para o homem. Predomínio do problema antropológico. Os filósofos elegem o ser humano como objeto de pesquisa. A Filosofia engloba um número crescente de problemas e se converte, sobretudo com Aristóteles, em um saber enciclopédico (abarca física, biologia, psicologia, metafísica, ética, política, poética, etc.).
FILÓSOFOS IMPORTANTES
Sofista: Protágoras, Pródico, Hipias, Górgias, Cálicles, Crítias, Trasímaco, Antifone, Sócrates, Platão, Aristóteles.
PERÍODO DA FILOSOFIA - 3º HELENISTICO: SÉCULO IV a.C. - V d.C.
CONTEXTO HISTÓRICO
Fusão da cultura grega com a oriental (Macedônia). Após a morte de Alexandre Magno em 323 a.C., desintegração do império: Ptolomeu (Egito, Arábia e Palestina): sucessores de Antígono (Macedônia e Grécia) e Seleuco (Síria, Mesopotâmia e Ásia Menor). O império Romano fundado em 100 a.C., se consolida. Guerras púnicas (Roma/Cartago). A Grécia e suas colônias passam a integrar o Império Romano (XXXI a.C.). Cristianismo (séc. I d.C.). Apogeu e crise do Império Romano (séc. II e III).
CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA NO PERÍODO
A Filosofia transforma-se em um modo de vida: forte preocupação com a salvação e a felicidade, que passam a ser vistas com possíveis de alcançar de forma individual e subjetiva, por meio de conjuntos de regras morais. Predomínio da ética, q passa a execer a função desempenhada outrora pelos mitos religiosos (etapa helenísitica). Surgimento de pequenas escolas filosóficas. A Filosofia perde seu vigor, tornando-se repetitiva e pouco criativa (etapa romana).
FILOSOFOS IMPORTANTES
Estoicismo: Zenão de Cicio, Cleanto de Assos, Crístipo de Solos, Sêneca, Epíteto, Marco Aurélio.
Epicurismo: Epicuro, Lucrécio.
Ecletismo: Cícero.
Neoplatonico: Plotino.

PERÍODO HISTÓRICO
4. PATRÍSTICA: SÉCULO I A V D.C.
CONTEXTO HISTÓRICO
Os cristãos são perseguidos por decretos de vários imperadores romanos e somente podem praticar livremente sua religião a partir de 313 (Édito de Milão). Em 395, o imperador Teodósio divide o Império Romano em dois: o do Oriente e o do Ocidente.
CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA
Encontro da Filosofia grega com o cristianismo. Primeira elaboração dos conteúdos do cristianismo pelos Padres da Igreja, o que explica o nome patristica dado ao período. Nesse período, a questão central reside na necessidade de conciliação das exigências da razão humana com a revelação divina.
FILOSOFOS IMPORTANTES
Santo Ireneu, Tertúliano, Justino, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio Magno, Gregório de Nissa, Destaque: Santo Agostinho.


IDADE MÉDIA
PERÍODO DA FILOSOFIA
1. PATRÍSTICA: SÉCULO V A VIII
CONTEXTO HISTÓRICO
O Império Romano do Ocidente é invadido pelos bárbaros do norte da Europa, sucumbindo em 476. O Império Bizantino perdura até o fim da Idade Média (1453). Sob o governo de Justiniano é redigido o Corpus Júris Civilis (Corpo do Direito Civil), durante o século VI.
CARACTERÍSTICA DA FILOSOFIA
Na Idade Média, a Filosofia se separa da teologia, porém as duas mantêm relações, podendo-se afirmar que a Filosofia é um instrumento a serviço da teologia. O tema central é a tentativa de conciliar razão e fé. De maneira simplista, é possível dividir a Filosofia medieval em dois grandes períodos: a Filosofia Patrística e a Filosofia Escolástica. A Patrística precede e prepara a Escolástica medieval, e sua principal característica reside no seu caráter apologético: é preciso defender os ideais cristãos perante os pagãos e convertê-los. Presencia-se a retomada da Filosofia platônica, especialmente por Santo Agostinho, bem como do neoplatonismo.
FILOSOFOS IMPORTANTES
Santo Agostinho. Boécio. Dionísio. Pseudo-Areopagita. Próspero. Cassiodoro. Máxmo, O Confessor. Isidoro. Beda. João Damasceno.

PERÍODO DA FILOSOFIA
2. ESCOLÁSTICA: SÉCULO VIII A XV
 CONTEXTO HISTÓRICO
Estabelecimento do Império Carolíngio (séc. VIII). Expansão da cultura árabe (invasão da Espanha em 711). Tratado de Verdun (843) e apogeu da cultura islâmica. Surgimento do feudalismo (sécs. IX–X), após o desaparecimento do Império Carolíngio. Início das Cruzadas (1095-1291) e Cisma do Oriente (séc. XI). Aparecimento das universidades (séc. XII). Declínio do feudalismo e formação das cidades livres (séc. XIII). Criação da Ordem dos Dominicanos e da Ordem de São Francisco. Guerra dos Cem Anos (franceses X ingleses) e Cisma do Ocidente (sécs. XIII e XV). Difusão do ensino científico nas universidades. Tomada de Constantinopla pelos turcos (1453).
 CARACTERISTICA DA FILOSOFIA
O termo escolástica designa a Filosofia ministrada nas escolas cristãs (de catedrais e conventos) e posteriormente nas universidades. A Patrístia retorna a Filosofia platônica; a escolástica retorna a Filosofia aristotélica, nela encontrando seus fundamentos e os elementos necessários para seu desenvolvimento. Santo Tomás de Aquino elabora a síntese magistral do cristianismo com o aristotelismo, fornecendo as bases filosóficas para a teologia cristã: surge a Filosofia aristotélico-tomista. Compatibilizar a fé e a razão continua a ser o problema central da Filosofia escolástica.
FILOSOFOS IMPORTANTES
João Scoto Erígena. Santo Anselmo. Pedro Abelardo, Guilherme e Champeaux.
Escola de Chartres: Fulberto. Bernado. Teodorico. Gilberto de Poitiers. Guilherme de Conches, João de Salisbury. Oto de Freising. Al Farabi. Avicena. Averróis.
Escola de Oxford: Roberto Grosseteste. Roger Bacon. João Duns Escoto. Guilherme do Ockham. Boaventura. Alberto Magno. Santo Tomás de Aquino. Mestre Eckhart. Nicolau de Cusa.

IDADE MODERNA
PERÍODO DA FILOSOFIA
1. RENASCIMENTO: SÉC. XV E XVI
CONTEXTO HISTÓRICO
Transição do feudalismo para o capitalismo mercantil (séc. XV). Ascensão da burguesia e consolidação dos Estados Nacionais (séc. XVI); hegemonia espanhola (sob Carlos V e Felipe II); reinado progressista de Isabel I, na Inglaterra. Grandes invenções: bússola, pólvora, papel, gravura, imprensa. Descobrimento de outras rotas marítimas e de novos continentes. Apogeu do mercantilismo e implantação do sistema colonial. Desenvolvimento das ciências exatas e naturais; formulação do heliocentrismo (Copérnico). Reformas religiosas: luteranismo (Alemanha), calvinismo (França) e anglicanismo (Inglaterra). Renascimento na Itália e em outros países da Europa.
CARACTERISITICA DA FILOSOFIA
A Filosofia medieval se caracteriza por ser religiosa, dogmática, clerical e fundamentada no princípio da autoridade. A Filosofia moderna, por sua vez é profana, crítica, leiga e encontra na razão e na ciência seus pressupostos fundamentais. O Renascimento é marcado por uma profunda revolução antropocêntrica: durante esse período instaura-se uma polêmica contra o pensamento medieval (essencialmente teocêntrico), preparando o caminho para o pensamento moderno, para o qual a natureza física e o homem tornam-se o tema central. Revalorização da Antigüidade clássica (Filosofia greco-romana), buscada em suas fontes originais. Propõe-se um novo modelo de homem – considerado um microcosmo – e um novo modelo de Estado. Grande interesse pela epistemologia (teoria do conhecimento). Galileu propõe o método experimental, assentando as bases da ciência moderna.
FILOSOFOS IMPORTANTES
Pomponazzi. Giordano Bruno. Campanella. Telessio. Erasmo de Roterdã. Bodin. Maquiavel. Thomas Morus. Montaigne.

PERÍODO DA FILOSOFIA
2. RACIONALISMO E EMPIRISMO: SÉC. XVII
CONTEXTO HISTÓRICO
Decadência política da Espanha e predomínio da França: consagração do poder absoluto dos reis, com Luís XIII e Richelieu até o apogeu com Luís XIV. Cromwell (Inglaterra). Desenvolvimento da literatura francesa: Corneille, Racine, Molière, La Fontaine (séc. XVII). Nas artes plásticas, aparecimento do estilo barroco. Fundação da física moderna: Kepler, Galileu, Newton, Gassendi e Boyle.
 CARACTERISITICA DA FILOSOFIA
Formulação dos grandes sistemas filosóficos que traduzem o espírito dos novos tempos, agrupados em duas correntes divergentes: o racionalismo, quer privilegia as verdades da razão, e o empirismo, que destaca a validade do puramente fáctico, isto é, as impressões sensíveis com ponto de partida do conhecimento. Nesse período, a física (Newton) e a química (Lavoisier) se separam da Filosofia.
FILOSOFOS IMPORTANTES
Racionalismo: Descartes. Pascal. Malebranche. Spinoza. Leibiniz.
Empirismo: Francis Bacon. Hobbes. Locke. Berkeley. Hume.

PERÍODO DA FILOSOFIA
3. ILUMINISMO: SÉCULO XVIII

CONTEXTO HISTÓRICO
O Antigo Regime, caracterizado pelo absolutismo, acede a um novo tipo de governo: despotismo esclarecido ou ilustrado – “tudo para o povo, mas sem o povo”. Principais representantes: Maria Tereza e José I (Áustria), Carlos III (Espanha), Frederico II (Prússia), Catarina II (Rússia), Pombal (Portugal). Na França, Luís XVI, derrotado durante a Revolução Francesa (1789). Liberalismo e revoluções burguesas. Revolução Industrial na Inglaterra em 1760 (máquina a vapor). Independência dos Estados Unidos (1776). Inconfidência Mineira (1789). Golpe do 18 Brunário e ascensão de Napoleão Bonaparte (1799). Consolidação do capitalismo industrial e liberal e formação do proletariado. Artes plásticas: barroco, rococó; literatura: início do romantismo.
CARACTERISTICA DA FILOSOFIA
Iluminismo: movimento filosófico, literário e político que visa combater o absolutismo, a influência da Igreja e da tradição, considerando a razão como o único meio para se atingir completa sabedoria. Dessa forma, as idéias modernas tomam fôlego e se expandem: a confiança na razão do século anterior é acompanhada agora por um crescente espírito crítico (racionalismo exacerbado – “luzes da razão” contra as “Trevas da ignorância”). Sonha-se com um homem universal e ideal que concilie natureza e razão, defensor dos direitos humanos e difusor da cultura. A biologia se separa da Filosofia.
FILOSOFOS IMPORTANTES
Iluminismo inglês: Locke
Iluminismo francês: Bayle. D’Alembert. Diderot. La Metrie. Paul Henri Holbach. Helvetius. Condillac. Cabanis. Destutt de Tracy. Voltaire. Montesquieu. Rousseau.
Iluminismo alemão: Tomásio. Wolff. Frederico II. Reimarus. Mendelssohn. Lessing.
Idealismo e criticismo: Immanuel Kant.

IDADE CONTEMPORÂNEA
PERÍODO DA FILOSOFIA
2. SÉCULO XIX
CONTEXTO HISTÓRICO
Primeira metade do século: após a queda de Napoleão, em Waterloo (1815), surge a Restauração, movimento que pertende restabelecer o absolutismo. Independência do Brasil (1822).
Segunda metade do século XIX: na França, Luís Napoleão restabelece o império. Unificação italiana e alemã. Guerra franco-prussiana (1870-1871). Independência das colônias americanas e Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861). República Brasileira (1889). Incorporação de novas fontes de energia (eletricidade, petróleo), inovações técnicas; consolidação do capitalismo. Surgimento do socialismo. Literatura: romantismo, realismo, parnasianismo e simbolismo.
CARACTERISTICA DA FILOSOFIA
Valorização da ciência e extensão do método científico a outras disciplinas. Confiança no progresso indefinido – material e moral – da humanidade. As correntes filosóficas que predominam no período são o positivismo (muito próximo do âmbito científico) e o socialismo em todas as suas formas, no contexto da Filosofia política. Desdobramento do idealismo kantiano. A psicologia (Wundt) e a sociologia (Comte) se separam da Filosofia e se tornam ciências independentes, dando início à formação das ciências humanas.
FILOSOFOS IMPORTANTES
Idealismo: Fichte. Schelling. Shopenhauer. Hegel.
Positivismo: Comte. Taine. Stuart Mill. Spencer.
Evolucionismo: Darwin.
Pragmatismo: Wiliam James. Dewey. Pierce.
Socialismo: Saint-Simon. Fourier. Owen. Proudhon. Feuerbach. Marx. Engels.
Fenomenologia: Brentano. Husserl. Scheller.Hartmann.
Psicanálise: Freud.
Lingüística: Suassure.
Filósofos independentes: Kierkegard. Nietzsche.

PERÍODO FILOSOFICO
2. SÉCULO XX
CONTEXTO HISTORICO
Rivalidade entre potências européias devido às aspirações imperialistas; Paz Armada e alianças entre estados: Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Novas ideologias: comunismo, fascismo e nazismo. Quebra da Bolsa de Nova York (1929). Crises socioeconômicas, exacerbação nacionalista, sistemas de alianças e armamentismo: Segunda Guerra Mundial. Mudanças políticas e territoriais. Criação da ONU (1945). Guerra civil espanhola e ditadura de Franco (1939-1969). Guerra Fria entre Estados Unidos e Rússia. República Popular da China (1949). Descolonização da África e da Ásia e neocolonialismo. Revolução Cubana (1959). Desenvolvimento tecnológico e industrial: neocapitalismo e economia multinacional. Domínio norte-americano. Queda do Muro de Berlim e desagregação dos Estados socialistas. Ascensão e consolidação da economia japonesa. No Brasil: fim da República Velha e governo de Getúlio Vargas; Estado Novo (1937-1945); república populista (1945-1964); golpe militar de 1964; Nova República (1985).
CARACTERISTICA DA FILOSOFIA
Pluralidade de correntes filosóficas: neopositivismo, positivismo lógico, racionalismo transpositivista, fenomenologia, existencialismo, hermeneutia, Filosofia da vida, neoescolástica, neokantismo, estruturalismo, escola de Frankfurt, aquerogenealogia, etc. Ciência como tema central dos filósofos. Destaque para a epistemologia (teoria do conhecimento).
PRINCIPAIS FILOSOFOS
Neopositivismo: Ayer. Wittgenstein. Russell.
Positivismo lógico (círculo de Viena): Schlick. Carnap.Popper.Nagel.Neurath.Reichenbach.
Racionalismo transpositivista: Brunschvicg. Koyré. Poincaré. Meyerson. Piaget. Bachelard.Kuhm.Fezerabend.
Linguistica: Jakobson. Hjelmslev.chomsky.
Fenomenologia: Merleau-Ponty. Martin Buber.
Existencialismo: Heidegger. Karl Jaspers. Jean-Paul Sartre. Albert Camus. Gabriel Marcel.
Hermenêutica: Paul Ricoeur. Gadamer.
Personalismo: Emanuel Mounier.
Filosofia da vida: Bergson, Blondel. Dilhey. Spengler.
Neoescolástica: Jacques Maritain. Garrigou-Lagrange.
Neokantismo: Ernest Cassirer.
Estruturalismo: Claude Lévi-Straus. Roland Barthes.
Marxismo: Gramsci, Georg Lukács. Lucien Goldman. Althusser.
Escola de Frankfurt: Horkheimer. Adorno. Habermas. Benjamin. Marcuse. Erich Fromm.
Arqueogenealogia: Focault. Deleuze. Guattari. Mafesoli.
Filósofos independentes: Teilhard de Chardin. Vladimir Jankélévitch.


O PENSAMENTO FILOSÓFICO TEOLÓGICO MODERNO
TRANSCENDÊNCIA CRISTÃ E IMANÊNCIA MODERNA
Achamos a característica específica do pensamento clássico na solução dualista do problema metafísico. Existem o mundo e Deus, mas são separados entre si: Deus não conhece, não cria, não governa o mundo. Tal dualismo não será negado, mas desenvolvido no pensamento cristão mediante o conceito de criação, em virtude da qual é ainda afirmada a realidade e a distinção entre o mundo e Deus, mas Deus é feito criador e regedor do mundo: o mundo não pode ter explicação a não ser em um Deus que transcende o mundo. O pensamento moderno, ao contrário, finaliza em uma concepção monista-imanentista do mundo e da vida: não somente Deus e o mundo são a mesma coisa, mas Deus é resolvido num mundo natural e humano. Consequentemente, não se pode mais falar em transcendência de valores teoréticos e morais, religiosos e políticos, pois "ser" e "dever ser" são a mesma coisa, o "dever ser" coincide com o "ser".
É evidente que a passagem da concepção dualista (clássica) à concepção teísta (cristã) é um desenvolvimento lógico, que se manifesta especulativamente no desenvolvimento tomista de Aristóteles. Pelo contrário, a passagem da concepção tradicional, teísta, à concepção moderna, imanentista, representa teoricamente uma ruptura. O pensamento moderno, todavia, especialmente o pensamento da Renascença, tem seu precedente lógico no panteísmo neoplatônico, que - após ter-se afirmado como extrema expressão do pensamento clássico - permanece através de todo o pensamento cristão em tentativas mais ou menos ortodoxas de síntese entre cristianismo e neoplatonismo (Pseudo Dionísio, Scoto Erígena, Mestre Eckart, etc.). E, por outra parte, o pensamento tradicional, helênico-escolástico, aristotélico-tomista, encontrará nos grandes valores da civilização moderna (a ciência natural, a técnica, a história, a política) sua integração lógica.
Não se julgue demolir a Filosofia medieval, a metafísica tomista, opondo à sua elementar e fantástica ciência da natureza a ciência moderna com suas grandes aplicações técnicas, pois não é a ciência natural - capaz apenas de resolver os problemas da vida material, mas incapaz de resolver os problemas máximos da vida, espirituais, morais, religiosos - que pode decidir do valor de uma civilização. E a ciência natural da Idade Média não está absolutamente em conexão com o pensamento filosófico medieval; o próprio Tomás de Aquino julgava logicamente que a Filosofia podia ser uma só, em adequação à realidade, ao passo que admitia a possibilidade de uma ciência natural diversa daquela do seu tempo. Além disso, se, de fato, a escolástica pós-tomista, decadente, alimentou suspeitas e combateu longamente contra a nascente ciência moderna, a favor da velha ciência natural aristotélica, a nova escolástica, isto é, o novo tomismo, não teve dificuldade alguma em aceitar toda a ciência natural moderna, e, como tal, porquanto esta representa uma valor infra-filosófico, e, como tal, indiferente à Filosofia, à metafísica.
O valor da ciência moderna não é teorético, especulativo, metafísico, mas empírico e técnico. Tal era também o pensamento do grande fundador da ciência moderna, Galileu Galilei, que afirmava ser o objeto da ciência não as essências metafísicas das coisas, e sim os fenômenos naturais, experimentalmente provados e matematicamente conexos. E destes conhecimentos experimentais e matemáticos de fenômenos naturais derivava ele as primeiras grandes aplicações técnicas da ciência moderna. Aplicações técnicas que possuem também um valor espiritual, o do domínio natural do homem sobre a natureza: contanto que o homem reconheça, naturalmente, acima de si e de tudo, Deus.
O que dissemos da ciência, podemos dizê-lo analogamente da história. A historiografia medieval é, sem dúvida, insuficiente, ingênua, descuidada, pois, era escasso na mentalidade medieval o senso da concretidade e da individualidade, sem o qual não é possível a história verdadeira e própria. Mas a concepção medieval da história, que é a cristã e já teve a sua expressão clássica na Cidade de Deus de Agostinho é perfeitamente conciliável com a indagação histórica moderna, devendo esta última fornecer à primeira a sua rica contribuição de fatos, o seu profundo senso histórico, o seu interesse pela concretidade.
Costuma-se inculpar a civilização medieval por ter aniquilado o estado nacional concreto, orgânico, para construir uma unidade política grandiosa, mas abstrata, uma utopia universalista, como o Sacro Império Romano. No entanto, isto não foi senão uma expressão exterior daquela estrutura profunda que se chama a cristandade: equivalente civil da igreja católica, capaz de abraçar os mais diversos organismos políticos. Nem se deve esquecer que precisamente na comuna medieval se encontra a primeira origem do estado moderno, interiormente organizado e politicamente soberano. E é na Idade Média que se formam as grandes nações modernas. Noutras palavras, é na Idade Média que se formou o Estado distinto da Igreja, mas não leigo, imanentista, ateu, bem como o laicado distinto do clero e organizado civilmente em graus de corporações, mas cristão, católico, romano.
Poder-se-ia fazer notar que tal efetiva distinção e relativa autonomia do Estado (e do laicado) com respeito à Igreja (e ao clero) foram alcançadas através de uma longa luta contra o predomínio e a invasão destes últimos. Mas cumpre ter presente que, na alta Idade Média, no período bárbaro, nos séculos de ferro, a igreja romana e o clero católico desempenharam funções também leigas e profanas, como, por exemplo, a instrução cultural, a assistência hospitalar, e até a agricultura, a indústria, o comércio, as comunicações, etc., pelo fato de que ninguém estava em condições de fazê-lo. E é devido a isso que a civilização não pereceu, e foi conservada para a idade moderna. Aliás, a Igreja católica estava apta e disposta - a prescindir-se das intenções dos homens e de suas fraquezas fatais - a livrar-se desses cuidados estranhos gravosos e perigosos para o seu ministério transcendente e sobrenatural, quando os homens e os tempos estivessem maduros. Basta lembrar, a este respeito, a atitude da Igreja, praticamente liberal, compreensiva e ativa com respeito ao Estado, desde os comunas medievais até às grandes monarquias européias do século XVII e ainda além.

OS PRECEDENTES DO PENSAMENTO MODERNO
Dada a ruptura lógica entre o pensamento tradicional, teísta, e o pensamento moderno, imanentista, não se podem achar causas racionais dessa mudança, mas apenas práticas e morais. Em seguida virá a justificação teórica da nova atitude espiritual, que será constituída por todo o pensamento moderno em seu desenvolvimento lógico.
O grandioso edifício ideal da Idade Média, em que a religião e civilização, teologia e Filosofia, Igreja e Estado, clero e laicado, estavam harmonizados na transcendente unidade cristã, foi, de fato, destruído pelo humanismo imanentista, que constitui o espírito característico do pensamento moderno. Este pensamento começa com a prevalência dada aos interesses e aos ideais materiais e terrenos, com o conseqüente esquecimento dos interesses e ideais espirituais e religiosos; e torna-se completo com a justificação dos primeiros e a exclusão dos segundos. É precisamente o que acontece com os homens inteiramente entregues aos cuidados mundanos: primeiro se esquecem das coisas transcendentes, e, em seguida, querendo ser coerentes, negam-nas.
Entretanto, se não há causas lógicas do pensamento moderno, há, porém, precedentes especulativos, que, valorizados pela nova atitude espiritual, se tornarão fontes especulativas do próprio pensamento moderno. Tais precedentes especulativos podem ser resumidos desta forma: o panteísmo neoplatônico, o aristotelismo averroísta e o nominalismo ocamista, os quais foram-se afirmando contemporaneamente a uma gradual decadência do genuíno pensamento escolástico (racional, teísta, cristão), especialmente tomista, com que se acham em oposição. E tal decadência cultural é acompanhada, por sua vez, pela decadência da Igreja e do Papado - o exílio avinhonês e o cisma do ocidente.
O panteísmo neoplatônico teve a sua primeira grande manifestação, no âmbito do cristianismo, com Scoto Erígena. Tentará afirmar-se de novo na própria época de Tomás de Aquino com Mestre Eckart, o iniciador da mística alemã. E receberá uma nova original elaboração do Humanismo com Nicolau de Cusa, que não pouco deve aos precedentes; e, sobretudo, com Giordano Bruno, o maior pensador da Renascença, o qual depende, por sua vez, de Nicolau de Cusa. O averroísmo latino afirmara na Idade Média a sua famosa doutrina das duas verdades: o que não é verdadeiro em Filosofia pode ser verdadeiro em religião e vice-versa. Em uma idade cristã, como a Idade Média, a afirmação religiosa podia Ter a prevalência sobre a negação filosófica; obscurecendo-se a fé, como na Renascença, devia prevalecer uma concepção anti-cristã, aristotélica ou não. O occamismo marca a conclusão lógica da decadente escolástica pós-tomista, apesar de seus partidários se comprazerem em denominá-la via modernorum. E, ao mesmo tempo, apresenta um elemento fundamental da Filosofia moderna com o seu empirismo e nominalismo. Nicolau de Cusa, Telésio, Bruno, Campanella serão também herdeiros do nominalismo empirista de Occam, que se combina, nos sistemas deles, com uma metafísica aventurosa de cunho particularmente neoplatônico.
Como é sabido, segundo Occam, o conhecimento humano é reduzido ao conhecimento sensível do singular e, portanto, ao nominalismo. Conseqüência lógica e consciente é a destruição da metafísica, que transcende o mundo empírico, sensível, bem como da ciência, que é entretecida de conceitos, impossíveis de nominalismo, de sorte que se esvai da teodicéia, porquanto não se pode provar racionalmente a existência de Deus, nem conhecer a sua natureza; e a psicologia racional, pelo mesmo motivo. E, consequentemente, torna-se impossível a ética racional, porque - sendo desconhecida a essência de Deus e destruída a do homem - a moral fica reduzida a um conjunto de preceitos arbitrários de Deus, que o homem tem que observar por fé. Occam procurará salvar-se do ceticismo - conclusão do seu sistema, com todas as conseqüências práticas - mediante a fé. Entretanto é uma posição insustentável, porquanto a fé - não podendo mais ser um racional obséquio - torna-se uma adesão cega. Em época de religiosidade ainda viva, esse fideísmo ocamista pôde praticamente ficar de pé. Mas ruirá quando a fé vier a faltar, deixando o terreno livre ao empirismo, ao naturalismo, ao nominalismo, ao ceticismo, imanentes ao ocamismo, e que constituirão tão grande parte do pensamento da Renascença, da Reforma e também do pensamento posterior.

OS PERÍODOS DO PENSAMENTO MODERNO
Este grande movimento especulativo, que é o pensamento moderno, naturalmente não se manifesta na sua significação imanentista senão na plenitude do seu desenvolvimento. Portanto, manifesta-se através de uma série de períodos, que se podem historicamente (e dialeticamente) indicar assim:
1.- Antes de tudo a Renascença , em que a concepção imanentista, humanista ou naturalista, é potentemente afirmada e vivida. Trata-se, porém, de uma afirmação ainda não plenamente consciente e sistemática, em que o novo é misturado com o velho. Este, muitas vezes, prevalece, ao menos na exterioridade da forma lógica e literária. A Renascença é preparada pelo Humanismo, e tem como seu equivalente religioso a reforma protestante.
2.- A este primeiro período do pensamento moderno, que, substancialmente, abrange os séculos XV e XVI, se seguem o racionalismo e o empirismo, que abrangem os séculos XVII e XVIII. Após a revolução renascentista e protestante, sente-se a necessidade de uma séria indagação crítica, não para demolir aquelas intuições revolucionárias, mas, ao contrário, para dar-lhes uma sistematização lógica. É o que fará especialmente o racionalismo em relação ao conhecimento racional.
3.- E outro tanto fará e empirismo em relação ao conhecimento sensível. Empirismo e racionalismo são tendências especulativas, gnosiológicas, opostas entre si, como a gnosiologia sensista está certamente em oposição à gnosiologia intelectualista. Entretanto, concordam em um comum fenomenismo, pois, em ambos, o sujeito é isolado do ser e fechado no mundo das suas representações. Não se conhecem as coisas e sim o nosso conhecimento das coisas.
4.- Empirismo e racionalismo, após uma lenta, gradual e silenciosa maturação, encontrarão uma saída prática, social, política, moral, religiosa no iluminismo e, portanto, na revolução francesa (Segunda metade do século XVIII); esta representa a concreta realização do pensamento moderno na civilização moderna. Esse movimento começa na Inglaterra, triunfa na França e se espalha, em seguida, na Alemanha e na Itália.

MITO E FILOSOFIA
Historicamente, a Filosofia, tal como a conhecemos, inicia com Tales de Mileto. Tales foi o primeiro dos filósofos pré-socráticos, aqueles que buscavam explicar todas as coisas através de um ou poucos princípios.
Ao apresentarem explicações fundamentadas em princípios para o comportamento da natureza, os pré-socráticos chegam ao que pode ser considerado uma importante diferença em relação ao pensamento mítico. Nas explicações míticas, o explicador é tão desconhecido quanto a coisa explicada. Por exemplo, se a causa de uma doença é a ira divina, explicar a doença pela ira divina não nos ajuda muito a entender porque há doença. As explicações por princípios definidos e observáveis por todos os que tem razão (e não apenas por sacerdotes, como ocorre no pensamento mítico), tais como as apresentadas pelos pré-socráticos, permitem que apresentemos explicadores que de fato aumentam a compreensão sobre aquilo que é explicado.
Talvez seja na diferença em relação ao pensamento mítico que vejamos como a Filosofia de origem européia, na sua meta de buscar explicadores menos misteriosos do que as coisas explicadas, tenha levado ao desenvolvimento da ciência contemporânea. Desde o início, isto é, desde os pré-socráticos vemos a semente da meta cartesiana de controlar a natureza.
Na história do pensamento ocidental, a Filosofia nasce na Grécia por volta do séc. VI a.C. Por meio de um longo processo histórico, surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional sem, entretanto, romper
bruscamente com todos os conhecimentos do passado. Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos (pré-socráticos) compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizava a Filosofia.
Essa passagem do mito à razão significa precisamente que já havia, de um lado, uma lógica do mito e que, de outro lado na realidade filosófica ainda está incluído o poder mítico. Em outras palavras, a Filosofia grega nasceu procurando desenvolver os Jogos (saber racional) em contraste com o mito (saber alegórico- pensamento sob forma figurada, metáforas)
O nascimento da Filosofia está vinculado principalmente à (ao):
• Surgimento e organização da Polis (Cidade-Estado)
• Revolução provocada pelo surgimento da moeda
(desenvolvimento da economia)
• Surgimento da lei escrita (documentação histórica
• Desmistificação do mundo através das viagens marítimas
Um exemplo da transição do pensamento mítico para a Filosofia cientifica foi na pergunta pioneira de Tales de Mileto,'qual é a origem suprema, a causa última, da origem dos fatos?'. A essa pergunta, ele respondeu de uma forma não muito inteligente, dizendo que os elementos primordiais das coisas são a água, o ar, aterra e o fogo. Logo, ele via que o ar, a terra e o fogo vinham de um fator comum: a água. Então, a origem primeira do mundo e do universo seria a água. Em sua resposta, podemos ver também a presença mitológica. É sabido que a mitologia antiga venerava a água como origem das coisas. Também de Mileto, Aleximandro, que nasceu poucos anos depois de Tales, deu à sua pergunta uma reposta mais convincente. Disse que tudo o que vemos e sentimos é definido, e tudo o que é definido tem uma outra origem, foi formado de outra cousa. Ou seja, o que é determinado também tem causas anteriores. Logo, é algo indeterminado (a que ele chamou de princípio) o que deu origem ao universo. Continuava ele com o seguinte princípio, de que esse indeterminado, devido ao seu eterno movimento, se divide em dois opostos, como, por exemplo, o seco e o úmido. Os três primeiros filósofos foram de Mileto, sendo eles Tales, Aleximandro e Alexímedes. Deles, poucas cousas temos em escrito, e suas obras já não mais existem.

O CONCEITO DE MITO
O pensamento mítico teve início na Grécia, do séc. XXI ao VI a.c.. Nasceu do desejo de dominação do mundo, para afugentar o medo e a insegurança. A verdade do mito não obedece a lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica. É verdade intuída, que não necessita de provas para ser aceita. É portanto uma intuição compreensiva da realidade, é uma forma espontânea do homem situar-se no mundo.
Normalmente, associa-se, erroneamente, o conceito de mito a: mentira, ilusão, ídolo e lenda. O mito não é uma mentira, pois é verdadeiro para quem vive. A narração de determinada história mítica é uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre o qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel.
Como exemplo temos o mito de Pandora, que, enviada aos homens, abre por curiosidade a caixa onde saem todos os males. Pandora consegue fechá-la a tempo de reter a esperança, única forma do homem não sucumbir às dores e aos sofrimentos da vida. Assim, essa narração mítica explica a origem dos males, sendo esta a única maneira de compreender tal realidade.
Não podemos afirmar também que o mito é uma ilusão, pois sua história tem uma racionalidade, mesmo que não tenha uma lógica, por trabalhar com a fantasia. Devemos diferenciar mito e ídolo, pois mesmo existindo uma relação entre eles, o mito é muito "maior" que o ídolo (objeto de paixão, veneração).
Como exemplo temos a história do Super-Homem. Ele representa um ídolo, pois é venerado. Porém, sua história é mítica, devido ao fato de representar todos os momentos de fracassos do ser humano na pele de Clark Kent, e por outro lado, como Super-Homem assume a capacidade de ter sucesso pleno em todas as áreas. Assim, o Super-Homem é um ídolo, porém sua história é mítica, sendo a única forma de representar a incapacidade do pleno sucesso humano, sem frustrações; pois o único que conseguiria tal feito seria um super herói, e já que esse não existe, os seres humanos ficam mais conformados com suas limitações. E "criam" o mito do Super- Homem para poderem "falsamente" confortar-se com sua realidade.
O mito é muito confundido com o conceito de lenda, porém esta não tem compromisso nenhum com a realidade, são meras histórias sobrenaturais, como é o caso da mula sem cabeça e do saci pererê. O mito não é exclusividade de povos primitivos, nem de civilizações nascentes, mas existe em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de compreender a realidade.

O MITO HOJE
Mas, e quanto aos nossos dias, os mitos são diferentes?
O homem moderno, tanto quanto o antigo, não é só razão, mas também afetividade e emoção. Hoje em dia, os meios de comunicação de massa trabalham em cima dos desejos e anseios que existem na nossa natureza inconsciente e primitiva. O mito recuperado do cotidiano do homem contemporâneo, não se apresenta com a abrangência que se fazia sentir no homem primitivo. Os mitos modernos não abrangem mais a totalidade do real como ocorria nos mitos gregos, romanos ou indígenas. Podemos escolher um mito da sensualidade, outro da maternidade, sem que tenham de ser coerentes entre si. Os super-heróis dos desenhos animados e dos quadrinhos, bem como os personagens de filmes ( Rambo e outros), passam a encarnar o Bem e a Justiça, assumindo a nossa proteção imaginária.
A própria ciência pode virar um mito, quando somos levados a acreditar que ela é feita à margem da sociedade e de seus interesses, que mantém total objetividade e que é neutra. A nossa forma de compreensão do mundo dessacraliza o pensamento e a ação ( isto é, retira dele o caráter de sobrenaturalidade), fazendo surgir a Filosofia, a ciência e a religião.
Como mito e razão habitam o mesmo mundo, o pensamento reflexivo pode rejeitar alguns mitos, principalmente os que vinculam valores destrutivos ou que levam à desumanização da sociedade. Cabe a cada um de nós escolher quais serão nossos modelos de vida.

A RUPTURA COM A MITOLOGIA - COSMOLOGIA
A Filosofia retomando as questões postas pelo mito, é uma explicação racional da origem e da ordem do mundo. A Filosofia nasce como racionalização e laicização (influências religiosas) da narrativa mítica, superando-a e deixando-a como passado poético e imaginário. A origem e a ordem do mundo são, doravante, naturais. Aquilo que, no mito, eram seres divinos (Urano, Gaia, Ponto) tornam-se realidades concretas e naturais: céu, terra, mar. Aquilo que no mito, aparecia como geração divina do tempo primordial surge, na Filosofia, como geração natural dos elementos naturais. No início da Filosofia, tais elementos ainda são forças divinas. Não são antropomórficas, mas são divinas, isto é, superiores à natureza gerada por eles e superiores aos homens que os conhecem pela razão; divinas porque eternas ou imortais, porque dotadas do poder absoluto de criação e porque reguladoras de toda a Natureza.
Podemos, dentro de tal contexto, distinguir, teogonia, cosmogonia e cosmologia.
A teogonia narra, por meio das relações sexuais entre os deuses, o nascimento de todos os deuses, titãs, heróis, homens e coisas do mundo natural.
A cosmogonia narra a geração da ordem do mundo pela ação e pelas relações sexuais entre forças vitais que são entidades concretas e divinas. Ambas, teogonia e cosmogonia, são genealogias, são gênesis, nascimento, descendência, reunião de todos os seres criados, ligados por laços de parentescos.
A cosmologia – forma inicial da Filosofia nascente - é a explicação da ordem do mundo, do universo, pela determinação de um princípio originário e racional que é a origem e causa das coisas e de sua ordenação.
A Filosofia, ao nascer como cosmologia, procura ser a palavra racional, a explicação racional, a fundamentação pelo discurso e pelo pensamento da origem e ordem do mundo, isto é, do todo da realidade, do ser.
Os primeiros filósofos não pretenderam explicar apenas a origem das coisas e da ordem do mundo, mas também e sobretudo as causas das mudanças e repetições, das diferenças e semelhanças entre as coisas, seu surgimento, suas modificações e transformações e seu desaparecimento ou corrupção e morte.
De modo sumário, podemos apresentar os traços principais da atitude filosófica nascente:
1) tendência a racionalidade: a razão é tomada como critério de verdade, acima das limitações da experiência imediata e da fantasia mítica
2) busca de respostas concludentes: colocado um problema, sua solução é sempre subentendida à discussão e à análise crítica, o discurso deve comprovar , demonstrar e garantir o que é dito
3) ausência de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de investigação para responder os problemas
4) tendência à generalização, isto é, oferecer explicações de alcance geral percebendo, sob a variação e multiplicidade as coisas e fatos singulares.


A RETÓRICA E A FILOSOFIA
CONCEITO DE RETÓRICA
É a arte de bem falar, de mostrar eloquência diante de um público para ganhar a sua causa. Isto vai da persuasão à vontade de agradar: tudo depende (...) da causa, do que motiva alguém a dirigir-se a outrem. O carácter argumentativo está presente desde o início: justificamos uma tese com argumentos, mas o adversário faz o mesmo: neste caso, a retórica não se distingue em nada da argumentação. (...). Para os antigos, a retórica englobava tanto a arte de bem falar - ou eloquência - como o estudo do discurso ou as técnicas de persuasão até mesmo de manipulação. "
1. A Retórica surgiu na antiga Grécia, ligada à Democracia e em particular à necessidade de preparar os cidadãos para uma intervenção activa no governo da cidade. "Rector" era a palavra grega que significava "orador", o político. No início esta não passava de um conjunto de técnicas de bem falar e de persuasão para serem usadas nas discussões públicas. A sua criação é atribuídaa Córax e Tísis (V a.C), tendo sido desenvolvida pelos sofistas que a ensinaram como verdadeiros mestres. Entre estes destacam-se Górgias e Protágoras.
2. Os sofistas adquiriram durante o século V a.C., grande prestígio como professores de Retórica.
A Retórica era antes de mais o discurso do Poder ou dos que aspiravam a exercê-lo. "O orador, escreve Chaim Perelman, educava os seus discípulos para a vida activa na cidade: propunha-se formar homens políticos ponderados, capazes de intervir de forma eficaz tanto nas deliberações políticas como numa acção judicial, aptos, se necessário, a exaltar os ideaise as aspirações que deviam inspirar e orientar a acção do povo.". O discurso retórico visava a acção, por isso se propõe persuadir, convencer os que escutam da justeza das posições do orador. Este primado da acção leva a maioria dos sofistas,a desprezarem  o conhecimento daquilo que discutiam, contentando-se com simples opiniões, concentrado  a sua atenção nas técnicas de persuasão. 
Foi sobretudo contra este ensino que se opuseram Sócrates e Platão. Ambos sustentaram que a Retórica era a negação da própria Filosofia. Platão, no Górgias e no Fedro, estabelece uma distinção clara entre um discurso argumentativo dos sofistas que através da persuasão procura manipulação os cidadãos, e o discurso argumentativo dos filósofos que procuram atingir a verdade através do diálogo, pois só esta importa.
A Filosofia surge assim como discurso dirigido à razão, e não à emoção dos ouvintes . Esta é aliás a condição primeira para que a Verdade possa ser comunicada. Não se trata de convencer ninguém, mas de comunicar ou demonstrar algo que se pressupõe já adquirido - a Verdade de que o filósofo é detentor.
3. Aristóteles foi o primeiro filosofo a expor uma teoria da argumentação, nos Tópicos e na Retórica, procurando um meio caminho entre Platão e os Sofistas, encarando a Retórica como uma arte que visava descobrir os meios de persuasão possíveis para os vários argumentos. O seu objectivo é o de obter uma comunicação mais eficaz para o Saber que é pressuposto como adquirido. A retórica torna-se numa arte de falar de modo a persuadir e a convencer diversos auditórios de que uma dada opinião é preferível à sua rival
4. É neste quadro definido por Aristóteles que a Retórica irá evoluir, confinando-se à uma arte de compor discursos que primavam pela sua organização e beleza (estética), desvalorizando-se a dimensão argumentativa cultivada pelos sofistas.
Esta arte conheceu um grande desenvolvimento na época helenística. Em Roma, Cícero (político e brilhante orador, do séc. I a.C), sistematizou os fundamentos da retórica, em duas obras fundamentais De Oratore e Orator. Considerou-a uma verdadeira ciência, cujo exercício exige uma enorme cultura. O objectivo do orador era provar, agradar e comover. A retórica divide-se então em várias, culminando neste período com Quintiliano (séc.I d.C),cuja única obra que chegou até nós se chama justamente Institutio Oratoria.   A Retórica torna-se em Oratória, ou seja, na arte de falar bem. 
Durante a Idade Média, a argumentação adquiriu enorme divulgação, nomeadamente entre os clérigos, ocupando um lugar central na educação (fazia parte do Trivium).
5. Na Idade Moderna, a retórica continuou a desfrutar ainda de algum prestígio nos países católicos,recorde-se a este respeito o notável orador que foi Padre António Vieira. A tendência do tempo era todavia outra. A Retórica como arte argumentativa começou a ser completamente desacreditada. Descartes reafirma o primado das evidências sobre os argumentosverosímeis. Na mesma linha, se desenvolve o discurso científico. Não se trata de convencer ninguém, mas de demonstrar com "fatos", "dados", "provas" a Verdade (única e irrefutável).
6. No século XX a Retórica volta a ser retomada, em consequência do generalização das teses relativistas e o descrédito das ideologias. A "Verdade" que os filósofos afirmavam, não pode ser mais admitida como um ponto de partida para qualquer discussão. Antes de a poder afirmar o que quer que seja como verdadeiro, o filósofo deve procurar a adesão de um dado auditório para as suas posições. Todas as Filosofias não passam de opiniões plausíveis que devem ser continuamente demonstradas através de argumentos também eles meramente plausíveis. Neste sentido, toda a Filosofia é um espaço sempre em aberto e susceptível de continuas revisões.
As estratégias argumentativas parecem estar nitidamente secundarizadas, face às técnicas de persuasão usadas pelos novos meios de comunicação de massas, como a publicidade ou a televisão.